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Deputados negam influência de lobbies
Só os pefelistas Abelardo Lupion e Alberto Fraga disseram que orientam suas atividades de acordo com empresas de que receberam
"Não tenho compromisso assinado com ninguém", diz Luiz Carreira, da comissão de Meio Ambiente, que recebeu da Aracruz Celulose
DA REPORTAGEM LOCAL
A maioria dos deputados ouvidos pela Folha disse que não
atua na Câmara de acordo com
os interesses dos doadores de
suas campanhas.
"Não tenho compromisso assinado com ninguém", disse
Luiz Carreira (PFL-BA), que
recebeu R$ 125 mil da Aracruz
Celulose e é membro titular da
comissão de Meio Ambiente.
A Folha ouviu 27 dos 36 parlamentares citados que relataram projetos ou participaram
de comissões de interesse dos
seus financiadores. A reportagem não conseguiu localizar os
outros nove congressistas.
Apenas dois disseram que
orientam suas atividades parlamentares de acordo com as
empresas que lhes bancam as
campanhas: Abelardo Lupion
(PFL-PR), presidente da comissão de Agricultura da Câmara, e Alberto Fraga (PFL-DF), líder da "bancada da bala"
-políticos financiados por empresas de armamentos.
"Sou um lobista do setor rural e tenho muito orgulho disso", afirma Lupion. "O lobby é
obrigação. A doação de campanha é investimento naquele
que conhece o setor e vai ser
benéfico para melhorá-lo."
Fraga se mostra até desapontado com os fabricantes de armamentos. "O lobby das armas
deveria me dar pelos menos
R$ 1 milhão na campanha e não
deu porcaria nenhuma."
Outros deputados dizem
que, embora não pautem sua
atuação pelo interesse empresarial, entendem que as empresas optem por deputados ligados a setores específicos.
"Seria incoerente se eu não
fosse bancado pela área de
transporte", diz Carlos Santana
(PT-RJ), que recebeu R$ 140
mil da Companhia de Navegação da Amazônia, e é membro
da comissão de transportes.
"As empresas de mineração
têm interesse em que tenham
deputados que entendam do
problema", diz o deputado José
Carlos Aleluia (PFL-BA), que
recebeu R$ 150 mil do Instituto Brasileiro de Siderurgia e é
membro da comissão de Minas
e Energia. "Tenho independência. O Brasil precisa se habituar
às doações legais e gastar mais
tempo com as ilegais."
"Não sou fumante, mas a minha região depende da produção do tabaco. O dia que tiver
outra coisa para que ela possa
sobreviver, vou defender", diz
Luis Carlos Heinze (PP-RS),
que recebeu R$ 100 mil da
Alliance Tabaco.
O argumento é semelhante
ao utilizado pela assessoria do
deputado Luiz Carlos Hauly
(PSDB-PR): "O deputado se
orienta pelo interesse da região
e da sociedade como um todo".
Walter Pinheiro (PT-BA)
pondera que a discussão leva
obrigatoriamente ao tema do
financiamento público de campanha. "O conflito se instala a
partir de um erro de origem",
afirma. "Se você pegar a minha
prestação de contas e as matérias que relato, vai ter conflito
de interesse de ponta a ponta,
como todos os deputados."
Bancada do não
O deputado José Eduardo
Cardozo (PT-SP), Julio Semeghini (PSDB-SP) e Max Rosenman (PMDB-PR), que fizeram
parte da CPI que investigou a
Serasa, afirmam que a doação
não ditou a atuação deles na comissão. "A CPI já acabou faz
muito tempo, eu era suplente
da CPI e fui a pouquíssimas
sessões. Não há nenhuma situação pendente que eu pudesse favorecer ou prejudicar a empresa", afirma Cardozo.
Colbert Martins (PPS-BA)
recebeu da indústria farmacêutica e relatou projetos de interesse do setor. Porém, diz que
seu trabalho "é analisar o projeto em si, se está correto juridicamente, e não o mérito. Se tiver que votar contra projetos
da indústria, voto".
Esse argumento é semelhantes ao dos deputados Vander
Loubet (PT-MS), Gonzaga Patriota (PSB-PE), Fernando
Ferro (PT-PE), Mauricio
Rands (PT-PE), Raul Jungmann (PPS-PE), Ciro Nogueira
(PP-PI), Gustavo Fruet (PSDB-PR), Walter Feldmann (PSDB-SP) e Mario Negromonte (PP-BA). O último, porém, faz uma
ressalva. "Esse negócio de
lobby é perigoso. Por isso defendo que o deputado seja bem
remunerado para ser incorruptível e não precisar defender interesses empresariais."
O deputado Paes Landim
(PFL-PI) foi membro da CPI
dos Combustíveis e recebeu recursos da Petróleo Ipiranga.
Disse que a doação se deve a
uma relação familiar antiga e
que não houve nenhum conflito de interesses na comissão.
Ressalta, porém, que a Ipiranga
tinha interesse na investigação.
"Eles se queixavam de que havia muito posto com combustível ilegal, mas eu não sabia disso quando estava na comissão",
afirma Landim. O deputado
Rodrigo Maia (PFL-RJ) diz que
também recebeu da Ipiranga
por conhecer membros da família dona da empresa.
O deputado João Rocha (PFl-BA), que ganhou dinheiro da
CBF, também afirma que não
há nada de ilegal na sua doação.
"Se for eticamente condenável,
o presidente da República não
pode receber de ninguém."
João Campos (PSDB-GO),
que recebeu e relatou projetos
de interesse da indústria de armamentos, também diz não ver
problema. "Sou funcionário
público, não tenho como bancar a minha campanha. Daqui a
pouco as empresas não fazer
doação em vista do que a gente
está discutindo aqui."
(RV e LB)
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