|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Recibos de senador não provam ganho de R$ 1,9 milhão
SILVIO NAVARRO
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O calhamaço de recibos,
comprovantes de depósitos e
cópias de cheques entregues
pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ao
Conselho de Ética é insuficientes para comprovar que ele recebeu R$ 1,9 milhão nos últimos anos com venda de gado.
A Folha analisou os 72 recibos, assinados de próprio punho pelo senador, emitidos a título de venda de gado de maio
de 2003 a agosto de 2006. Há
ainda dois deles que não estão
datados. Os valores declarados
foram cruzados com os extratos da conta no BB do senador.
Os papéis apresentados por
Renan apresentam inconsistências. As principais delas são:
1) faltam comprovantes de depósitos; 2) só há cópia de 30%
dos cheques recebidos, ou seja,
não há como provar que alguns
valores que estavam em sua
conta na época correspondem
à compra declarada; 3) notas
emitidas fora da cronologia numérica; 4) duplicidade de cheques usados na mesma transação; 5) CNPJs que não conferem com dados da Receita.
A soma dos recibos não bate
com o total recebido pelo senador. A diferença é de ao menos
de R$ 100 mil. É difícil identificar em que momento houve as
falhas porque faltam dados de
algumas transações. Na sexta,
Renan mandou uma segunda
remessa de papéis para tentar
rebater suspeitas de que as notas apresentadas eram frias.
Os recibos feitos em um
computador e assinados por
Renan mencionam números
de algumas notas fiscais supostamente emitidas em 2006,
mas sua cronologia não é lógica. É como se uma nota com
número posterior tivesse saído
do talão antes da nota anterior.
Também integram o calhamaço alguns recibos duplicados, cuja diferença é que um
tem a assinatura do senador, e
o outro, não. Há comprovantes
eletrônicos de depósitos com
data anterior à suposta venda.
Em um dos casos, o senador
anexou comprovante de 4 de
agosto de 2006, no valor de R$
19.782. O recibo foi expedido
três dias depois no valor de R$
19.780. Mas chegou ao Conselho de Ética rasurado, com o
valor corrigido à caneta. Outro
caso semelhante ocorreu em 13
de abril de 2004, com depósito
de R$ 15,9 mil feito quatro dias
antes da ratificação da venda.
Renan apresentou dois recibos que mencionam o mesmo
cheque para justificar vendas
em 14 de fevereiro e 7 de março. Eduardo Ferrão, que defende Renan, disse que a documentação possui recibos com
"engano de digitação". O contador de Renan, José Appel, disse
que "todas as vendas estão documentadas e que todos os valores entraram na conta". Segundo ele, o valor total dos recibos não confere com a movimentação do IR porque não
analisou todos os recibos.
Texto Anterior: Perícia da PF aponta divergências e complica o quadro Próximo Texto: Motorista deu R$ 126 mil em cheques por compra de gado de senador em Alagoas Índice
|