São Paulo, sábado, 20 de janeiro de 2001

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ANÁLISE

País quer ser nova China

JAIME SPITZCOVSKY
ESPECIAL PARA A FOLHA

A Coréia do Norte quer hoje fazer negócios com a comunidade internacional. O último reduto do stalinismo asiático está disposto a abrir mão de seu programa nuclear secreto e de suas exportações de tecnologia militar a países como Iraque e Síria desde que receba ajuda econômica dos EUA, da rival Coréia do Sul e do Japão.
O governo norte-coreano chegou à seguinte conclusão: manter o regime mergulhado em dogmas políticos e em isolamento diplomático significa manter a economia em estado de coma. Dá, portanto, sinais de que quer seguir a China, onde o PC implementa, desde 1978, reformas econômicas modeladas em puro capitalismo.
Kim Jong-il, o líder norte-coreano, calcula que pode arrancar da comunidade internacional injeções de capital para alimentar o salto da Coréia do Norte ao capitalismo. E pretende usar o programa nuclear e as vendas de material bélico como moeda de troca.
Kim prefere receber ajuda internacional a investimento estrangeiro porque, na primeira hipótese, tem mais condições de controlar os recursos e pode abrir o país de maneira mais lenta e gradual. O líder norte-coreano teme que uma "terapia de choque capitalista" dissolva o regime nos moldes do ocorrido com a finada URSS.
Essa opção de Kim Jong-il conta com o apoio velado dos EUA, Japão e Coréia do Sul. Esses países temem a desintegração de um sistema político que controla uma das mais poderosas máquinas militares da Ásia. A Coréia do Sul também não quer um fim abrupto do regime porque teme ondas de refugiados e a obrigação de ter de pagar a conta sozinha na hora de recuperar a região norte da península, num processo semelhante à reunificação alemã.
As duas Coréias protagonizam uma lenta dança de aproximação. No ano passado, o presidente sul-coreano, Kim Dae-jung, em visita histórica, desembarcou na Coréia do Norte para se reunir com Kim Jong-il. Neste ano, é a vez de a Coréia do Sul receber o líder norte-coreano, que mostra as contas de quanto quer receber em troca do "bom comportamento" nas áreas nuclear e militar. Os preços pedidos pelos norte-coreanos devem ser muito altos. Essa diferença de expectativas, muito comum em início de conversações, não deve impedir o avanço do diálogo.


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