Ironia do destino

Até a véspera da Operação Navalha, os senadores Renan Calheiros (AL) e José Sarney (AP) contavam com a ajuda de Silas Rondeau para barrar a pretensão dos colegas peemedebistas da Câmara de instalar Luiz Paulo Conde na presidência de Furnas. Agora, a dupla se dará por satisfeita se o ministro das Minas e Energia lograr permanecer no cargo.
No Palácio do Planalto, há quem comemore discretamente o estrago causado pela operação da PF. As prisões efetuadas desde quinta-feira liberaram um punhado de cargos para oferecer ao pessoal que está na fila por uma vaga no segundo escalão.

Um exemplo. A prisão do presidente da Companhia Energética do Piauí, Jorge Targa Juni, deve precipitar sua substituição pelo ex-presidente dos Correios João Henrique. Targa Juni era ligado ao deputado Alberto Silva, por sua vez próximo de Sarney. Henrique é apadrinhado do presidente do PMDB, deputado Michel Temer. Ir e vir. Zuleido Veras não é o único empreiteiro com presença assídua na casa de Renan Calheiros. O lobista Cláudio Gontijo, prestador de serviços à construtora Mendes Júnior, também é visto com freqüência ali.

Quem é quem. Dos alagoanos presos, Enéas Alencastro é homem da estrita confiança do governador Teo Vilela (PSDB). Já Adeilson Bezerra, secretário de Infra-estrutura e presidente do PMDB local, é de Renan.

Elos. Marcos Alessandro Coutinho Passos Lobo, que em 2005 protocolou representação ao Ministério Público do Maranhão que deu origem à Operação Navalha, foi advogado da campanha de Roseana Sarney (PMDB) para o governo estadual em 2006.

Nuance. Segundo amigo dos Sarney, o clã não vê motivo para festejar a prisão do arquiinimigo José Reinaldo Tavares porque Zuleido Veras, o dono da Gautama, é próximo de pai e filha. "Ele sempre agiu no Estado, mas com o Zé Reinaldo ficou mais ousado", diz um peemedebista.

Eu não. O líder do PP na Câmara, Mário Negromonte (BA), nega ser amigo de Zuleido Veras e diz que nunca apresentou emendas para obras da Gautema. Negromonte atribui a tentativa de ligá-lo ao preso à disputa entre partidos pelas nomeações do segundo escalão.

Destino certo. Lula disse a 14 embaixadores não-residentes com os quais almoçou na semana passada que pretende viajar a sete países da África por ano até o final de seu governo. No primeiro mandato, visitou 17.

Enciclopédia. No recém-lançado livro "O que Esperar do Novo Congresso", editado em parceria pelo Diap e pelo site Congresso em Foco, apenas dois deputados ocupam uma página inteira com seus perfis. Um é Arlindo Chinaglia (PT-SP), por ser presidente da Câmara. O outro é Paulo Maluf (PP-SP), devido à longa relação de denúncias a que responde e a suas explicações para cada uma delas.

Cabidão 1. A moda de enfiar contrabandos em matérias durante as discussões na Câmara ameaça aumentar de dez mil para cerca de 300 mil os beneficiados pela proposta de emenda constitucional 54, que regulariza a situação de funcionários deixados à margem pela criação do regime único do servidor em 1988.

Cabidão 2. A PEC, apresentada originalmente em 1999 pelo então deputado Celso Giglio (PSDB-SP), beneficiaria apenas os servidores municipais, estaduais e federais na ativa em 1988 que, por falhas, não tiveram a situação regularizada. Emendas já apresentadas incluem terceirizados, cargos de confiança e pessoas contratadas depois da adoção do regime.

Tiroteio

Ato de corrupção não tem partido.
É deformação de caráter.

Fazia calor intenso durante a inauguração, comandada por Lula na sexta-feira, de uma usina de biodiesel em Porto Nacional (TO). Ao colocar um boné que lhe foi atirado pelo público, o presidente aproveitou para fazer um comentário na linha "nunca antes na história deste país":
-É a primeira vez que vejo o palanque das autoridades de frente para o sol e o povo na sombra!
A platéia aplaudiu com entusiasmo, mas o próprio Lula, suando em bicas, completou:
-Estou elogiando aqui, na frente de vocês. Depois vou pegar os organizadores do evento e ter uma conversinha...


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