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Mensaleiro discute com juíza e procurador
Declaração de Paulo Rocha (PA) sobre relação do PT com Marcos Valério deu início a bate-boca durante interrogatório
Acusados de participar do mensalão, Pedro Henry e Valdemar Costa Neto também foram ouvidos; ambos negaram a denúncia
JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A declaração do deputado federal Paulo Rocha (PT-PA) de
que o suposto operador do
mensalão, Marcos Valério, era
"contratado" do PT causou um
acalorado bate-boca com a juíza Maria de Fátima Costa no
último dos interrogatórios de
deputados federais acusados de
envolvimento com o esquema.
"Quem manda aqui sou eu,
aqui não é a Câmara. O senhor
vem com cara de humilde, de
que é do Pará. Que coisa!", gritou a juíza em direção ao deputado, cujos advogados quiseram retificar a declaração.
O estopim se deu quando o
procurador do Ministério Público José Alfredo de Paula e
Silva perguntou se o deputado
não estranhou um publicitário,
Valério, ter oferecido dinheiro
para pagar as dívidas do PT.
"Não, ele era contratado do
PT para ser marqueteiro do
João Paulo Cunha", respondeu.
Depois, a defesa de Rocha
tentou alterar a declaração, dizendo que o que havia sido registrado não era o que Rocha
dissera, o que gerou a confusão.
"O senhor [advogado] não é
ignorante, o senhor [deputado]
também não é. E eu também
não sou", afirmou a juíza.
Rocha chegou a dizer, apontando para Silva, que o procurador estava lhe "provocando" ao
querer dizer que um empresário teria pago as contas do PT.
"O senhor não fica me apontando, porque não está na Câmara", disse o procurador.
Passada a crise, a juíza refez
as perguntas sobre a relação de
Valério e o PT. Ficou registrado
que Rocha não estranhou o repasse, pois o publicitário tinha
"relações com o PT".
Em diversas vezes, o deputado deixou de responder objetivamente, o que levou a juíza a
exemplificar a pergunta.
"Eu estou lhe entregando isso [um papel], quem entregou a
ela?", perguntou, referindo-se a
quem repassou dinheiro, supostamente para pagar dívidas
do partido, à assessora do deputado, Anita Leocádia.
"De alguém, não sei quem",
havia sido a resposta de Rocha.
O deputado, acusado por lavagem de dinheiro, se defendeu
da denúncia dizendo que havia
procurado Delúbio Soares em
2003 e pedido ao então tesoureiro do partido para cobrir dívidas do PT no Pará. Segundo
afirmação sua, ouviu de Delúbio que alguém o procuraria
para tratar do assunto.
"O Marcos Valério me procurou e disse que tinha o dinheiro
para pagar as dívidas", disse
Rocha, que negou saber como
se processaram os pagamentos.
Ao final da sessão, o advogado do deputado, João Gomes
Filho, pediu desculpas à juíza e
ao procurador e tentou impedir
que Rocha desse declarações.
Ainda tentou convencer os jornalistas de que ele não havia dito o que gerou a confusão.
"Ele [deputado] só não soube
se expressar. É difícil, para um
homem de bem, ser colocado
na vala comum", disse Filho.
"Toda a imprensa já nos condenou, eu sou mensaleiro", repetiu várias vezes o deputado
na saída. "Vim aqui tranqüilo,
acho que não cometi crime."
Antes de Rocha foram ouvidos os deputados Pedro Henry
(PP-MT) e Valdemar Costa Neto (PR-SP). Henry, acusado por
formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro, negou ter recebido verba para apoiar o governo. Confirmou que sabia de repasses do
PT para o PP para pagar advogado de defesa do ex-deputado
Ronivon Santiago (AC).
Valdemar também negou a
denúncia. Confirmou o repasse
de R$ 7,4 milhões feito pelo PT
para pagar dívidas de campanha. Negou, porém, ter recebido repasse superior a esse valor. Ele é acusado por formação
de quadrilha, lavagem de dinheiro e corrupção passiva.
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