São Paulo, sábado, 20 de janeiro de 2001

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VIAGEM PRESIDENCIAL

Marcar presença na Ásia e mostrar engajamento na solução de conflitos motivam palavras do presidente

FHC prega reconciliação entre coreanos

MARTA SALOMON
ENVIADA ESPECIAL A SEUL

O presidente Fernando Henrique Cardoso pregou ontem a "paz e a reconciliação entre todos os coreanos", durante visita a Panmunjom, área de fronteira entre as duas Coréias.
FHC foi ao local para anunciar formalmente a disposição brasileira de estabelecer relações diplomáticas com a Coréia do Norte.
Mas o presidente condicionou o início das relações entre os dois países ao compromisso da Coréia do Norte de não desenvolver armas nucleares.
Essa condição foi imposta por Fernando Henrique Cardoso por conta das informações de que a República Popular Democrática da Coréia estaria construindo uma usina de geração de energia elétrica à base de plutônio, material com o qual é possível fazer uma bomba atômica.

Relações diplomáticas
A Coréia do Norte é hoje o único país do mundo com o qual o Brasil não mantém relações diplomáticas. Com o gesto, o presidente espera ter contribuído para tirar a Coréia do Norte de um isolamento que já dura mais de 50 anos, desde o final da Segunda Guerra Mundial.
Vários outros países já tomaram essa iniciativa nos últimos anos. Os Estados Unidos, o Japão e a França estão entre os que ainda não estabeleceram esse relacionamento com o país.
"Achei que seria útil para a comunidade internacional que o Brasil, mais uma vez, assumisse uma posição de vanguarda nessa matéria", afirmou FHC.
O gesto do presidente tem outras motivações. Com ele, o Brasil marca presença na Ásia, um mercado que considera importante. Além disso, mostra que a diplomacia brasileira está engajada na solução pacífica e negociada de conflitos.
Uma brincadeira que circulava ontem na comitiva presidencial é que FHC teria ainda dividendos políticos com o gesto, que lhe renderia pontos para concorrer à sucessão de Kofi Annan na Secretaria Geral da ONU (Organização das Nações Unidas).

Candidatura
Durante a visita à Coréia do Sul, FHC pediu apoio à candidatura do Brasil a membro temporário do Conselho de Segurança da ONU em 2003 e 2004. Esse lugar já foi ocupado pelo país duas vezes durante a década de 90.
Antes do discurso de FHC, ontem, o Brasil já havia comunicado ao embaixador da Coréia do Norte nas Nações Unidas a intenção de estabelecer relações diplomáticas. O processo deverá ser concluído rapidamente.
Bem mais demorados serão os resultados do projeto de unificação das duas Coréias, conduzido pelo presidente sul-coreano Kim Dae-jung. O projeto lhe rendeu o Prêmio Nobel da Paz do ano passado, mas o próprio Dae-jung avalia que a unificação só deverá ser realidade daqui a 20 anos.
"Pode ser até mais, e isso não é muito tempo diante do custo da unificação", avaliou o chanceler brasileiro interino, Luiz Felipe Seixas Corrêa.
O último incidente na região aconteceu há 16 anos. A deserção de um russo da Coréia do Norte provocou a morte de três soldados norte-coreanos e um sul-coreano, além de um saldo de seis feridos. Hoje, o lado da Coréia do Sul transformou-se em ponto turístico controlado, observado por FHC ontem sob o forte inverno que atinge a região.
Ao passarem na linha que dividiu as duas Coréias depois da Segunda Guerra entre soviéticos e norte-americanos, tropas norte-coreanas deram início a uma guerra que se arrastou durante três anos, até 1953, e que deixou milhares de mortos.
"Tenho a certeza de que, em um futuro não distante, Panmunjom poderá ser não mais um símbolo da Guerra Fria, mas um símbolo da amizade e da reconciliação", completou o presidente.

A jornalista MARTA SALOMON e o repórter-fotográfico SÉRGIO LIMA viajam a convite no avião presidencial por falta de vôos comerciais adequados ao trajeto. As despesas com hospedagem e alimentação são custeadas pela Folha


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