São Paulo, quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

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Mensaleiro discute com juíza e procurador

Declaração de Paulo Rocha (PA) sobre relação do PT com Marcos Valério deu início a bate-boca durante interrogatório

Acusados de participar do mensalão, Pedro Henry e Valdemar Costa Neto também foram ouvidos; ambos negaram a denúncia

JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A declaração do deputado federal Paulo Rocha (PT-PA) de que o suposto operador do mensalão, Marcos Valério, era "contratado" do PT causou um acalorado bate-boca com a juíza Maria de Fátima Costa no último dos interrogatórios de deputados federais acusados de envolvimento com o esquema.
"Quem manda aqui sou eu, aqui não é a Câmara. O senhor vem com cara de humilde, de que é do Pará. Que coisa!", gritou a juíza em direção ao deputado, cujos advogados quiseram retificar a declaração.
O estopim se deu quando o procurador do Ministério Público José Alfredo de Paula e Silva perguntou se o deputado não estranhou um publicitário, Valério, ter oferecido dinheiro para pagar as dívidas do PT.
"Não, ele era contratado do PT para ser marqueteiro do João Paulo Cunha", respondeu.
Depois, a defesa de Rocha tentou alterar a declaração, dizendo que o que havia sido registrado não era o que Rocha dissera, o que gerou a confusão.
"O senhor [advogado] não é ignorante, o senhor [deputado] também não é. E eu também não sou", afirmou a juíza.
Rocha chegou a dizer, apontando para Silva, que o procurador estava lhe "provocando" ao querer dizer que um empresário teria pago as contas do PT.
"O senhor não fica me apontando, porque não está na Câmara", disse o procurador.
Passada a crise, a juíza refez as perguntas sobre a relação de Valério e o PT. Ficou registrado que Rocha não estranhou o repasse, pois o publicitário tinha "relações com o PT".
Em diversas vezes, o deputado deixou de responder objetivamente, o que levou a juíza a exemplificar a pergunta.
"Eu estou lhe entregando isso [um papel], quem entregou a ela?", perguntou, referindo-se a quem repassou dinheiro, supostamente para pagar dívidas do partido, à assessora do deputado, Anita Leocádia.
"De alguém, não sei quem", havia sido a resposta de Rocha.
O deputado, acusado por lavagem de dinheiro, se defendeu da denúncia dizendo que havia procurado Delúbio Soares em 2003 e pedido ao então tesoureiro do partido para cobrir dívidas do PT no Pará. Segundo afirmação sua, ouviu de Delúbio que alguém o procuraria para tratar do assunto.
"O Marcos Valério me procurou e disse que tinha o dinheiro para pagar as dívidas", disse Rocha, que negou saber como se processaram os pagamentos.
Ao final da sessão, o advogado do deputado, João Gomes Filho, pediu desculpas à juíza e ao procurador e tentou impedir que Rocha desse declarações. Ainda tentou convencer os jornalistas de que ele não havia dito o que gerou a confusão.
"Ele [deputado] só não soube se expressar. É difícil, para um homem de bem, ser colocado na vala comum", disse Filho.
"Toda a imprensa já nos condenou, eu sou mensaleiro", repetiu várias vezes o deputado na saída. "Vim aqui tranqüilo, acho que não cometi crime."
Antes de Rocha foram ouvidos os deputados Pedro Henry (PP-MT) e Valdemar Costa Neto (PR-SP). Henry, acusado por formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro, negou ter recebido verba para apoiar o governo. Confirmou que sabia de repasses do PT para o PP para pagar advogado de defesa do ex-deputado Ronivon Santiago (AC).
Valdemar também negou a denúncia. Confirmou o repasse de R$ 7,4 milhões feito pelo PT para pagar dívidas de campanha. Negou, porém, ter recebido repasse superior a esse valor. Ele é acusado por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e corrupção passiva.


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