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CELSO PINTO
A prioridade é a Previdência
A prioridade absoluta do
governo é aprovar a reforma da Previdência. Forçar a
aprovação rápida da autonomia do Banco Central poderia
provocar um racha no PT, e isso
poderia prejudicar a tramitação
da reforma da Previdência. Por
essa razão, é provável que a autonomia do BC fique mais para
frente.
Há claras indicações de que, se
isso acontecer, não haverá grandes problemas com o FMI. Embora o Fundo defenda a autonomia do BC, sabe que o ajuste
da Previdência é muito mais relevante. O governo acha que há
desinformação no PT sobre a
questão da autonomia e espera
reverter as resistências com seminários e discussões no Congresso.
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, tem dito que
quer um acordo "minimalista"
com o FMI, que mencione apenas metas quantitativas. É improvável que o Fundo aceite
uma mudança no formato do
acordo, que inclui uma descrição das intenções de política
econômica do governo.
Um ponto, contudo, é negociável. No acordo do ano passado, a aprovação da mudança no
PIS, incluída na MP 66, foi incluída como "meta estrutural".
Se não fosse aprovada, o governo teria que se explicar. Quem
sugeriu a inclusão como meta,
no entanto, foi o próprio governo brasileiro, que previa uma
aprovação tranquila. O Fundo,
pelo que se sabe, poderia aceitar
um acordo sem metas estruturais de política econômica, embora as intenções do governo
devam constar da carta de intenções.
O desenho das reformas é irrelevante. No caso da Previdência,
não importa se o novo regime
será ou não unificado, e sim que
seja equilibrado. Há concordância que deve-se lutar pela aprovação do projeto de lei complementar (PL-9) que iguala o regime dos novos servidores ao do
INSS e cria a previdência complementar.
Na verdade, não existe um,
mas vários problemas associados à Previdência, como mostrou um dia de debates entre alguns dos maiores especialistas
no tema promovido pelo mercado financeiro, na sexta-feira, em
São Paulo. Há um déficit elevado (5,5% do PIB) e crescente. O
sistema é desigual no tratamento entre indivíduos e gerações.
Deixa de fora 40 milhões de trabalhadores informais. Tem a
carga mais alta da América Latina e a segunda da OCDE.
O ideal seria uma solução que
resolvesse tudo e, de quebra,
ajudasse a estimular a poupança financeira. Para o mercado, a
resposta é ressuscitar propostas
de capitalização: cada um passaria a ter sua previdência privada e receberia conforme a
contribuição. A idéia foi examinada e afastada em 97 pelo custo da conta dos que já se aposentaram e do que já se recolheu no
sistema atual, estimada de 1,5 a
2 vezes o tamanho do PIB.
Carlos da Costa, do Ibmec, refez as contas considerando o impacto do fator previdenciário e
chegou a números mais palatáveis. Conforme o novo teto que
se crie, a transição poderia custar 43% do PIB, ou uns 2,5% do
PIB ao ano durante 20 anos iniciais. Não houve consenso. Vários economistas duvidaram da
viabilidade fiscal dos custos da
transição e se haveria aumento
real da poupança privada, ou
apenas mudança de composição. O ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, acha que a idéia
tem pontos controversos e é difícil de vender politicamente.
Várias outras idéias foram
apresentadas, mais em linha
com as propostas do governo. O
ex-ministro da Previdência José
Cechin acha que a chave é defender o princípio de que a previdência é um seguro, não uma
assistência. O fator previdenciário, já aplicado no INSS, é um tipo de capitalização, pois considera a média das contribuições,
não o salário final e fatores
atuariais para estimular quem
se aposentar mais tarde. Se aplicado aos servidores, poderia
equilibrar o sistema evitando o
custo de transição, com a vantagem de depender de lei ordinária. Fábio Giambiagi, do
BNDES, foi na mesma direção e
acrescentou a importância de
desvincular o reajuste da previdência do salário mínimo.
Cechin sugere separar da previdência a parte assistencial
(que ele reuniria num benefício
único), o que permitiria baixar
a carga cobrada aos empregadores, desestimulando a informalidade. Mesmo princípio defendido por Raul Velloso e Marcelo Moraes. Velloso acha que o
centro do problema está nos 250
mil servidores que viraram estatutários depois de 91 e se aposentaram sem ter contribuído
com os 11% recolhidos pelos outros servidores. A forma de financiar a transição para um
novo regime seria cobrar a mais
desse contingente.
O jurista Ives Gandra Martins
acha que há boas chances de o
governo obter uma ação declaratória de constitucionalidade
para cobrança de inativos, se sugerir alíquotas inferiores a 11%,
o que descaracterizaria a idéia
de "confisco" que levou à decisão contrária do Supremo. Três
ministros do STF se inclinam a
favor, segundo Martins, e três
novos serão nomeados pelo
atual governo em maio.
Como se vê, não há consenso
nem soluções únicas simples que
resolvam todos os problemas.
Mas há margem para mudanças importantes.
E-mail: CelPinto@uol.com.br
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