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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ OUTRAS CONEXÕES
Em vídeo de 2002, empresário de jogos chama então prefeito de cidade goiana de "malandro" e "vagabundo" após falar com ele ao telefone
Fita mostra ofensa de Cachoeira a prefeito
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Razão do primeiro escândalo do
governo Lula, a gravação da conversa entre o empresário do jogo
Carlos Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e o ex-assessor da Presidência Waldomiro Diniz conserva potencial explosivo. A revelação de trechos da fita está produzindo faísca entre Cachoeira e o
ex-prefeito de Anápolis Ernani
José de Paula (sem partido).
Na fita, Cachoeira chama Ernani de "vagabundo" depois de conversar com ele ao celular. "Que
prefeito malandro", diz. "Pior que
o Waldomiro?", pergunta o assessor José Angelo Begnini.
"Isso aqui é pior, pior. Vagabundo", responde.
O comentário destoa do tom
amistoso do telefonema, iniciado
com um efusivo "Oh, prefeitaço,
se esquece de mim, rapaz?", mas
marcado por indiretas. Por exemplo: Cachoeira cobra de Ernani a
caneta "MontBlanc, de ouro", de
um amigo comum. "A caneta de
ouro dele que sumiu... Tenho que
ficar colado nocê."
A gravação, que reproduz apenas a participação de Cachoeira
na conversa (Ernani estava do outro lado da linha), traz a negociação de dinheiro num ano eleitoral. "Não, nós vamos agilizar essa
verba aí...Amanhã? Estou. Amanhã à tarde. Vamos falar?"
Ambos citam nomes de donos
de laboratórios de Anápolis. Segundo Cachoeira, Ernani pediu
"patrocínio para a recuperação de
praças". A versão de Ernani é outra: "Tínhamos cinco deputados
federais. Queria reunir esses empresários para ajudar todos. Aí,
procurei essa anta do Cachoeira",
diz ele, afirmando que a proposta
fracassou.
Cachoeira, por sua vez, justifica
as expressões nada gentis. "A gente fez a coleta de lixo na cidade e
levou um cano de seis meses. Você sabe que ele foi afastado da prefeitura, né?", afirma Cachoeira,
referindo-se à cassação do mandato de Ernani por desvio de verba em novembro de 2003.
Na conversa, Cachoeira também comenta ter visto Ernani ao
lado do então ministro da Saúde,
José Serra, candidato do PSDB à
Presidência naquele ano na inauguração de um laboratório. "Ernani, Ernani, pára de falar que está apoiando o Serra", diz, concluindo: "Essa candidatura do
Serra está mais do que enterrada".
Graças à conversa, é possível
identificar a data da gravação que,
parcialmente divulgada em 2004,
levou à saída de Waldomiro da assessoria da Casa Civil. Ainda durante o telefonema, Cachoeira faz
referência à visita de Fernando
Henrique a Anápolis naquele dia
e cita a inauguração de um laboratório uma semana antes.
Só depois do telefonema que
Waldomiro chega. O primeiro assunto da pauta é a quitação do
contrato de seguro entre Cachoeira e a Interbrazil. Essa era uma
condição legal para que Cachoeira obtivesse o controle do jogo no
bicho. Depois, Waldomiro pede
propina a Cachoeira. Segundo cópias de e-mail em poder da CPI, a
Interbrazil apoiou a campanha do
PT em 2004 a pedido de Adhemar
Palocci, diretor da Eletronorte e
irmão do ministro da Fazenda,
Antonio Palocci. O presidente da
empresa confirma a ajuda, mas
nega o pedido de Adhemar.
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