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foco
Ex-terrorista radicado no Rio vê risco de morte de Battisti em prisão italiana
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Na Itália, o terrorista Cesare Battisti corre risco de morte, afirmou ontem à Folha o
empresário italiano Luciano
Pessina, que em 1996 teve o
pedido de extradição negado
pelo STF (Supremo Tribunal
Federal).
Radicado no Rio, onde é dono do restaurante Osteria Dell'Angolo, em Ipanema, Pessina, 60, lamentou a decisão do
tribunal, que qualificou como
"péssima" e "absurda".
"A decisão abre uma brecha, porque o Brasil sempre
foi um país que deu refúgio a
muitas pessoas. Pode ser que
outras pessoas refugiadas tenham problemas", disse ele.
Sem detalhar o risco que
Battisti correria nas cadeias
italianas, Pessina citou, como
exemplo, o caso recente de
uma ex-militante das Brigadas Vermelhas, Diana Melazzi, que veio a se suicidar na
prisão após ser condenada à
prisão perpétua.
Risco semelhante afetaria,
segundo ele, "as pessoas que
são julgadas depois de 30 anos
dos acontecimentos só para
satisfazer algumas exigências
do momento, de um governo
que está em crise".
Para Pessina, a argumentação de que Battisti não cometeu crimes políticos não passa
de "uma aberração jurídica".
"Mesmo que não concordemos com tudo o que o Battisti
fez, o grupo dele, ele é claramente um militante político.
Não há como fechar os olhos",
disse ele, para quem essa "é
mais uma decisão errada do
Brasil em termos de política
internacional".
O ex-terrorista do grupo
clandestino Autonomia Operária disse, em entrevista por
telefone, que entende que a
Constituição do Brasil vete
extradições como a de Battisti. "É para ser extraditado?
Não, porque a Constituição
brasileira impede a extradição
para crimes políticos."
Nas décadas 70 e 80, Luciano Pessina militou na extrema esquerda da Itália. Ele foi
condenado três vezes, de 1977
a 1986, por assalto a banco,
roubo a mão armada, furto de
carro, porte de arma, explosão
de bomba, transporte de material explosivo e atuação em
bando armado.
Em agosto de 1996, foi preso no restaurante, já então
ponto de encontro de intelectuais e empresários do Rio.
Foi na Osteria Dell"Angolo,
em 2002, que o então candidato à Presidência PT, Luiz
Inácio Lula da Silva, bebeu
uma garrafa do vinho tinto
francês Romanée Conti, que
valia, à época, R$ 6.000, paga
pelo marqueteiro Duda Mendonça.
O julgamento de Pessina no
Supremo ocorreu em fevereiro do ano seguinte. A extradição foi negada por unanimidade pelos nove ministros,
que entenderam que os crimes atribuídos cometidos pelo réu na Itália foram de ordem política. Além disso, o
italiano era pai de uma brasileira.
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