São Paulo, domingo, 20 de junho de 2004

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REFÉM DA BASE

Emenda, já rejeitada uma vez, não teve respaldo público do presidente

Lula paga preço de crise e deve apoiar reeleição no Congresso

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá apoiar a emenda constitucional que permitiria a reeleição dos presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), para seus respectivos postos por mais dois anos a partir de fevereiro do ano que vem.
A Folha apurou que Lula avalia que esse é o preço político que deve pagar para estabilizar sua base no Congresso após a acachapante derrota da última quinta-feira no Senado da MP (medida provisória) que reajustou o salário mínimo de R$ 240 para R$ 260.
O Senado derrotou Lula ao elevar o mínimo para R$ 275. Agora, a MP retorna à Câmara, onde terá votação definitiva, provavelmente na terça ou quarta-feira. O valor de R$ 260 deverá ser reconfirmado. Na Câmara, o valor de R$ 275 já foi votado e derrotado uma vez por 266 a 167 votos.
Aprovado o mínimo de R$ 260 na Câmara, João Paulo, político que chegou ao cargo pelas mãos de José Dirceu, terá sua grande chance de conseguir reapresentar a emenda constitucional que permitiria a reeleição dele e de Sarney. Essa emenda da reeleição já foi rejeitada uma vez na Câmara -faltaram só cinco votos.
Para a cúpula do governo, o mapa da votação anterior facilita a busca dos votos que faltaram. É preciso apoio de dois terços das duas Casas em dois turnos de votação. Sarney, que jogou contra o mínimo de R$ 260 no Senado para dar troco ao governo pela falta de apoio à emenda da reeleição, entrará na operação em favor do mínimo desejado por Lula, para evitar que o presidente tenha de vetar os R$ 275.

Dirceu, Aldo e Renan
Os destinos de três figuras importantes de seu governo, José Dirceu (Casa Civil), Aldo Rebelo (Coordenação Política) e o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), serão a preocupação de Lula num segundo momento.
Lula já pediu que Dirceu e Aldo diminuam seu nível de atrito, principalmente da parte do chefe da Casa Civil. O PT pressiona para que Lula devolva a articulação política a Dirceu. Lula gosta de Aldo e acha que a chance de salvá-lo é melhorar a relação dele com Dirceu. Do contrário, terá um ministro com influência no PT minando o próprio governo.
Nessa última hipótese, um auxiliar de Lula diz que a tendência seria ceder à pressão do PT numa reforma ministerial pós-eleições municipais. Aldo poderia vir a substituir José Viegas (Defesa).
Outra alternativa, preferida por Lula, é que Dirceu vá presidir a Câmara, ainda que se aprove a reeleição. João Paulo seria acomodado no governo. Dificilmente na Casa Civil, pelo peso político da pasta, e provavelmente numa outra posição, como substituir Aldo. O desejo do PT em retomar a articulação se explica pelo controle da liberação de emendas parlamentares e cargos.
A compensação a Renan teria de ser bem calibrada. Ele cobra do governo compromisso pelo qual apoiaria a eleição de Sarney a presidente do Senado com a garantia de que o sucederia em 2005.
Com influência sobre parte da bancada do PMDB -14 dos 22 senadores votaram a favor do mínimo de R$ 260, como ele pedira-, Renan poderia criar problemas ao governo, facilitando abertura de CPIs. A ação dele foi fundamental para enterrar a Comissão Parlamentar de Inquérito do caso Waldomiro Diniz.
Waldomiro, ex-assessor da Casa Civil, aparece em vídeo de 2002 negociando propina com um empresário de jogos. Sua forte ligação com o chefe da Casa Civil gerou a maior crise política deste governo e está na raiz da disputa entre Aldo e Dirceu.


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