São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 2008

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Ministro vê preconceito em críticas aos cartões

Para Jorge Hage, não haveria escândalo se Orlando Silva tivesse pago hambúrguer

Controlador diz que está levantando dados sobre as contas tipo B, que eram muito usadas na gestão de Fernando Henrique Cardoso

ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em depoimento ontem na CPI dos Cartões, o ministro Jorge Hage (Controladoria Geral da União) disse que houve "preconceito" na divulgação da compra de uma tapioca feita pelo ministro Orlando Silva (Esporte) com cartão corporativo e que está investigando gastos irregulares de ministros do atual governo e do anterior em restaurantes de Brasília.
"Poderia ser algo inédito, mas estamos levantando e vamos encontrar algo além da tapioca de R$ 8 na rubrica de alimentos pagos em Brasília. Pagamento de alimentação em Brasília, seja de tapioca, no McDonald's, no Piantella, no Alice ou de caviar é a mesma coisa: não pode." Despesas com alimentação só podem ser pagas com os cartões em viagens fora da capital federal.
O ministro disse que a CGU ainda estava levantando dados, inclusive os referentes às contas tipo B, usadas com maior freqüência na gestão Fernando Henrique: "Como a CPI se propõe a investigar a utilização do suprimento de fundos desde 1998, vamos ser instados a prestar informações e estamos nos preparando para isso, abrindo por amostragem processos de prestação de contas. É possível que encontremos algo muito além da tapioca".
De acordo com Hage, a "tapioca se tornou um termo jocoso" para definir despesas com cartão corporativo. "Acho que estava por trás dessa divulgação um preconceito por ser tapioca. Se o ministro tivesse comprado um hambúrguer ou um cheesebúrguer no McDonald's o escândalo não teria sido divulgado." E completou: "[A compra] é razoável, não é razoável, depõe contra a ética? Se a tapioca fosse consumida em São Paulo, podia". Na seqüência, o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) disse à CPI que o colega deve ter optado por consumir a iguaria em Brasília porque "tapioca de paulista deve ser muito ruim".
Bernardo afirmou que o Congresso não deveria perder tempo com pequenas despesas ("daqui a pouco vamos discutir o borracheiro, a lavanderia") e recomendou à CPI que busque formas de aperfeiçoar o uso dos cartões: "O saque é uma anomalia. Acho que entre dois e três anos não vai ser mais possível realizar saques". Para Hage, "com os saques se perde a vantagem da transparência".
Eles se recusaram a falar dos gastos sigilosos da Presidência -20% do total. Bernardo disse que, se quiserem esses dados, que mudem a lei do sigilo.
Hage defendeu o uso do cartão no conserto de uma mesa de sinuca (R$ 1.400) e criticou a imprensa pela "escandalização do nada". "Não é justo gastar o dinheiro para o lazer dos motoristas?", indagou. "Mas esse era um gasto emergencial?", questionou o deputado Vic Pires (DEM-PA). "É legítimo usar o dinheiro público para essa finalidade. Não foi compra, foi um pequeno reparo", respondeu.


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