São Paulo, domingo, 19 de novembro de 2006

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Painel

Renata Lo Prete - painel@uol.com.br

Embrulho

O PT encontrou um discurso para justificar a resistência em abrir mão de parte significativa dos cargos que ocupa na máquina federal em benefício de aliados, notadamente o PMDB. Trata-se da tese da "governabilidade social", vocalizada na reunião com Lula e ouvida aqui e ali de integrantes do partido. Segundo ela, o PT, por sua ligação histórica com os movimentos sociais, "fundamentais" para a reeleição do presidente, não poderia ser medido apenas por seu espaço no Congresso -menos de 20%. À primeira vista inofensiva, essa conversa embute uma mensagem algo ameaçadora: se Lula tirar "demais" do PT, arranjará "confusão" com os movimentos sociais.

Abre-alas. O evento inaugural dos movimentos sociais para exigir de Lula uma "guinada à esquerda" no segundo mandato acontecerá no dia 4 de dezembro na capital paulista, com João Pedro Stédile, do MST, puxando o refrão "fora Meirelles". Este, no entanto, deve continuar à frente do Banco Central.

Reprise. Um aliado que teve assento privilegiado na montagem do primeiro governo observa que Lula está, novamente, "tentando comer o PMDB pelas bordas", método fadado ao fracasso porque, no final, obrigará o presidente a pagar por uma mercadoria que já chegará vencida.

Orixás. Um PhD em Lula explica por que é incorreto usar o xadrez como metáfora para a montagem do ministério: "O Lula joga búzios".

Casa Cor. O presidente ainda não escolheu o primeiro escalão, mas já definiu uma obra para o segundo mandato. Depois da ampla reforma recém-concluída no Palácio da Alvorada, vem aí a do Planalto. Lula tem dito a quem o visita que a situação de seu local de trabalho é "precária".

Sangue. O mau humor de Marco Aurélio Garcia com os jornalistas em público não é nada perto do que o assessor presidencial tem falado contra a imprensa em privado. "E falado para as pessoas erradas", adverte um petista graúdo, que teme o efeito bumerangue de tanta beligerância.

Vida real. A Eurasia Group prevê para março de 2007 o início do processo de concessão de sete rodovias federais à iniciativa privada. "Na contramão da retórica de campanha, Lula buscará maior participação privada em vários setores", escreve em boletim Christopher Garman, diretor para a América Latina da empresa de consultoria.

Ciranda 1. A Petrobras estuda a possibilidade de firmar uma parceria com o Atlético Mineiro, time presidido por Ricardo Guimarães, que vem a ser proprietário do BMG, banco que ganhou fama com a descoberta do valerioduto.

Ciranda 2. Quem se empenha sobremaneira pelo negócio Petrobras-Atlético é Virgílio Guimarães, o deputado petista que apresentou Marcos Valério a Delúbio Soares.

Plataforma. Aldo Rebelo (PC do B-SP) pretende bancar proposta "definitiva" para o salário dos deputados. Em campanha por um novo mandato, o presidente da Câmara espera apenas receber estudo encomendado à FGV para definir cortes e destinar a sobra dos recursos para o reajuste.

Boca-de-urna. Deputados têm sido bombardeados com telefonemas dos colegas postulantes à vaga de ministro do TCU. O único discreto é justamente o que atrai a simpatia de muitos parlamentares: o secretário-geral da Mesa da Câmara, Mozart Viana.

Nem pensar. PT e PMDB não querem saber do ex-prefeito de Salvador Antonio Imbassahy no secretariado de Jaques Wagner. Alegam que o PSDB, adversário (só de fachada) na campanha, não pode se dar bem agora.

Tiroteio

Quem parece que perdeu toda a gravidade no governo foi o doutor Thomaz Bastos.


De EDUARDO GRAEFF , secretário-geral da Presidência na gestão FHC, sobre o ministro da Justiça, segundo quem é preciso ver se o caso do dossiê contra José Serra "realmente tem uma grande gravidade ou se não tem uma grande gravidade".

Contraponto

Receita de pizza

Na morna sessão da CPI dos Sanguessugas em que foi ouvido o ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PT), o combativo deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) fazia perguntas leves enquanto o senador Sibá Machado (AC), ponta-de-lança do governo em dias tensos, distribuía apertos de mão aos oposicionistas presentes.
Fora da sala, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) dava entrevista quando viu a petista Ideli Salvatti (SC):
-Se a senadora está saindo, não vai acontecer nada hoje-, brincou Delgado, alinhado com a oposição.
-Estou saindo porque você está aqui fora. Se voltar para lá, eu volto também-, retrucou Ideli.
-Não se preocupe. Hoje vou entrar mudo e sair calado!


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