São Paulo, quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

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Testes verificam alterações nas funções renais do bispo em jejum

Médico faz d. Luiz assinar termo em que se responsabiliza pela greve de fome

DA AGÊNCIA FOLHA, EM SOBRADINHO (BA)

Os rins do bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, 61, são os primeiros órgãos do religioso a demonstrar sinais de alteração após seus 22 dias de greve de fome, completados hoje, contra a transposição das águas do rio São Francisco.
Testes laboratoriais divulgados ontem em Sobradinho (540 km de Salvador), onde d. Luiz jejua, revelam sinais de alteração nas funções renais. Segundo boletim divulgado pelo médico que acompanha o bispo, frei Klaus Finkam, a alteração "merece maior observação, no sentido de melhorar a diurese".
Finkam disse que ainda não há comprovação de danos renais. "Vamos acompanhar dia a dia." O médico afirmou que d. Luiz "continua apresentando fragilidade física", com perda de mais meio quilo em 24 horas. Seu peso era de 64 kg ontem, 8,5 kg a menos do que quando iniciou o protesto.
O boletim informa ainda que o bispo "reafirmou seu propósito de continuar o jejum". Essa decisão levou o médico a submeter a d. Luiz um termo de responsabilidade em que ele declara querer manter a greve de fome, apesar de ter sido alertado sobre os riscos do jejum prolongado ao organismo. O documento, assinado pelo bispo, será renovado todos os dias.
Ontem, mais uma vez, o religioso evitou se expor em público -o fez apenas duas vezes, e por pouco tempo. Pela manhã, recebeu caravana com cerca de 400 romeiros de Petrolina (PE). Abatido e amparado por parentes e amigos, sentou-se em uma cadeira, à sombra de uma árvore, e cumprimentou as pessoas em fila.
Crianças vestidas de anjo levavam um cartaz em que pediam que ele permanecesse vivo. Fiéis choravam ao tocá-lo. D. Luiz agradecia murmurando e acenando com a cabeça. Percebendo seu cansaço, assessores abriram as portas da igreja de São Francisco e anunciaram uma benção coletiva.
O bispo foi levado ao altar e rezou para a capela lotada. Depois, se recolheu. Do lado de fora, cerca de 50 pessoas jejuavam em apoio ao religioso. "O bispo é o protetor dos pobres", disse a agricultora aposentada Carlinda Maria de Jesus, 71, que diz jejuar desde sábado por períodos de 23 horas.
Para ela, d. Luiz está em greve de fome "pelo bem do povo". A aposentada faz apenas uma refeição ao dia, no jantar. "Eu queria fazer um jejum como o do bispo, mas acho que teria morrido com uns cinco dias." (FÁBIO GUIBU)


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