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Lula exalta o Mercosul, mas ataca letargia de presidentes
Petista pede a colegas que tomem mais rapidamente decisões que afetam o bloco
"Nós temos problema na
aduana de cada país; cada
secretário-geral da Receita
Federal parece que é o dono
do país", diz Lula no Uruguai
RODRIGO RÖTZSCH
ENVIADO ESPECIAL A MONTEVIDÉU
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou ontem
seu descontentamento com a
lentidão dos avanços do Mercosul, durante a 34ª Cúpula de
Presidentes do Bloco, em Montevidéu. Disse que essa lentidão
ocorre por falhas dos próprios
governantes, que não conseguem sobrepor sua decisão política a entraves burocráticos.
Mesmo assim ele se disse "otimista" sobre o futuro do bloco.
"Nós estamos percebendo
que para alguns países a situação tem mudado e mudado para melhor. E pode melhorar
muito mais se nós resolvermos
alguns problemas que nós discutimos em todas as reuniões e
que, depois, passa a presidência
pro tempore do Lula, do Tabaré
[Vázquez, do Uruguai], do Nicanor [Duarte Frutos, do Paraguai], e o tema continua", disse.
Lula deu exemplo de um desses temas que se estende há várias reuniões do bloco -o fim
da dupla tributação nas importações, necessária para a implantação do código aduaneiro.
"Os ministros da Fazenda se
reuniram ontem [anteontem] e
decidiram resolver os problemas das assimetrias entre os
países. Ou seja, acabar com a
dupla tributação. Se nós presidentes, porém, não colocarmos
isso como prioridade um, pode
ser que daqui a seis meses estejamos discutindo outra vez as
assimetrias. Se há uma disposição e concordância dos ministros da Fazenda de levar esse
tema a sério, nós deveríamos
fazer um cronograma para resolver essa questão. Quando os
nossos técnicos tiverem divergência, não deixem essa divergência demorar três, quatro,
cinco meses. Coloquem na
mesma semana para que os
presidentes decidam."
Lula se queixou da burocracia interna dos países e disse
que, para resolvê-la, é necessária "decisão política" dos presidentes. "Nós temos problema
na aduana de cada país. Cada
secretário-geral da Receita Federal parece que é o dono do
país. Então se nós não tivermos
a decisão política de dizer "vai
ser assim", nós não resolvemos
esse problema. A gente decide
aqui, oito meses depois não
aconteceu nada", disse.
O presidente afirmou que os
mandatários do bloco têm de
assumir a sua responsabilidade. "As coisas que não estão andando não é culpa do vizinho.
Não é culpa da Alemanha, dos
EUA, do Japão. A culpa é nossa
de não tomarmos as decisões
que precisamos tomar. Se não
avançamos mais, a culpa é eminentemente nossa. Porque
muitas vezes não fazemos valer
o mandato que conquistamos
nas urnas. Muitas vezes uma
decisão técnica fica prevalecendo por seis meses, um ano, e
a gente não banca politicamente. A hora é agora de a gente fazer acontecer. Porque senão
nós vamos ficar os saudosistas
o tempo inteiro", disse.
Lula, porém, não fez só críticas ao Mercosul. "Nós estamos
dando passos importantes.
Agora é preciso ter claro que
tem inimigos internos e externos que não querem. É como se
nós acordássemos todo dia
olhando para o nosso filho dizendo: que filho feio! Tem o nariz muito grande, ou tem o pé
grande, ou tem a orelha grande.
Vamos achar um pouco de beleza nesse filho! Afinal de contas fomos nós que colocamos
ele no mundo!", afirmou.
O presidente acrescentou
ainda: "Vamos olhar esse filho
que colocamos no mundo e ver
que ele já produziu coisas importantes e pode produzir muito mais. Até porque compreendo que ainda não utilizamos
40% ou 30% do potencial que
nós temos de produzir."
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