São Paulo, sábado, 20 de abril de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES

D. Jayme faz apelo por "voto consciente" e pede que população "não brinque, porque depois vai pagar quatro anos"

"Povo será enganado de novo", diz CNBB

PAULO DANIEL FARAH
ENVIADO ESPECIAL A INDAIATUBA

O presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), d. Jayme Henrique Chemello, 69, fez um apelo ontem por um voto consciente nas eleições presidenciais e disse que "é preciso que o povo se dê conta de que ele já foi enganado e de que ele vai ser enganado de novo".
"Eu sou apartidário, pela obrigação, pelo dever, mas o partido é muito importante. O povo deve olhar como vota. É preciso que o povo se dê conta de que ele já foi enganado e de que ele vai ser enganado de novo. Eu peço um voto consciente, que ele não brinque porque depois vai pagar quatro anos, vai amargar", afirmou d. Jayme em entrevista coletiva durante o encerramento da 40ª Assembléia Geral da CNBB no mosteiro de Itaici, bairro de Indaiatuba (interior de SP).
A assembléia deste ano comemorou o jubileu de ouro da CNBB, fundada em 1952.
"Gostaria que o povo pudesse fazer um voto consciente, verdadeiro e para o bem do país. Este é nosso apelo: que votem conscientes. A CNBB não tem nenhuma opção de partido por ora, a não ser que venha daqui para a frente algo. A única coisa que já fizemos foi entrar em contato com o Tribunal Superior Eleitoral no sentido de não permitir a corrupção eleitoral, para que não se vendam votos", declarou d. Jayme a respeito de um eventual apoio dos bispos da Igreja Católica brasileira a algum partido.
"Há quem pense: "Não vou ganhar nada, um saquinho de leite já é alguma coisa". Quando a gente está na fome mesmo, não dá para pensar muito. Orientamos as pessoas para que conheçam os candidatos e os partidos. Queremos que a corrupção não aconteça, porque ela é muito grave. Tem gente que ganha os votos porque usa dinheiro e outras coisas."
Sobre a receptividade do TSE ao pedido de investigação de possíveis irregularidades eleitorais, d. Jayme afirmou que "disseram que vão trabalhar, unidos, porque eles também querem evitar a corrupção. E só podem dizer isso. Se um tribunal eleitoral dissesse o contrário, seria melhor que ele se demitisse. Seria mais ou menos entregar o galinheiro para a raposa".
Questionado se existe uma tendência da igreja de votar em candidatos que tenham propostas de combate à fome e à miséria, respondeu: "Temos de ver bem se na história do partido há esperança de que ele cumpra o que diz. Tem muita gente que na época da eleição aceita tudo".
O presidente da CNBB voltou a pedir uma auditoria independente para avaliar os juros da dívida externa. "Há quem diga que nós já pagamos a dívida mais de uma vez", argumentou.

Pedofilia
D. Jayme também se manifestou a respeito dos casos de escândalos sexuais envolvendo padres, incluindo acusações de pedofilia que vieram à tona recentemente.
"É preciso ver se tudo é verdade. Quando se constata que houve o crime, ele deve ser punido. Queremos a verdade", afirmou. "Esse é um problema relativamente novo que está sacudindo o mundo inteiro." Sobre o celibato clerical, foi mais incisivo: "É um assunto muito reservado ao santo padre [o papa João Paulo 2º]".


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