São Paulo, terça-feira, 20 de janeiro de 2009

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Memória

Movimento ficou conhecido após massacre no Pará

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O MST nasceu nas regiões Sul e Sudeste, ganhou corpo no Nordeste, avançou no Centro-Oeste, mas o fato que o tornou conhecido no Brasil e no exterior ocorreu no Norte, palco de conflitos e de pessoas nada ou pouco ligadas à origem do movimento.
Em 17 de abril de 1996, no sudeste do Pará, integrantes do MST que participavam de uma marcha foram encurralados por policiais militares nos dois sentidos de uma rodovia e se transformaram em vítimas do massacre de Eldorado do Carajás.
O saldo foi de 19 sem-terra assassinados e outros 69 feridos. O movimento ganhou nome, e a reforma agrária, simpatizantes. A essência do episódio, no entanto, tinha pouco das raízes do movimento e do tipo de conflito ao qual estava acostumado.
No Norte, onde o MST mal está organizado, grilagem, madeireiros, trabalhadores escravos e ex-garimpeiros integram o cenário.
Os militantes que preenchiam aquela marcha eram quase todos ex-garimpeiros, a maioria migrantes maranhenses. Homens e mulheres que encontraram no movimento uma expectativa de dias melhores em meio ao fechamento de Serra Pelada e ao fim da corrida pelo ouro.
Um perfil absolutamente diferente da base de origem ao movimento, dos "colonos" sulistas, dos "trabalhadores rurais" paulistas e dos "lavradores" nordestinos. Em geral, sem-terra desempregados pela mecanização agrícola ou "expulsos" de pequenas propriedades devido ao crescimento familiar.

Violência real
Segundo dados da Comissão da Pastoral da Terra tabulados pela Folha, 60% dos assassinatos no campo estão concentrados na Amazônia Legal (Estados do Norte, Mato Grosso e parte do Maranhão). Entre 1985 e 2007, dos 1.508 assassinatos motivados por conflitos fundiários, 905 ocorreram nessa região. O Pará lidera a lista, com 30% das mortes no país.
Uma prova de que o MST está distante da chamada "violência real" é que, das 2.190 invasões entre 2000 e 2007, 153 (7%) ocorreram na Amazônia Legal, sendo 59 (4%) no Pará.
"Os conflitos do Sul e do Sudeste, onde têm a atuação do MST, são mais organizados e normalmente focam muito a improdutividade das fazendas. Eles planejam muito bem", afirma Ailson Machado, assessor de mediação de conflitos agrários da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República.
"Já os conflitos no Norte do país são muito desorganizados e contêm uma variedade muito grande do perfil de pessoas." (EDUARDO SCOLESE)


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