São Paulo, domingo, 20 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lula culpa EUA e petróleo por inflação global

Para presidente, custo do frete e política americana de usar milho na produção de biocombustível pressionam preço de alimentos

Em visita à Gana, brasileiro também criticou europeus e convocou países pobres a ser armarem para "guerra comercial" contra os ricos

FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A ACRA (GANA)

Ao chegar para uma visita oficial de três dias a Gana, no oeste africano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou ontem a estratégia de defender os biocombustíveis atacando países ricos, sobretudo os EUA.
"Na política de biocombustíveis, só tem um equívoco, que é a decisão americana de produzir álcool do milho", afirmou Lula, ao lado de John Kufuor, presidente ganense.
"Não aceitamos que outra vez os países mais pobres paguem a conta. Dizer que os biocombustíveis causaram o aumento do preço do alimento é perguntar: onde se produz biodiesel?", questionou, insinuando uma possível razão política dos países ricos no ataque.
O mote de que a melhor defesa é o ataque deve se repetir hoje e amanhã, quando Lula participará da reunião da Unctad, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento.
Como raras vezes se viu numa viagem sua, Lula estará na defensiva, sendo obrigado a justificar sua opção pelos biocombustíveis e a rebater a crítica de que eles ajudam a causar a inflação global de alimentos. Ele recebeu o apoio de Kufuor.
Ontem, Lula também culpou o petróleo pela inflação. "É importante que as pessoas tenham a responsabilidade de dizer que o preço dos alimentos se deve muito mais ao custo do frete causado pelo preço do petróleo do que pelo biodiesel." Para ele, é "estranho" que não se critique o salto no preço do barril do petróleo, que anteontem fechou em US$ 113,92 -alta de 7,92% em um mês.
Sobrou também para a União Européia, que, segundo Lula novamente insinuou, estaria sendo incoerente nas críticas. "A própria União Européia já tomou a decisão de até 2020 introduzir 10% de biocombustíveis na gasolina." Ele lembrou que quase todos os países assinaram o Protocolo de Kyoto, para acabar com a dependência dos combustíveis fósseis.
O presidente brasileiro convocou os países pobres a se armarem para uma "guerra comercial" contra o mundo rico, tanto na discussão sobre a Rodada Doha como no debate sobre a produção alimentar. "Os países africanos, asiáticos, latino-americanos terão de enfrentar uma verdadeira guerra comercial sobre a questão da produção agrícola, em dois níveis: na OMC e no aumento da produção de alimentos."
Mais tarde, aos jornalistas, Lula expandiu suas críticas aos EUA, dizendo não ser recomendável utilizar-se de produtos alimentícios como base da produção de biocombustível. "Eu gostaria que os Estados Unidos comprassem do Brasil, mas eles querem produzir [do milho], então problema deles".
Lula disse estar feliz de "enfrentar o debate" e que chamou uma conferência internacional sobre biocombustíveis para o Brasil em novembro, com a presença de chefes de Estado, cientistas e ONGs.


Texto Anterior: Janio de Freitas: General quer apito
Próximo Texto: Juro maior não pára expansão, vê presidente
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.