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Parentes ganham bilhetes de membros do Conselho de Ética
Um terço dos integrantes do órgão na Câmara usou cota com viagens para cidades como Londres, Paris e Miami
Deputados se amparam no regimento da Casa para justificar a emissão de 35 passagens aéreas para pontos turísticos no exterior
LEONARDO SOUZA
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um terço dos integrantes do
Conselho de Ética da Câmara,
órgão responsável por julgar
eventual quebra de decoro dos
deputados, emitiu pelo menos
35 passagens para o exterior
em seus próprios nomes ou no
de terceiros, incluindo parentes, amigos e funcionários.
Todos os destinos são cidades que recebem grande fluxo
de turistas anualmente: Londres, Paris, Milão, Miami e
Buenos Aires.
Os dados constam dos registros de companhias áreas, aos
quais a Folha teve acesso.
Além de cinco titulares do conselho, os suplentes Marcelo
Melo (PMDB-GO) e Fernando
Coruja (PPS-SC), líder de seu
partido na Câmara, financiaram mais 19 viagens para fora
do país com dinheiro da Casa.
Ou seja, foram no mínimo 54
bilhetes da cota área dos sete
congressistas.
"É claro que é ruim [para sua
própria imagem], mas entendia-se que era legal. Agora, valor moral muda conforme a
época. A população não suporta mais isso. Então não vou
mais passar para terceiros nem
usar bilhetes da Câmara para o
exterior", disse Coruja.
Dagoberto Nogueira (PDT-MS) bancou 16 passagens para
familiares e funcionários, tendo como destino Miami, Paris,
Milão e Buenos Aires. Em seu
próprio nome, foram mais dois
bilhetes -para Estados Unidos
e Itália. Questionado sobre o
motivo das viagens, disse não
se lembrar. "Ah, meu Deus do
céu, deixa eu ver o que que é",
respondeu ele. Até o fechamento desta edição, contudo,
ele não ligou de volta.
Já Moreira Mendes (PPS-RO) levou mulher e filho para
Miami, em agosto do ano passado, com as passagens dos três
pagas pela Câmara. Ele não
quis dizer a que se referiu a viagem. "O uso das passagens aéreas é a critério do deputado. O
que eu fui fazer lá [Miami] é
problema meu", ressaltou Moreira Mendes.
Waldir Maranhão (PP-MA)
emitiu três bilhetes aéreos para
Londres, entre dezembro de
2007 e setembro do ano passado. Os beneficiários foram Gabriela e Carlos Roberto Paschoal e Paulo Santos. A Folha
não conseguiu localizar o deputado ontem.
Ruy Pauletti (PSDB-RS)
emitiu seis passagens, sendo
duas para Paris, duas para Milão e mais duas para Miami. Somente um trecho, o de Paris,
foi em nome do deputado.
Já no caso de Nazareno Fonteles (PT-PI) -cinco bilhetes
em nome de terceiros para
Miami-, o deputado não reconheceu os beneficiários. Ele
disse achar que as passagens
possam ter sido emitidas ilegalmente de sua cota.
Fernando Coruja reconheceu ter bancado as passagens
para familiares e uma funcionária para Paris e Buenos Aires. Ele contestou, contudo,
quatro bilhetes em nome de
terceiros para Miami.
Marcelo Melo emitiu passagens para si e familiares para
Miami e Buenos Aires. A reportagem não conseguiu localizá-lo para explicar as razões.
Novas regras
Na semana passada, a Câmara e o Senado divulgaram normas para delimitar o uso do benefício. Mas os deputados não
alteraram as regras em relação
às viagens ao exterior, permitindo que a prática continue.
Nas últimas semanas foram
tornadas públicas informações
dando conta de que o uso da cota aérea a que cada deputado federal tem direito foi utilizada,
em larga escala, para viagens ao
exterior dos próprios parlamentares, de seus familiares e
de terceiros.
A prática foi utilizada por integrantes da Mesa Diretora e
por alguns dos líderes de partidos, entre outros. O orçamento
do Congresso para despesas
com passagens aéreas hoje é de
cerca de R$ 80 milhões anuais.
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