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Governo veta festa na periferia durante Fórum Social no Pará
Músico afirma que há preconceito; secretaria nega
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
O governo do Pará proibiu a
realização de festas em seis
bairros da periferia de Belém
(PA) enquanto durar o Fórum
Social Mundial -que começa
no próximo dia 27.
A portaria começa a valer hoje e vai até o dia 2 de fevereiro,
quando o encontro já estará
terminado. Ela também proíbe
o funcionamento de bares depois das 22h nessas áreas.
A justificativa da Secretaria
de Estado de Segurança Pública para a proibição é que esses
bairros têm índices de violência "críticos" e estão no entorno dos dois principais pontos
de eventos do fórum -os campi
da UFPA (Universidade Federal do Pará) e da UEPA (Universidade do Estado do Pará).
A restrição cita especificamente as festas de "aparelhagens", apelido de equipes que
tocam em geral tecnobrega
(mistura do antigo brega com
elementos eletrônicos) em
grandes sistemas de som.
A cena musical, uma invenção paraense, atraiu o interesse
de acadêmicos, que veem nas
"aparelhagens" um modelo de
produção inovador, em que o
artista "pirateia" seu próprio
trabalho, distribui as músicas
gratuitamente a camelôs e ganha dinheiro com shows, e não
com os direitos autorais.
"Isso nada mais é do que um
grande preconceito", disse Raimundo Orlando Corrêa, o Dinho, DJ da equipe Tupinambá,
uma das mais famosas de Belém. "Será que vão proibir as
festas no fórum também? Claro
que não, porque lá vai estar o filho do doutor, do advogado. A
violência não está nas festas,
está nas ruas", afirmou.
A secretaria disse que a ideia
é "prevenir ocorrências, como
brigas, tumultos e poluição sonora, que possam gerar transtornos à ordem pública", e negou haver preconceito.
A portaria faz parte do plano
do governo estadual de coibir a
violência durante o fórum.
Além de um investimento de
mais de R$ 50 milhões em equipamento, carros e pessoal, a polícia paraense terá também o
reforço de 300 homens da Força Nacional de Segurança -alguns deles já patrulhando os
bairros alvos da proibição.
Para Manoel Machado, presidente da Apasepa (Associação
das Aparelhagens Sonoras do
Estado do Pará), a perda é "financeira", em torno de R$ 200
mil, e "cultural". "Eles [policiais] dizem que o bandido rouba e depois gasta nas festas.
Mas isso é um preconceito antigo. No Pará, o que é do povo
não é cultura", disse.
Procurada, a organização do
fórum não se pronunciou até a
conclusão desta edição.
Segundo Vera Monteiro, da
pós-graduação em direito administrativo da FGV-SP, a portaria é "comum", mas pode ser
contestada na Justiça, pois
"restringe uma liberdade".
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