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Divergências ameaçam reforma política
Prioridade do governo esbarra na falta de entendimento entre os partidos; líder diz que discussões ficarão para 2007
Projeto que aguarda ser votado tem como pontos principais o financiamento público exclusivo e a adoção de votação em lista fechada
RANIER BRAGON
SÍLVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Vinte dias depois de Luiz
Inácio Lula da Silva anunciar a
reforma política como prioridade de seu segundo mandato,
as divergências sobre o assunto
permanecem inalteradas na
Câmara, o que sinaliza grandes
dificuldades para uma aprovação em curto período.
Partidos governistas e de
oposição não se entendem sobre os principais pontos, característica que acompanha o tema desde o início da tramitação
da principal proposta, em 2001.
"Ninguém está discutindo isso ainda. Há muitos elementos
para que avancemos, mas só a
partir da próxima legislatura",
diz o líder do governo, Arlindo
Chinaglia (PT-SP), que joga
água fria sobre a tese de que algo mudaria ainda nesta legislatura, que termina em janeiro.
No discurso que fez no dia
em que foi reeleito, Lula disse
que era importante "um consenso de todos os partidos políticos". "Vamos discutir, logo no
começo do mandato, a reforma
política que o Brasil tanto necessita", afirmou.
Conhecedor dos meandros
do Congresso depois de oito legislaturas como deputado, o ex-ministro e líder do PDT, Miro
Teixeira, resume o clima entre
os partidos: "Tem que saber
qual é a proposta. Porque o pior
castigo que você pode impor a
quem fala de reforma política é
dar duas horas à pessoa para falar da reforma que ela planeja.
A expressão é vaga, superficial e
normalmente formulada por
pessoas que não se dedicaram
ao estudo sobre o assunto".
O principal projeto que está
pronto para votação na Câmara
prevê dois pontos centrais. O financiamento público exclusivo
para campanhas e a adoção de
votação em listas fechadas de
candidatos preestabelecidas
pelos partidos, não em candidatos individuais, como hoje.
"O que está unindo todo
mundo é o financiamento público", assegura Alexandre Cardoso (RJ), líder da bancada do
PSB. "O financiamento público, por si só, não muda nada.
Além de usar do caixa dois, o
sujeito vai usar o dinheiro público", rebate Luciano Castro,
líder do recém-criado PR (fusão do PL com o Prona).
O financiamento público ganhou força com o mensalão, esquema que se utilizou à farta de
dinheiro eleitoral não declarado -caixa dois. Os defensores
do financiamento público exclusivo dizem que a medida evitaria o caixa dois e que candidatos ficassem dependentes politicamente dos financiadores.
Segundo os cálculos mais recentes dos entusiastas da medida, o financiamento público resultaria em gasto de cerca de
R$ 800 milhões por eleição.
Nestas eleições, entretanto, só
os gastos declarados dos candidatos ao Congresso (deputados
federais e senadores) ficaram
em R$ 480 milhões.
Lista fechada
Já os defensores da lista fechada argumentam que elas
fortaleceriam os partidos. "É
fundamental instituir a votação em listas partidárias, como
ocorre em democracias de diversos lugares do mundo. Isso
qualifica o Parlamento do ponto de vista eleitoral, porque deixa de ser uma escolha entre individualidades e passa a ser
uma escolha mais programática", escreveu em artigo na Folha o deputado Henrique Fontana (RS), líder do PT.
"Lista fechada é a criação do
deputado biônico", avalia Miro
Teixeira, que vocaliza a posição
daqueles que acham que a lista
servirá apenas para fortalecer
as cúpulas partidárias.
Apesar do discurso de apoio à
reforma, a avaliação dos oposicionistas é que dificilmente haverá consenso. O líder do
PSDB, Jutahy Júnior (BA), diz
considerar o assunto "prioritário". Mas o tema divide os tucanos, especialmente sobre o voto em lista. Na bancada, a maioria apóia o financiamento público. Nos bastidores, queixam-se que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) não aceita as propostas.
O líder do PFL na Casa, Rodrigo Maia (RJ), disse que o
ideal seria o voto distrital, outro modelo de difícil implantação. Nesse caso, o país é dividido em distritos eleitorais, que
elegem, cada um, um deputado.
Mas, segundo o pefelista, o partido caminha para um acordo
em torno da "lista metade fechada e metade como é hoje".
O presidente do PPS, Roberto Freire (PE), afirma que o
partido tem uma posição sobre
a reforma, "mas não há unanimidade". O PPS defende o voto
distrital misto, Freire, porém,
reclama da questão da fidelidade dos parlamentares aos partidos. "Essa idéia é policialesca."
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