São Paulo, domingo, 19 de novembro de 2006

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Deputados negam influência de lobbies

Só os pefelistas Abelardo Lupion e Alberto Fraga disseram que orientam suas atividades de acordo com empresas de que receberam

"Não tenho compromisso assinado com ninguém", diz Luiz Carreira, da comissão de Meio Ambiente, que recebeu da Aracruz Celulose

DA REPORTAGEM LOCAL

A maioria dos deputados ouvidos pela Folha disse que não atua na Câmara de acordo com os interesses dos doadores de suas campanhas.
"Não tenho compromisso assinado com ninguém", disse Luiz Carreira (PFL-BA), que recebeu R$ 125 mil da Aracruz Celulose e é membro titular da comissão de Meio Ambiente.
A Folha ouviu 27 dos 36 parlamentares citados que relataram projetos ou participaram de comissões de interesse dos seus financiadores. A reportagem não conseguiu localizar os outros nove congressistas.
Apenas dois disseram que orientam suas atividades parlamentares de acordo com as empresas que lhes bancam as campanhas: Abelardo Lupion (PFL-PR), presidente da comissão de Agricultura da Câmara, e Alberto Fraga (PFL-DF), líder da "bancada da bala" -políticos financiados por empresas de armamentos.
"Sou um lobista do setor rural e tenho muito orgulho disso", afirma Lupion. "O lobby é obrigação. A doação de campanha é investimento naquele que conhece o setor e vai ser benéfico para melhorá-lo."
Fraga se mostra até desapontado com os fabricantes de armamentos. "O lobby das armas deveria me dar pelos menos R$ 1 milhão na campanha e não deu porcaria nenhuma."
Outros deputados dizem que, embora não pautem sua atuação pelo interesse empresarial, entendem que as empresas optem por deputados ligados a setores específicos.
"Seria incoerente se eu não fosse bancado pela área de transporte", diz Carlos Santana (PT-RJ), que recebeu R$ 140 mil da Companhia de Navegação da Amazônia, e é membro da comissão de transportes.
"As empresas de mineração têm interesse em que tenham deputados que entendam do problema", diz o deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), que recebeu R$ 150 mil do Instituto Brasileiro de Siderurgia e é membro da comissão de Minas e Energia. "Tenho independência. O Brasil precisa se habituar às doações legais e gastar mais tempo com as ilegais."
"Não sou fumante, mas a minha região depende da produção do tabaco. O dia que tiver outra coisa para que ela possa sobreviver, vou defender", diz Luis Carlos Heinze (PP-RS), que recebeu R$ 100 mil da Alliance Tabaco.
O argumento é semelhante ao utilizado pela assessoria do deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR): "O deputado se orienta pelo interesse da região e da sociedade como um todo".
Walter Pinheiro (PT-BA) pondera que a discussão leva obrigatoriamente ao tema do financiamento público de campanha. "O conflito se instala a partir de um erro de origem", afirma. "Se você pegar a minha prestação de contas e as matérias que relato, vai ter conflito de interesse de ponta a ponta, como todos os deputados."

Bancada do não
O deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), Julio Semeghini (PSDB-SP) e Max Rosenman (PMDB-PR), que fizeram parte da CPI que investigou a Serasa, afirmam que a doação não ditou a atuação deles na comissão. "A CPI já acabou faz muito tempo, eu era suplente da CPI e fui a pouquíssimas sessões. Não há nenhuma situação pendente que eu pudesse favorecer ou prejudicar a empresa", afirma Cardozo.
Colbert Martins (PPS-BA) recebeu da indústria farmacêutica e relatou projetos de interesse do setor. Porém, diz que seu trabalho "é analisar o projeto em si, se está correto juridicamente, e não o mérito. Se tiver que votar contra projetos da indústria, voto".
Esse argumento é semelhantes ao dos deputados Vander Loubet (PT-MS), Gonzaga Patriota (PSB-PE), Fernando Ferro (PT-PE), Mauricio Rands (PT-PE), Raul Jungmann (PPS-PE), Ciro Nogueira (PP-PI), Gustavo Fruet (PSDB-PR), Walter Feldmann (PSDB-SP) e Mario Negromonte (PP-BA). O último, porém, faz uma ressalva. "Esse negócio de lobby é perigoso. Por isso defendo que o deputado seja bem remunerado para ser incorruptível e não precisar defender interesses empresariais."
O deputado Paes Landim (PFL-PI) foi membro da CPI dos Combustíveis e recebeu recursos da Petróleo Ipiranga. Disse que a doação se deve a uma relação familiar antiga e que não houve nenhum conflito de interesses na comissão. Ressalta, porém, que a Ipiranga tinha interesse na investigação. "Eles se queixavam de que havia muito posto com combustível ilegal, mas eu não sabia disso quando estava na comissão", afirma Landim. O deputado Rodrigo Maia (PFL-RJ) diz que também recebeu da Ipiranga por conhecer membros da família dona da empresa.
O deputado João Rocha (PFl-BA), que ganhou dinheiro da CBF, também afirma que não há nada de ilegal na sua doação. "Se for eticamente condenável, o presidente da República não pode receber de ninguém."
João Campos (PSDB-GO), que recebeu e relatou projetos de interesse da indústria de armamentos, também diz não ver problema. "Sou funcionário público, não tenho como bancar a minha campanha. Daqui a pouco as empresas não fazer doação em vista do que a gente está discutindo aqui." (RV e LB)


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