São Paulo, quarta-feira, 20 de junho de 2007

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Recibos de senador não provam ganho de R$ 1,9 milhão

SILVIO NAVARRO
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O calhamaço de recibos, comprovantes de depósitos e cópias de cheques entregues pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ao Conselho de Ética é insuficientes para comprovar que ele recebeu R$ 1,9 milhão nos últimos anos com venda de gado.
A Folha analisou os 72 recibos, assinados de próprio punho pelo senador, emitidos a título de venda de gado de maio de 2003 a agosto de 2006. Há ainda dois deles que não estão datados. Os valores declarados foram cruzados com os extratos da conta no BB do senador.
Os papéis apresentados por Renan apresentam inconsistências. As principais delas são: 1) faltam comprovantes de depósitos; 2) só há cópia de 30% dos cheques recebidos, ou seja, não há como provar que alguns valores que estavam em sua conta na época correspondem à compra declarada; 3) notas emitidas fora da cronologia numérica; 4) duplicidade de cheques usados na mesma transação; 5) CNPJs que não conferem com dados da Receita.
A soma dos recibos não bate com o total recebido pelo senador. A diferença é de ao menos de R$ 100 mil. É difícil identificar em que momento houve as falhas porque faltam dados de algumas transações. Na sexta, Renan mandou uma segunda remessa de papéis para tentar rebater suspeitas de que as notas apresentadas eram frias.
Os recibos feitos em um computador e assinados por Renan mencionam números de algumas notas fiscais supostamente emitidas em 2006, mas sua cronologia não é lógica. É como se uma nota com número posterior tivesse saído do talão antes da nota anterior.
Também integram o calhamaço alguns recibos duplicados, cuja diferença é que um tem a assinatura do senador, e o outro, não. Há comprovantes eletrônicos de depósitos com data anterior à suposta venda. Em um dos casos, o senador anexou comprovante de 4 de agosto de 2006, no valor de R$ 19.782. O recibo foi expedido três dias depois no valor de R$ 19.780. Mas chegou ao Conselho de Ética rasurado, com o valor corrigido à caneta. Outro caso semelhante ocorreu em 13 de abril de 2004, com depósito de R$ 15,9 mil feito quatro dias antes da ratificação da venda.
Renan apresentou dois recibos que mencionam o mesmo cheque para justificar vendas em 14 de fevereiro e 7 de março. Eduardo Ferrão, que defende Renan, disse que a documentação possui recibos com "engano de digitação". O contador de Renan, José Appel, disse que "todas as vendas estão documentadas e que todos os valores entraram na conta". Segundo ele, o valor total dos recibos não confere com a movimentação do IR porque não analisou todos os recibos.


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