São Paulo, domingo, 20 de maio de 2007

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Diretor da PF pede cautela ao analisar lista

Delegado Renato Porciúncula quer que sua equipe separe ações legítimas das motivadas por recebimento de propina

Lista de parlamentares e governadores com valores supostamente pagos a eles foi apreendida na sede da construtora Gautama

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O diretor de inteligência da Polícia Federal, Renato Porciúncula, afirmou ontem ter pedido cautela à sua equipe na análise da lista apreendida na sede da construtora Gautama com nomes de parlamentares e governadores associados a valores supostamente de propinas pagas pela empreiteira.
De acordo com o delegado, os policiais devem separar o joio do trigo, ou seja, diferenciar ações legítimas, de busca de liberação de verbas para obras, de ações motivadas por recebimento de vantagem.
"Fiz uma reunião com o pessoal que vai fazer a análise e pedi cautela para separar as ações de deputados e senadores em busca de verbas do que é corrupção", afirmou o delegado.
Segundo Porciúncula, "o simples fato de aparecer o nome de um deputado e de um senador em busca de verbas [para obras públicas] não significa irregularidade".
"Ir ao ministério insistir, pedir liberação de verbas, isso é legítimo. O que não pode é cobrar por isso", afirmou.
A lista com nome de congressistas e governadores supostamente envolvidos foi apreendida anteontem. A relação dos primeiros 46 envolvidos no escândalo não citava ninguém do Congresso. A Polícia Federal diz que a análise do material começará a ser feita amanhã.
No ano passado, a apreensão da contabilidade da empresa Planam, pertencente à família Vedoin, apontada como a chefe do esquema dos sanguessugas (venda de ambulâncias superfaturadas a prefeituras), causou enorme repercussão no Congresso Nacional.
Apesar de mais de duas centenas de nomes terem aparecido nos papéis, só 72 congressistas foram acusados pela CPI dos Sanguessugas. Nenhum dos processados por quebra do decoro parlamentar foi condenado a perda de mandato.
Os outros tiveram, segundo os trabalhos da CPI, apenas suas emendas ao Orçamento da União acompanhadas pela quadrilha; ou seja, não teriam participado do esquema.

Último preso
A PF prendeu ontem o servidor público de Camaçari (BA) Zaqueu de Oliveira Filho. Ele era o último suspeito com a prisão decretada que estava solto.
Oliveira Filho compareceu espontaneamente à Superintendência da PF, disse a polícia. No despacho da ministra do STJ Eliana Calmon, que autorizou os mandados de prisão, ele é acusado de se envolver no direcionamento de recursos do Ministério das Cidades para obras em Camaçari, numa fraude que envolveu a Gautama.
Segundo o despacho da ministra, ele pediu duas vezes à empresa passagens aéreas e hospedagem em hotéis para ele e para o prefeito de Camaçari, Luiz Carlos Caetano (PT-BA).
Até a noite de sexta, dois dos presos foram soltos: o advogado Flávio Conceição de Oliveira Neto e o ex-deputado José Ivan de Carvalho Paixão (SE).
Os presos poderão rever seus familiares na quarta-feira. Até lá, passarão os dias sem telefone, TV, jornais ou revistas. Segundo a PF, as setes celas da carceragem em Brasília foram divididas entre os homens. As duas mulheres detidas ficam em ambiente separado.
No primeiro dia de prisão, os advogados, que têm livre acesso aos presos, puderam levar roupas de cama, peças de vestuário e produtos para higiene. "O tratamento foi muito respeitoso por parte dos policiais", disse Wellington Medeiros, advogado de Ernani Soares Filho.
Os detidos têm três refeições por dia: às 7h, com café, leite, pães e frutas; no almoço, às 12h, e no jantar às 18h, são servidos arroz, feijão, carnes e saladas. A PF não informou a dimensão das celas, onde não há janela.
Se quiserem levar lanche aos presos, os parentes não podem ultrapassar uma lista de quatro maçãs, quatro goiabas, quatro pêras, quatro litros de suco em embalagem plástica e um quilo de biscoito sem recheio. São permitidos escova dental, desodorante roll-on, condicionador, xampu e pente de plástico.


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