São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bebê indígena morre em MS com quadro de desnutrição

RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ

Um menino caiuá de um ano e seis meses morreu nesta segunda-feira com quadro de anemia e desnutrição na Casa de Saúde Indígena de Amambai (351 km de Campo Grande). Desde fevereiro de 2008, esta é a segunda criança indígena a morrer com quadro semelhante em Mato Grosso do Sul.
A coordenação regional da Funasa, que responde pela atenção básica à saúde nas aldeias, sustenta que o estado nutricional de Quieber Silva Barrios foi uma "causa associada", mas que sua morte ocorreu em decorrência de pneumonia -a informação consta da declaração de óbito. "Essa criança vinha sendo atendida, acompanhada e, com toda a certeza, não morreu de desnutrição", disse o coordenador regional, Flávio da Costa Britto Neto.
Nascido em maio de 2007, o menino vivia com os pais e nove irmãos no acampamento indígena de Kurusu Ambá, uma comunidade de 81 pessoas na fronteira com o Paraguai.
As condições de vida no local são precárias, sem água encanada e espaço para plantio. A única alimentação é fornecida a cada 15 dias pela Funai -uma cesta de 22 quilos por família-, mas o próprio órgão admite que a ajuda não basta.
"Não há espaço nem mesmo para uma lavoura de mandioca", disse a administradora da Funai na região sul do Estado, Margarida Nicoletti. Segundo ela, as remessas por vezes não são suficientes e há também casos de famílias que trocam itens da cesta por bebidas alcoólicas. "As crianças são as que sofrem mais com isso."
Quieber foi internado pela primeira vez em maio, já com diagnóstico de anemia, desidratação e problemas respiratórios. Em julho, o menino apresentou os mesmos sintomas e ficou três meses internado. A partir do último retorno à aldeia, em 13 de novembro, ele passou a perder peso rapidamente -quase dois quilos em pouco mais de 15 dias. Transferido no domingo ao Hospital Regional de Amambai, Quieber morreu no dia seguinte.
Em nota divulgada após a confirmação da morte, o Cimi (Conselho Indigenista Missionário) disse que "a fome assola" o acampamento e que outras quatro crianças "correm risco de morrer pela mesma causa".
"Várias outras crianças já morreram por outros tipos de complicações relacionadas à alimentação e saúde no mesmo lugar", diz um trecho da nota.
O coordenador da Funasa contesta o Cimi e avalia o fato como "lamentável, mas isolado". "É evidente que habitação precária é um complicador, mas é equivoco colocar esta morte num contexto mais amplo, pois não reflete a realidade atual das aldeias no Estado."
Em 1999, segundo a Funasa, a taxa de mortalidade infantil indígena em Mato Grosso do Sul era de 140 mortes a cada mil nascidos vivos. Em 2008, até outubro, a taxa era de 30,64.


Texto Anterior: Qualidade de Vida: Desigualdade faz Brasil ter índice de "Islíndia"
Próximo Texto: União terá de devolver documento a cabo Anselmo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.