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OPERAÇÃO PANDORA
Segundo a polícia, Mellão dizia ter influência em CPI para livrar investigados e extorquir políticos e doleiros
PF prende ex-presidente da Câmara de SP
Marlene Bergamo/Folha Imagem
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Armando Mellão Neto chega ao IML para exame de corpo de delito |
FABIO SCHIVARTCHE
PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
O ex-presidente da Câmara Municipal de São Paulo Armando
Mellão Neto, 42, foi preso em flagrante ontem num flat no Itaim
Bibi, bairro de elite de São Paulo,
sob a acusação de extorquir dinheiro do ex-deputado estadual
Reynaldo de Barros Filho (PP).
Mellão foi detido em uma operação da Polícia Federal ao negociar o recebimento de um envelope com R$ 581.400. O dinheiro foi
entregue pelo advogado de Reynaldo Filho, Laércio Benko Lopes.
Pelas investigações da PF, que
começaram há 40 dias, Mellão dizia falar em nome de congressistas da CPI do Banestado -que
apura remessas ilegais de dinheiro ao exterior- e afirmava que
podia barrar investigações em
troca de dinheiro. No jargão policial, "vendia fumaça": negociava
um poder que não tinha. Segundo
a polícia, o esquema de Mellão
funcionava havia um ano.
Pitta
Apenas no caso de Reynaldo Filho, a negociação total girava em
torno de US$ 2,4 milhões. Outra
vítima, segundo a Folha apurou,
foi o ex-prefeito Celso Pitta (PSL-SP), que não teria pago. Procurada, sua assessoria não respondeu
até o fechamento desta edição.
Os três parlamentares citados
pelo ex-vereador como seus interlocutores na CPI -os deputados
José Mentor (PT-SP) e Rodrigo
Maia (PFL-RJ) e o senador Antero
Paes de Barros (PSDB-MT)- negam qualquer envolvimento.
Com prisão temporária decretada, Mellão nega a extorsão. "O
que mais dói nisso é saber que foi
uma armação", afirmou.
Instalada em junho do ano passado, a CPI do Banestado encontrou uma conta de Pitta em um
banco norte-americano, aberta
em 1994 com US$ 110 mil. O ex-prefeito sempre negou -e continua negando- ter a conta.
Padrinho político
No caso que se tornou público
ontem, os figurantes giram em
torno da era Maluf-Pitta à frente
da Prefeitura de São Paulo (1993-2000). O pai de Reynaldo Filho,
Reynaldo de Barros, foi um dos
secretários mais influentes da gestão malufista. Mellão começou na
política pelas mãos do ex-secretário, mas os dois estavam rompidos desde 98. Armando Mellão
presidiu a Câmara Municipal no
auge do escândalo da Máfia dos
Fiscais (1999-2000), que terminou
até com vereadores cassados.
O trabalho da PF que culminou
na prisão de Mellão começou em
janeiro, depois que o deputado
Mentor foi procurado por advogados ligados a pessoas que estavam sendo extorquidas por Mellão. A pedido do petista, o Ministério da Justiça determinou a entrada da PF no caso. A investigação, denominada "caixa de Pandora", durou dois meses, gravou
fitas de vídeo e grampeou ao menos 50 telefonemas.
Colaboração
Um dos protagonistas da investigação foi o advogado de Reynaldo Filho, Laércio Benko Lopes.
Ele passou a colaborar com os policiais logo que os grampos da PF
no celular de Mellão apontaram
seu cliente como uma das vítimas.
Foi o advogado quem armou,
em conjunto com a PF, a cena para a prisão de Mellão. Duas microcâmeras colocadas pelos policiais no quarto do flat -alugado
por Lopes- gravaram toda a negociação, ontem de manhã.
Em um envelope em cima da
mesa havia um cheque de Reynaldo Filho no valor de R$ 531.400,
nominal a Mellão, e mais R$ 50
mil em dinheiro, divididos em
cinco maços de notas de R$ 100.
Depois do acerto financeiro,
Mellão ainda fez um pedido ao
advogado: "Laércio, você ficaria
muito enrolado se eu pedisse para
você só ir comigo até o carro para
levar o dinheiro agora?". A conversa está gravada em vídeo, em
poder dos investigadores.
A PF não divulgou ainda as outras provas que diz ter das chantagens praticadas por Mellão. Suspeita-se que pelo menos outras 11
pessoas estivessem sendo vítimas
dele. A polícia espera que nos próximos dias outros achacados por
Mellão deponham no processo.
Abafar Waldomiro
O advogado Laércio Benko Lopes lembra-se dos métodos de
chantagem utilizados -envelopes apócrifos com falsas denúncias, como contas inexistentes no
exterior- e um dos argumentos
utilizados por Mellão para convencê-lo a pagar a propina.
"Ele dizia que a prisão de Reynaldo Filho seria boa para abafar
o caso Waldomiro Diniz na imprensa", conta Lopes.
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