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QUESTÃO MILITAR
Presidente pede estudo de financiamento de casa própria à categoria
Lula diz que país se orgulha de
militares e promete reajuste
WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva tentou ontem acalmar os
ânimos dos militares ao prometer
que as suas "legítimas aspirações
serão contempladas", referindo-se indiretamente à reivindicação
de reajuste de pagamento feita
publicamente pelos comandantes
das três Forças Armadas.
Lula, entretanto, não fez nenhuma promessa concreta, deixando
de mencionar o índice de reajuste
e a data que entraria em vigor.
Também não disse de onde viriam os recursos para aumentar
os soldos. Mas afirmou que pediu
ao Ministério das Cidades e à Caixa Econômica Federal (CEF) estudo para um programa de financiamento da casa própria específico para militares.
As incertezas quanto ao reajuste
haviam levado os comandantes
do Exército, da Marinha e da Aeronáutica a manifestar publicamente sua insatisfação. No início
do mês, Francisco Albuquerque
(Exército), disse ser "realmente
necessário haver uma atualização
dos soldos dos militares".
Há cerca de duas semanas,
questionado se haveria aumento,
o ministro Guido Mantega (Planejamento) respondeu: "Não tem
discussão para os militares".
Ontem, Lula discursou diante
dos três comandantes -além de
Albuquerque, Luiz Carlos Bueno
(Aeronáutica) e Roberto Guimarães Carvalho (Marinha)- e do
ministro da Defesa, José Viegas
Filho. Ele quebrou a tradição, já
que presidentes não costumam
discursar na solenidade comemorativa do Dia do Exército.
"A sociedade brasileira tem orgulho dos senhores e das senhoras, e o Estado brasileiro não deixará de traduzir em termos concretos o reconhecimento que sua
dedicação e compromisso público tão claramente merecem. Conheço bem, como comandante
das Forças Armadas, os anseios
pessoais e as dificuldades por que
passam os militares", disse.
O presidente lembrou que já
manifestou em diversas ocasiões
a opinião de que um país só é forte
e respeitado quando tem Forças
Armadas compatíveis com a sua
estatura econômica e com seu papel na comunidade internacional.
"Um tratamento condigno com
o elevado serviço que prestam
nossas Forças Armadas ao país é
de inteira justiça e será assegurado pelo meu governo."
Em seguida, afirmou: "As suas
legítimas aspirações serão contempladas. Trata-se de uma questão de justiça, que o meu governo
tem determinação de atender". O
presidente também reafirmou
seu compromisso de recuperar a
capacidade operativa das Forças.
Depois de ter sido advertido por
Viegas de que não deveria voltar a
falar publicamente de questões
salariais, o comandante do Exército não tocou no assunto.
O Ministério da Defesa fez três
propostas de reajuste, que estão
sendo examinadas pelo Ministério do Planejamento. A maior
prevê reajuste linear de 35%, enquanto as outras sugerem reajustes médios de 32% e 28%. Nos últimos dias, após sinalizar que os
militares poderiam não ter aumento, o governo divulgou especulações de reajuste linear de 10%.
Demais servidores
Lula também voltou a criticar o
governo FHC, afirmando que o
funcionalismo público entra em
greve por ter ficado os últimos oito anos sem receber aumento salarial. "É normal que essas pessoas queiram receber reajuste."
Já Mantega foi mais duro e afirmou que o governo não vai ceder
a pressões. Segundo ele, a proposta de reajuste anunciada há duas
semanas é a última oferta do governo. "Não é quem grita mais
que leva", disse.
No Senado, cerca de 20 agentes
da Polícia Federal, que estão em
greve por reajuste salarial, fizeram
um protesto contra o ministro
Márcio Thomaz Bastos (Justiça),
que participava de uma audiência. Eles viraram de costas para o
ministro, ficaram assim por 20
minutos e se retiraram.
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