São Paulo, domingo, 20 de junho de 2004

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HISTÓRIA

Estudo usa documentos da cúria de Assunção para mostrar que conflito resultou em pelo menos 300 matrimônios

Brasileiros e paraguaias casaram após guerra

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

A Guerra do Paraguai, iniciada em 1864, resultou em ao menos 300 casamentos de militares brasileiros com paraguaias no ano de seu término, 1870, de acordo com certidões encontradas na cúria do bispado de Assunção.
A conclusão está no estudo "Sob o olhar da imprensa e dos viajantes - mulheres paraguaias na Guerra do Paraguai", dissertação de mestrado do historiador brasileiro Fernando Lóris Ortolan na Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), uma instituição de ensino gaúcha.
O estudo foi apresentado no dia 8 em Porto Alegre, em evento sobre o aniversário de 140 anos do início da guerra promovido pelo MJDH (Movimento de Justiça e Direitos Humanos) e pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).
Outra conclusão do estudo é que mulheres brasileiras seguiram seus maridos militares e participaram do conflito. Segundo o coronel inglês George Thompson, "as sargentas garantiam a ordem nos acampamentos".
"Os oficiais toleraram que as mulheres seguissem seus maridos. Sabiam que anos no campo de batalha exigiriam muito dos soldados", diz o historiador.
Um dos tantos documentos reunidos pelo historiador mostra o pedido formal de casamento feito pelo capitão Honório José Teixeira, do Rio, e pela paraguaia María Felipe Iralgo. "Achando-se amasiados e ela já grávida, desejando-se unir a esse matrimônio e estando próxima a retirada do suplicante para o Brasil, pede a Vossa Reverendíssima o pedido desta formalidade", dizem ao bispo.
Outro pedido formal ao bispado de Assunção foi feito pelo cabo José Joaquim da Silva: "Com o favor de Deus, querem casar-se o cabo do Esquadrão da 1º Bateria de Infantaria José Joaquim da Silva, filho de José Duarte da Silva e Maria Cristóvão da Silva, natural de Pernambuco e atualmente em Humaitá, com Maria Dorothea, filha de Izidro Franco e Carlota Benitez Izidro, natural de Pilar, República do Paraguai, sendo seus pais mortos".

Experiência esquecida
Relação do quartel em Humaitá, de 6 outubro de 1870, mostra mulheres que foram ao Brasil com militares brasileiros: "[...] a tropa, tendo como destino a Província do Rio Grande do Sul [...], com quatro oficiais e 159 praças, bem como 14 praças presos e 48 mulheres, sendo 28 paraguaias [...]".
Outra curiosidade apurada no estudo: houve, também, mulheres brasileiras, normalmente capturadas em Mato Grosso (hoje Mato Grosso do Sul), que acabaram por se instalar e casar no Paraguai.
Para elaborar seu estudo sobre as mulheres, o historiador recorreu especialmente à cúria de Assunção, além de jornais da época e outros documentos achados em arquivos paraguaios e brasileiros. Foi na cúria que encontrou as 300 certidões, todas microfilmadas.


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