São Paulo, quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

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Lula exalta o Mercosul, mas ataca letargia de presidentes

Petista pede a colegas que tomem mais rapidamente decisões que afetam o bloco

"Nós temos problema na aduana de cada país; cada secretário-geral da Receita Federal parece que é o dono do país", diz Lula no Uruguai

RODRIGO RÖTZSCH
ENVIADO ESPECIAL A MONTEVIDÉU

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou ontem seu descontentamento com a lentidão dos avanços do Mercosul, durante a 34ª Cúpula de Presidentes do Bloco, em Montevidéu. Disse que essa lentidão ocorre por falhas dos próprios governantes, que não conseguem sobrepor sua decisão política a entraves burocráticos. Mesmo assim ele se disse "otimista" sobre o futuro do bloco.
"Nós estamos percebendo que para alguns países a situação tem mudado e mudado para melhor. E pode melhorar muito mais se nós resolvermos alguns problemas que nós discutimos em todas as reuniões e que, depois, passa a presidência pro tempore do Lula, do Tabaré [Vázquez, do Uruguai], do Nicanor [Duarte Frutos, do Paraguai], e o tema continua", disse.
Lula deu exemplo de um desses temas que se estende há várias reuniões do bloco -o fim da dupla tributação nas importações, necessária para a implantação do código aduaneiro.
"Os ministros da Fazenda se reuniram ontem [anteontem] e decidiram resolver os problemas das assimetrias entre os países. Ou seja, acabar com a dupla tributação. Se nós presidentes, porém, não colocarmos isso como prioridade um, pode ser que daqui a seis meses estejamos discutindo outra vez as assimetrias. Se há uma disposição e concordância dos ministros da Fazenda de levar esse tema a sério, nós deveríamos fazer um cronograma para resolver essa questão. Quando os nossos técnicos tiverem divergência, não deixem essa divergência demorar três, quatro, cinco meses. Coloquem na mesma semana para que os presidentes decidam."
Lula se queixou da burocracia interna dos países e disse que, para resolvê-la, é necessária "decisão política" dos presidentes. "Nós temos problema na aduana de cada país. Cada secretário-geral da Receita Federal parece que é o dono do país. Então se nós não tivermos a decisão política de dizer "vai ser assim", nós não resolvemos esse problema. A gente decide aqui, oito meses depois não aconteceu nada", disse.
O presidente afirmou que os mandatários do bloco têm de assumir a sua responsabilidade. "As coisas que não estão andando não é culpa do vizinho. Não é culpa da Alemanha, dos EUA, do Japão. A culpa é nossa de não tomarmos as decisões que precisamos tomar. Se não avançamos mais, a culpa é eminentemente nossa. Porque muitas vezes não fazemos valer o mandato que conquistamos nas urnas. Muitas vezes uma decisão técnica fica prevalecendo por seis meses, um ano, e a gente não banca politicamente. A hora é agora de a gente fazer acontecer. Porque senão nós vamos ficar os saudosistas o tempo inteiro", disse.
Lula, porém, não fez só críticas ao Mercosul. "Nós estamos dando passos importantes. Agora é preciso ter claro que tem inimigos internos e externos que não querem. É como se nós acordássemos todo dia olhando para o nosso filho dizendo: que filho feio! Tem o nariz muito grande, ou tem o pé grande, ou tem a orelha grande. Vamos achar um pouco de beleza nesse filho! Afinal de contas fomos nós que colocamos ele no mundo!", afirmou.
O presidente acrescentou ainda: "Vamos olhar esse filho que colocamos no mundo e ver que ele já produziu coisas importantes e pode produzir muito mais. Até porque compreendo que ainda não utilizamos 40% ou 30% do potencial que nós temos de produzir."


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