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CNJ afirma que país só tem 11.846 telefones grampeados
Dados referem-se apenas a dois meses e não incluem informações dos TJs de 5 Estados
"Os dados desmentem o que é noticiado por aí", diz corregedor do CNJ; CPI reage à diferença dos números em relação aos do ano passado
FELIPE SELIGMAN
MARIA CLARA CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O primeiro balanço do CNJ
(Conselho Nacional de Justiça)
sobre grampos legais no país
revela que ao menos 11.846 telefones estavam sendo monitorados em outubro. Está "dentro
das expectativas", disse o corregedor do órgão, Gilson Dipp.
À primeira vista, os números
destoam dos apresentados pela
CPI dos Grampos: as operadoras de telefonia informaram à
CPI que foram feitas cerca de
375 mil escutas telefônicas com
autorização judicial em 2007,
como revelou a Folha.
"Os dados desmentem o que
é noticiado por aí como uma
grande verdade", disse Dipp.
"Esses números são absolutamente razoáveis para um país
de dimensões continentais,
com duas Justiças com competência penal". Existem no país,
segundo a Anatel, cerca de R$
143,3 milhões de celulares e
39,4 milhões de telefones fixos.
Integrantes da CPI explicam
as razões das diferenças. Os dados da comissão são de todo o
ano de 2007, e os da Justiça levam em conta os telefones monitorados só nos meses de setembro e outubro deste ano.
Também há uma diferença
metodológica nos levantamentos: se um telefone interceptado teve cinco pedidos de renovação, as operadoras relataram
à CPI cinco escutas. Já o CNJ
não contabiliza as renovações.
Apesar das diferenças de período e de metodologia, a divulgação de números diferentes
gerou mal-estar entre o CNJ e
a CPI -que revelou a existência de diversas irregularidades,
como grampos ordenados por
varas de família (a escuta só pode ser usada em investigação
criminal) e grampos contínuos
sem pedidos de prorrogação.
Segundo Dipp, os números
divulgados ontem são os "dados oficiais da Justiça brasileira": "Só posso falar em interceptação legal. As demais interceptações são ilegais, e isso diz
respeito à polícia e ao Ministério Público, jamais à Justiça".
Questionado sobre o contraste,
Dipp disse que desconhece a
metodologia das telefônicas.
O presidente da CPI, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), afirmou que pedirá um levantamento às operadoras sobre os grampos de 2008 -para
ele, os dados relativos a 2007
são confiáveis: "Um número é
baseado em cima de dois meses, o que não quer dizer absolutamente nada com relação
aos números de todo o ano passado", disse. "A CPI só trabalhou e trabalha, infelizmente,
com o número fornecido pelas
operadoras, pois fomos proibidos de termos outros dados".
Coleta
Os dados do CNJ foram colhidos em setembro e outubro
deste ano. Isso não significa
que as linhas foram grampeadas apenas nestes dois meses:
podem existir telefones que estão sob vigilância desde 2007.
Do número total divulgado
ontem, 5.869 telefones foram
grampeados por ordem da Justiça Federal. Cerca de 40,5%
(2.374) referem-se a processos
que correm no TRF (Tribunal
Regional Federal) da 3ª Região,
que abrange os Estados de São
Paulo e Mato Grosso do Sul.
O restante (5.997 aparelhos)
são linhas envolvidas em investigações na Justiça estadual.
O CNJ não recebeu informações das Justiças estaduais de
São Paulo, Tocantins, Alagoas,
Paraíba e Mato Grosso do Sul.
Também não recebeu informações sobre grampos do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça.
As corregedorias dos TJs de
Tocantins e de Alagoas dizem
que os dados sobre interceptações foram enviadas no prazo
estipulado pelo CNJ -ou seja,
até o dia 10 do mês seguinte.
Em Tocantins, segundo a assessoria de imprensa do TJ, o
que pode ter provocado a não-contabilização dos dados foi o
envio por fax, uma vez que o
sistema on-line do CNJ estava
fora do ar. De acordo com o órgão, a Justiça do Tocantins autorizou 23 escutas em outubro.
O juiz-corregedor de Alagoas
Alexandre Lenine diz que não
sabe por que os dados do Estado não estão no balanço. Segundo ele, em outubro a Justiça
alagoana autorizou 43 escutas.
A corregedoria do TJ de Mato Grosso disse que recebeu o
ofício com a solicitação do CNJ
no mesmo dia da data do prazo
de entrega. Ao tentar enviar os
dados por e-mail, o órgão não
teve sucesso por causa da mudança de domínio do site do
CNJ, e os enviou por fax.
O TJ da Paraíba disse que enviou dados de escutas à CPI dos
Grampos, mas que não recebeu
a solicitação do CNJ para repassar as informações. O TJ de
São Paulo não se manifestou.
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