|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Bebê indígena morre em MS com quadro de desnutrição
RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ
Um menino caiuá de um ano
e seis meses morreu nesta segunda-feira com quadro de
anemia e desnutrição na Casa
de Saúde Indígena de Amambai
(351 km de Campo Grande).
Desde fevereiro de 2008, esta é
a segunda criança indígena a
morrer com quadro semelhante em Mato Grosso do Sul.
A coordenação regional da
Funasa, que responde pela
atenção básica à saúde nas aldeias, sustenta que o estado nutricional de Quieber Silva Barrios foi uma "causa associada",
mas que sua morte ocorreu em
decorrência de pneumonia -a
informação consta da declaração de óbito. "Essa criança vinha sendo atendida, acompanhada e, com toda a certeza,
não morreu de desnutrição",
disse o coordenador regional,
Flávio da Costa Britto Neto.
Nascido em maio de 2007, o
menino vivia com os pais e nove irmãos no acampamento indígena de Kurusu Ambá, uma
comunidade de 81 pessoas na
fronteira com o Paraguai.
As condições de vida no local
são precárias, sem água encanada e espaço para plantio. A
única alimentação é fornecida a
cada 15 dias pela Funai -uma
cesta de 22 quilos por família-,
mas o próprio órgão admite
que a ajuda não basta.
"Não há espaço nem mesmo
para uma lavoura de mandioca", disse a administradora da
Funai na região sul do Estado,
Margarida Nicoletti. Segundo
ela, as remessas por vezes não
são suficientes e há também casos de famílias que trocam
itens da cesta por bebidas alcoólicas. "As crianças são as
que sofrem mais com isso."
Quieber foi internado pela
primeira vez em maio, já com
diagnóstico de anemia, desidratação e problemas respiratórios. Em julho, o menino
apresentou os mesmos sintomas e ficou três meses internado. A partir do último retorno à
aldeia, em 13 de novembro, ele
passou a perder peso rapidamente -quase dois quilos em
pouco mais de 15 dias. Transferido no domingo ao Hospital
Regional de Amambai, Quieber
morreu no dia seguinte.
Em nota divulgada após a
confirmação da morte, o Cimi
(Conselho Indigenista Missionário) disse que "a fome assola"
o acampamento e que outras
quatro crianças "correm risco
de morrer pela mesma causa".
"Várias outras crianças já
morreram por outros tipos de
complicações relacionadas à
alimentação e saúde no mesmo
lugar", diz um trecho da nota.
O coordenador da Funasa
contesta o Cimi e avalia o fato
como "lamentável, mas isolado". "É evidente que habitação
precária é um complicador,
mas é equivoco colocar esta
morte num contexto mais amplo, pois não reflete a realidade
atual das aldeias no Estado."
Em 1999, segundo a Funasa,
a taxa de mortalidade infantil
indígena em Mato Grosso do
Sul era de 140 mortes a cada mil
nascidos vivos. Em 2008, até
outubro, a taxa era de 30,64.
Texto Anterior: Qualidade de Vida: Desigualdade faz Brasil ter índice de "Islíndia" Próximo Texto: União terá de devolver documento a cabo Anselmo Índice
|