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Anunciada por Lula, reforma foi barrada pela base do governo
Acordo entre José Dirceu e PL, PTB e PP, que davam apoio ao petista no Congresso, impediu a votação no primeiro mandato
Projeto, que foi defendido pelo presidente na eleição, não deve ser votado neste
ano, apesar de pedido de urgência assinado por líderes
MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao invocar, durante toda a
campanha eleitoral, a reforma
política como a salvação de todos os males do atual sistema, o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva ignorou a realidade do
Congresso e omitiu informações relevantes do eleitorado.
Foram partidos da base aliada de Lula -PL, PTB e PP- que
impediram a votação da reforma no primeiro mandato. Na
ocasião, os partidos ameaçaram deixar a base caso o governo insistisse na votação do projeto que contemplava o financiamento público de campanhas, o fim de coligações proporcionais e o voto em lista.
José Dirceu, então ministro
da Casa Civil, trabalhava para
aprovar a reeleição dos presidentes do Senado, José Sarney,
e da Câmara, João Paulo Cunha. Precisava da base. Um
acordo entre os partidos e Dirceu adiou a votação da reforma,
fato hoje admitido por aliados.
Já Geraldo Alckmin (PSDB)
passou a campanha pregando o
voto distrital misto, item que
está fora do único projeto com
chances de ser aprovado no
Congresso. "No Brasil não vejo
necessidade de distrital misto.
Mais de 50% do Congresso sequer compreende o que é isso",
disse o deputado João Almeida
(PSDB-BA), o especialista sobre reforma na bancada.
A superficialidade do discurso dos políticos incomoda especialistas. Doutor em ciência política pela Universidade de
Harvard e professor emérito da
UFMG, Fábio Wanderley Reis,
68, diz que gostaria de ver um
comprometimento real pela
aprovação da reforma. "Seria
bom se isso fosse verbalizado
de maneira vigorosa e se desse
vivacidade ao tema", afirma.
Texto pronto
Pronto para ir ao plenário da
Câmara, o projeto de lei 2679/
03 foi relatado pelo deputado
Ronaldo Caiado (PFL-GO). Os
líderes de todos os partidos, inclusive PT e PSDB, assinaram
requerimento de urgência no
início de agosto para tentar votar logo depois das eleições. De
novo, a idéia não vai prosperar.
O projeto estabelece o financiamento público exclusivo de
campanhas eleitorais e a lista
fechada (o eleitor vota na legenda, que organiza uma ordem dos candidatos). Conta
com a simpatia de PT, PSDB,
PFL e parte do PMDB.
O tema fidelidade partidária
ficou de fora, mas pode ser ressuscitado no plenário. Os parlamentares acreditam que a lista
impõe a fidelidade, pois obriga
o parlamentar a buscar um partido com o qual se identifique.
Aquele que migrar entre várias
legendas vai para os últimos lugares da lista. "Fidelidade não é
uma cláusula em nenhum lugar
do mundo", diz Caiado.
A possibilidade de votação da
reforma ainda neste ano é vista
com descrédito por especialistas, sobretudo pelo elevado
grau de deterioração da imagem do Congresso e pelo acirramento entre PT e PSDB.
Para garantir a aprovação da
reforma seria preciso reunir o
apoio do PMDB. O presidente
da legenda, Michel Temer (SP),
defende mudanças, mas diz ter
dúvidas sobre a eficácia do financiamento público. Ele não
crê na votação neste ano.
Para votar no plenário o texto relatado por Caiado, PFL e
PSDB fizeram uma exigência:
que a cláusula de barreira permaneça de 5%, e não caia para
2% como consta no projeto.
A cláusula determina que só
terão tempo de TV e verbas do
fundo partidário as legendas
que alcançarem 5% dos votos
válidos (para a Câmara) e 2%
em pelo menos nove Estados.
O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), disse à
que se houver acordo entre líderes incentivará a votação da
reforma ainda neste ano.
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