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JUDICIÁRIO
PT abandona opinião assumida no passado; na campanha de 98, Lula chegou a dizer que medida "esterilizaria" Poder
Governo passa a aceitar súmula vinculante
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em busca de paz na sua relação
com o STF (Supremo Tribunal
Federal), o governo abriu mão do
combate à súmula vinculante, um
dos pontos mais polêmicos da reforma do Judiciário, e com isso
abandonou compromisso histórico do PT contra essa medida.
A súmula representa a síntese
do entendimento de um tribunal
em relação a temas sobre os quais
há sucessivos julgamentos iguais.
A proposta de emenda constitucional que tramita no Senado prevê a súmula para o STF. Se aprovada, em tese obrigará juízes de
instâncias inferiores a segui-la.
A maioria dos ministros do STF
diz que ela é essencial para livrar o
tribunal de milhares de processos
repetitivos, pois muitas causas
terminariam nas outras instâncias. Já os opositores da medida
afirmam que o tribunal ficará
com poderes ditatoriais e impedirá a evolução da jurisprudência
(interpretação das leis).
As relações entre o governo e o
STF, particularmente o seu presidente, Maurício Corrêa, estiveram desgastadas nos últimos meses por causa do controle externo
do Judiciário, também previsto na
reforma do setor e defendido pelo
Planalto, mas rejeitado pela maioria dos ministros do Supremo.
Nesta semana, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), deixou claro que articula o maior número possível de
votos para manter a súmula.
O Planalto ainda não se manifestou sobre o assunto. Mercadante negou que o governo seja
contra ela. "Essa é a posição [a
contrária] do ministro da Justiça
[Márcio Thomaz Bastos]."
Anteontem, ele e o ministro
Nelson Jobim, que presidirá o
STF a partir do início de maio,
conversaram sobre o tema.
"Esterilização"
Em 1998, na terceira campanha
à Presidência, Luiz Inácio Lula da
Silva comprometeu-se a combatê-la, ao visitar a OAB (Ordem dos
Advogados do Brasil).
"Assumo o compromisso de
contribuir para a independência e
o fortalecimento do Judiciário.
Por essa razão, o meu governo interromperá toda e qualquer iniciativa de adoção da súmula vinculante, por considerá-la fator de
debilitamento e até mesmo de esterilização do Judiciário."
A mudança de posição divide o
próprio PT. Há forte resistência
interna, particularmente de pessoas ligadas à advocacia. Os principais focos são Thomaz Bastos e
um grupo de deputados que enviou carta à bancada no Senado
pedindo a rejeição da proposta.
O deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), que assina a carta,
disse que fará campanha pelo seu
descumprimento.
"Se ela passar, vamos fazer um
amplo movimento pela desobediência dos juízes. Ela é inconstitucional, porque equivale a uma
lei, e o STF não pode legislar."
O presidente da OAB, Roberto
Busato, afirmou ter a esperança
de que Lula não tenha mudado de
posição. Para ele, a defesa da proposta está limitada ao Senado. "A
base aliada está desconhecendo
os compromissos históricos do
partido", afirmou.
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