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Em ano eleitoral, deputados elevam gasto com divulgação
Despesas para promoção do mandato chegam a R$ 3 milhões de janeiro a março
Dinheiro é usado na compra de reportagens na imprensa local e na confecção de cartões de felicitação e de livretos com discursos
MARIA CLARA CABRAL
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em pleno ano eleitoral, gastos de deputados federais com a
verba para divulgação de seus
mandatos alcançou R$ 3 milhões de janeiro a março, aumento de 44% em relação ao
mesmo período de 2007.
O dinheiro público foi usado
principalmente por quem é
pré-candidato a prefeito em
outubro -em média 50% a
mais do valor usado pelos não-candidatos- e financiou desde
a confecção de cartões de felicitação e livretos de discursos,
distribuídos a eleitores, à compra de "reportagens" na imprensa regional.
Dos 30 que mais usaram o dinheiro fornecido pela Câmara,
15 são pré-candidatos a prefeito ou tiveram seus nomes cotados para concorrer.
Vários dos deputados reconhecem que a verba mensal de
R$ 15 mil destinada a eles pela
Câmara ajuda a promovê-los
em seus Estados, sendo que alguns admitem indiretamente o
uso da máquina pública.
"E o candidato do prefeito,
que vai ter a máquina da prefeitura ao seu dispor? E o candidato do governador?", argumenta
Gastão Vieira (MA), pré-candidato do PMDB à Prefeitura de
São Luís, quando questionado
se considera ter obtido benefício eleitoral pelo uso de R$ 28
mil para produção de blog e
cartões de felicitação.
Criada em 2001 na gestão de
Aécio Neves (PSDB), a "divulgação do mandato" está prevista na chamada "verba indenizatória", que destina R$ 15 mil
mensais a cada deputado. Por
ato da Mesa, a divulgação só pode ocorrer até 180 dias antes
das eleições (neste ano, 8 de
abril). Depois, os deputados
continuam recebendo a verba
indenizatória, mas o gasto com
a propaganda fica proibido.
Entre os deputados que mais
gastaram com a divulgação de
mandato em 2008, alguns confirmaram que utilizam o dinheiro para comprar supostas
"reportagens" na imprensa regional, entre eles Enio Bacci
(PDT-RS), que teve o nome cotado para concorrer à Prefeitura de Porto Alegre.
"É um apoio que se dá para
divulgar nosso trabalho. São
geralmente jornais que não sobrevivem sem esse apoio", afirmou Bacci, que gastou R$ 25,2
mil. A compra de reportagens
em jornais e rádios do interior
-sem que o cidadão saiba que a
"notícia" é paga- é prática comum no Congresso sob o argumento de que esses órgãos de
imprensa não divulgariam as
notícias dos deputados caso
não houvesse pagamento.
Leonardo Quintão (PMDB-MG) aparece em primeiro lugar
no ranking dos pré-candidatos
com mais gastos. O deputado,
que pretende concorrer à Prefeitura de Belo Horizonte, usou
R$ 37,6 mil nos três primeiros
meses deste ano para, segundo
ele, a confecção de mais de 20
mil jornais informativos. "Tive
116 mil votos em Minas, fui o
mais votado da coligação, por
isso opto por usar o dinheiro
para manter o meu eleitorado.
Quem tem mais voto tem dificuldades em mantê-los", afirmou. A assessoria do parlamentar também admitiu que o gabinete fez o máximo de publicidade que podia no primeiro trimestre deste ano, pois a
divulgação do mandato não pode ocorrer mais em abril.
Entre os "gastadores" que
devem concorrer em outubro
também está Uldorico Pinto,
pré-candidato em Teixeira de
Freitas, na Bahia. Ele gastou R$
36 mil nos três primeiros meses do ano com a confecção de
livretos com seus discursos na
Câmara. Na capa há uma foto
grande do deputado sorridente,
com seu nome e partido, e a frase: "Tributo de um povo".
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