São Paulo, segunda-feira, 20 de abril de 2009

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Parentes ganham bilhetes de membros do Conselho de Ética

Um terço dos integrantes do órgão na Câmara usou cota com viagens para cidades como Londres, Paris e Miami

Deputados se amparam no regimento da Casa para justificar a emissão de 35 passagens aéreas para pontos turísticos no exterior

LEONARDO SOUZA
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um terço dos integrantes do Conselho de Ética da Câmara, órgão responsável por julgar eventual quebra de decoro dos deputados, emitiu pelo menos 35 passagens para o exterior em seus próprios nomes ou no de terceiros, incluindo parentes, amigos e funcionários.
Todos os destinos são cidades que recebem grande fluxo de turistas anualmente: Londres, Paris, Milão, Miami e Buenos Aires.
Os dados constam dos registros de companhias áreas, aos quais a Folha teve acesso. Além de cinco titulares do conselho, os suplentes Marcelo Melo (PMDB-GO) e Fernando Coruja (PPS-SC), líder de seu partido na Câmara, financiaram mais 19 viagens para fora do país com dinheiro da Casa.
Ou seja, foram no mínimo 54 bilhetes da cota área dos sete congressistas.
"É claro que é ruim [para sua própria imagem], mas entendia-se que era legal. Agora, valor moral muda conforme a época. A população não suporta mais isso. Então não vou mais passar para terceiros nem usar bilhetes da Câmara para o exterior", disse Coruja.
Dagoberto Nogueira (PDT-MS) bancou 16 passagens para familiares e funcionários, tendo como destino Miami, Paris, Milão e Buenos Aires. Em seu próprio nome, foram mais dois bilhetes -para Estados Unidos e Itália. Questionado sobre o motivo das viagens, disse não se lembrar. "Ah, meu Deus do céu, deixa eu ver o que que é", respondeu ele. Até o fechamento desta edição, contudo, ele não ligou de volta.
Já Moreira Mendes (PPS-RO) levou mulher e filho para Miami, em agosto do ano passado, com as passagens dos três pagas pela Câmara. Ele não quis dizer a que se referiu a viagem. "O uso das passagens aéreas é a critério do deputado. O que eu fui fazer lá [Miami] é problema meu", ressaltou Moreira Mendes.
Waldir Maranhão (PP-MA) emitiu três bilhetes aéreos para Londres, entre dezembro de 2007 e setembro do ano passado. Os beneficiários foram Gabriela e Carlos Roberto Paschoal e Paulo Santos. A Folha não conseguiu localizar o deputado ontem.
Ruy Pauletti (PSDB-RS) emitiu seis passagens, sendo duas para Paris, duas para Milão e mais duas para Miami. Somente um trecho, o de Paris, foi em nome do deputado.
Já no caso de Nazareno Fonteles (PT-PI) -cinco bilhetes em nome de terceiros para Miami-, o deputado não reconheceu os beneficiários. Ele disse achar que as passagens possam ter sido emitidas ilegalmente de sua cota.
Fernando Coruja reconheceu ter bancado as passagens para familiares e uma funcionária para Paris e Buenos Aires. Ele contestou, contudo, quatro bilhetes em nome de terceiros para Miami.
Marcelo Melo emitiu passagens para si e familiares para Miami e Buenos Aires. A reportagem não conseguiu localizá-lo para explicar as razões.

Novas regras
Na semana passada, a Câmara e o Senado divulgaram normas para delimitar o uso do benefício. Mas os deputados não alteraram as regras em relação às viagens ao exterior, permitindo que a prática continue.
Nas últimas semanas foram tornadas públicas informações dando conta de que o uso da cota aérea a que cada deputado federal tem direito foi utilizada, em larga escala, para viagens ao exterior dos próprios parlamentares, de seus familiares e de terceiros.
A prática foi utilizada por integrantes da Mesa Diretora e por alguns dos líderes de partidos, entre outros. O orçamento do Congresso para despesas com passagens aéreas hoje é de cerca de R$ 80 milhões anuais.


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