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PF investiga envolvimento de Rondeau
Suspeita é de fraude no programa "Luz para Todos"; a polícia chegou a discutir o pedido de prisão do ministro de Minas e Energia
Investigações apontam para o pagamento de propina
em março a "autoridades
do ministério"; o ministro
não comentou o assunto
ANDREZA MATAIS
DA FOLHA ONLINE, EM BRASÍLIA
RANIER BRAGON
SILVANA DE FREITAS
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal e o Ministério Público Federal apuram o
suposto envolvimento do ministro Silas Rondeau (Minas e
Energia) no esquema de fraude
de obras públicas desmontado
pela Operação Navalha.
A suspeita recai sobre fraude
na instalação de uma das etapas
do programa "Luz para Todos"
no Piauí, em 2006. As investigações, ainda extra-oficiais,
apontam para o pagamento de
propina em março de 2007 a
"autoridades do Ministério de
Minas e Energia".
O "Painel" revelou na edição
de ontem que, momentos antes
da deflagração da operação, na
manhã de quinta-feira, chegou
a ser discutido o pedido de prisão de Silas Rondeau.
"Afirma o Ministério Público
Federal que a entrega do dinheiro teria ocorrido no dia 13
de março de 2007, tendo a autoridade policial acompanhado
o transporte do dinheiro de Salvador para Brasília. (...) Mas esse fato específico, por envolver
autoridade com prerrogativa
de foro, será oportunamente
deduzido perante a autoridade
judiciária competente", diz o
despacho da ministra do STJ
(Superior Tribunal de Justiça)
Eliana Calmon, que chefia as
investigações.
Eliana se refere ao pagamento da propina pela construtora
Gautama a "autoridades do Ministério de Minas e Energia"
pela suposta fraude no Luz para Todos, um dos principais
programas do governo Lula. O
dinheiro, segundo consta no inquérito da PF, teria sido entregue por Fátima Almeida, braço-direito do dono da empreiteira,
Zuleido Veras.
O foro a que a juíza se refere é
o STF (Supremo Tribunal Federal), órgão responsável pelas
investigações criminais contra
os ministros de Estado e os
congressistas.
Procurada pela Folha, a ministra do STJ confirmou que
existe suspeita sobre uma pessoa com direito a foro no Supremo, mas disse não saber o
nome dela. Calmon declarou,
também, que a investigação
não conseguiu ainda avançar
nesse ponto.
A PF não quis se pronunciar
sobre a suspeita. Policiais afirmaram à Folha que não há investigação oficial hoje em curso -até porque só poderiam
detonar uma com o aval do Supremo. Mas reconheceram que
as primeiras varreduras da Navalha "bateram em Silas".
O procurador-geral da República, Antonio Fernando de
Souza, disse à Folha que "ainda não há" inquérito no STF
contra um ministro de Estado,
sugerindo que isso pode ocorrer nos próximos dias.
A assessoria de imprensa do
ministério foi procurada pela
Folha ontem no fim da manhã
sobre o possível envolvimento
do ministro.
A reportagem foi informada
de que não seria possível uma
resposta até o fechamento da
primeira edição do jornal, mas
que o ministro poderia se explicar depois.
À tarde, a assessoria de imprensa informou que não havia
conseguido contato com o ministro e que nada poderia dizer
sobre o assunto.
"O Ministério Público é que
faz essa colocação, mas não bota [o nome] porque no momento a investigação não chegou lá
[no STF]. Apenas há uma possibilidade de que a pessoa que recebeu [a propina] seja intermediária de outra autoridade, essa
com possível prerrogativa de
foro [no STF], e que a gente não
sabe de quem se trata ainda,
porque se soubesse já ia para o
Supremo direto e a gente não
teria esse trabalhão", afirmou
Eliana Calmon à Folha.
A ministra disse que a identificação dos personagens é prejudicada pelo modo de ação das
quadrilhas organizadas.
"No momento, a gente não
tem idéia de quem seja, porque
no crime organizado eles trabalham sempre com intermediários e, se a gente for olhar, as
autoridades mais importantes
não botam a mão na massa, é
sempre através de interpostas
pessoas. E essas interpostas
pessoas falam sempre de forma
codificada. É o "chefe", é "fulano", não botam o nome completo", disse Calmon.
Silas Rondeau, ligado ao ex-presidente José Sarney, é
apontado como um técnico
com capacidade para formular
e gerir programas. Um de seus
principais assessores, Ivo Almeida Costa, foi preso pela PF
sob a acusação de participar da
fraude no Luz para Todos.
Nos últimos dias, Silas Rondeau havia dito que não poderia ser responsabilizado por
atos de seus assessores. "Cada
um responde por si, responde
pelos seus atos. Eu tenho 30 assessores, não vou responder
por A, B ou C."
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