São Paulo, quinta-feira, 19 de novembro de 2009

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Ex-terrorista radicado no Rio vê risco de morte de Battisti em prisão italiana

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Na Itália, o terrorista Cesare Battisti corre risco de morte, afirmou ontem à Folha o empresário italiano Luciano Pessina, que em 1996 teve o pedido de extradição negado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Radicado no Rio, onde é dono do restaurante Osteria Dell'Angolo, em Ipanema, Pessina, 60, lamentou a decisão do tribunal, que qualificou como "péssima" e "absurda".
"A decisão abre uma brecha, porque o Brasil sempre foi um país que deu refúgio a muitas pessoas. Pode ser que outras pessoas refugiadas tenham problemas", disse ele.
Sem detalhar o risco que Battisti correria nas cadeias italianas, Pessina citou, como exemplo, o caso recente de uma ex-militante das Brigadas Vermelhas, Diana Melazzi, que veio a se suicidar na prisão após ser condenada à prisão perpétua.
Risco semelhante afetaria, segundo ele, "as pessoas que são julgadas depois de 30 anos dos acontecimentos só para satisfazer algumas exigências do momento, de um governo que está em crise".
Para Pessina, a argumentação de que Battisti não cometeu crimes políticos não passa de "uma aberração jurídica".
"Mesmo que não concordemos com tudo o que o Battisti fez, o grupo dele, ele é claramente um militante político. Não há como fechar os olhos", disse ele, para quem essa "é mais uma decisão errada do Brasil em termos de política internacional".
O ex-terrorista do grupo clandestino Autonomia Operária disse, em entrevista por telefone, que entende que a Constituição do Brasil vete extradições como a de Battisti. "É para ser extraditado? Não, porque a Constituição brasileira impede a extradição para crimes políticos."
Nas décadas 70 e 80, Luciano Pessina militou na extrema esquerda da Itália. Ele foi condenado três vezes, de 1977 a 1986, por assalto a banco, roubo a mão armada, furto de carro, porte de arma, explosão de bomba, transporte de material explosivo e atuação em bando armado.
Em agosto de 1996, foi preso no restaurante, já então ponto de encontro de intelectuais e empresários do Rio. Foi na Osteria Dell"Angolo, em 2002, que o então candidato à Presidência PT, Luiz Inácio Lula da Silva, bebeu uma garrafa do vinho tinto francês Romanée Conti, que valia, à época, R$ 6.000, paga pelo marqueteiro Duda Mendonça.
O julgamento de Pessina no Supremo ocorreu em fevereiro do ano seguinte. A extradição foi negada por unanimidade pelos nove ministros, que entenderam que os crimes atribuídos cometidos pelo réu na Itália foram de ordem política. Além disso, o italiano era pai de uma brasileira.


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