São Paulo, sexta, 20 de março de 1998

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Ato dependerá de resultado de negociação com Iris Rezende e com a empresa na segunda
Índios ameaçam reocupar Aracruz

WILSON TOSTA
enviado especial a Aracruz (ES)

Lideranças da reserva Tupiniquim-Guarani de Aracruz (a 85 km de Vitória), vigiada desde anteontem pela Polícia Federal, ameaçam voltar a ocupar, na próxima segunda, terras da Aracruz Celulose que reivindicam para suas aldeias.
A iniciativa, segundo o cacique José Cezenando, da aldeia tupiniquim Caieiras Velha, será tomada se os indígenas, na negociação com o ministro Iris Rezende e com a empresa, não receberem proposta que julgarem justa. Eles exigem 13.579 hectares de terra, mas a empresa só aceita ceder 2.571.
Anteontem, depois que a Polícia Federal ocupou a área e expulsou integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) as lideranças indígenas aceitaram suspender "autodemarcação" que faziam desde o dia 11. "Paramos a demarcação para negociar", disse Cezenando.
Além de Caieiras Velha, outras quatro aldeias reivindicam as terras da Aracruz: Boa Esperança e Três Palmeiras (guaranis) e Pau Brasil e Irajá (tupiniquins). Ao todo, são cerca de 1.500 índios. Os indígenas da aldeia Comboios aceitaram um acordo com a Aracruz e não participam mais do movimento.
As terras ocupadas pela Aracruz Celulose são reivindicadas pelos índios desde os anos 70. Lideranças indígenas acusam a empresa de ter comprado terras de grileiros, que teriam conseguido titular, junto ao Estado, áreas da União, originalmente ocupadas por indígenas.
Os índios baseiam sua reivindicação em estudo da Funai que concluiu que os indígenas têm direito a 13.579 hectares. Segundo os índios, ao dar seu despacho, Rezende se baseou em outro documento, de 79, e concedeu apenas 2.571 hectares.
O gerente de Meio Ambiente da Aracruz Celulose, Carlos Alberto Roxo, confirmou ontem a presença de representantes da empresa na negociação de segunda. Ele disse que a proposta da Aracruz (aceitar os 2.571 hectares e dar US$ 3 milhões aos índios em dez anos) está mantida.



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