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JANIO DE FREITAS
A oportunidade
Os sinais estão todos aí.
Dentro do governo e fora
dele, no país. Mas não sei se
mais dentro ou mais fora, tantos
e tão embaralhados são uns e
outros. O que ajuda a explicar
essa constatação-quase-lamentação: nunca vi, tenho certeza de
que nunca vi, um governo que
me parecesse mais difícil de entender. Ou impossível.
Os sinais de governo desnorteado são cabais, diários e incessantes. Estão nas reuniões palacianas que nada resolvem, nas
divergências internas que não se
solucionam, na inutilidade dos
ministérios a que são negadas
suas verbas vitais, na inexistência de programa, na incompatibilidade total entre o que o governo é e o que Lula diz. Na fermentação social que se acelera,
na continuada vulnerabilidade
do país ao mero palpite de um
banco de especulação estrangeira, no desalento dos setores produtivos e comerciais.
O que pretende o núcleo de petistas que assumiu o poder? Não
sei e não sei de quem saiba.
Seria apenas fazer transações
políticas, a maioria delas no nível de politicagem fisiológica, a
ponto de não se saber mais se o
governo é petista ou do PMDB?
E pagar juros até que os cofres
dos que ganham não agüentem
mais tanto lucro? Ou os cofres
públicos do país não tenham
mais com que pagar? Se não for
isso, que isso é tudo ao se completar um terço do mandato,
não sei de quem possa dizer, de
modo convincente, que outros
propósitos têm, de fato, os que
fazem a cara e a alma do governo. Ou do não-governo.
A incompetência explica parte
do caráter deletério do governo
Fernando Henrique, que não
soube sair da armadilha implícita em sua política econômica.
A outra parte se explica pelo elitismo do próprio Fernando Henrique, bastante para determinar
a natureza do seu governo. E o
governo Lula? A incompetência
para sair da mesma armadilha
é, no mínimo, idêntica à do antecessor. Mas a incompetência
nunca é tudo, porque não nega a
possibilidade de procura além
de si mesma. Então se cai outra
vez na dificuldade de compreender o que é, como é, por que é o
governo Lula. E por que não é
um governo.
Ouvi há poucos dias: "O governo Lula acabou antes de começar". Se não acabou, mesmo, foi
só por não ter feito o indispensável para acabar: começar. Incompreensível, ainda mais se
pensarmos na oportunidade que
se esvai, entre as mãos de pessoas que não sei o que pretendem.
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