São Paulo, quarta-feira, 20 de junho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Perícia da PF aponta divergências e complica o quadro

Laudo conclui que GTAs não têm relação identificável com as notas fiscais das supostas vendas de gado de Renan Calheiros

Após lerem laudo, de 20 páginas, governistas avaliaram que arquivar o caso hoje é inviável


RANIER BRAGON
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A perícia realizada pela Polícia Federal nos documentos apresentados pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), complicou a situação do senador ao apontar "divergências" entre os papéis que sustentariam a sua versão de que obteve R$ 1,9 milhão com venda de gado desde 2003.
A análise da PF foi entregue ontem ao Conselho de Ética do Senado e deve dificultar ainda mais a tentativa de arquivamento sumário do processo que era pretendido pelos aliados de Renan. O presidente do Senado foi o primeiro a receber o material da PF, das mãos do presidente do Conselho de Ética, Sibá Machado (PT-AC).
A perícia tem 20 páginas e é assinada pelo diretor do Instituto Nacional de Criminalística, Clênio Guimarães Belluco. Uma de suas principais conclusões é a de que as GTAs (Guias de Transporte Animal) apresentadas por Renan não têm relação identificável com as notas fiscais das supostas vendas de gado do senador.
"As informações constantes das guias examinadas não foram suficientes para que os peritos concluíssem de forma irrefutável que essas eram referentes às notas fiscais apresentadas. Cabe ressaltar que várias informações preenchidas nas guias são divergentes daquelas presentes nas notas fiscais", conclui a perícia, acrescentando: "As GTAs foram apresentadas de forma desvinculada das notas fiscais de venda".
As GTAs são documentos obrigatórios na comercialização de gado e são controladas pelo Ministério da Agricultura. Renan apresentou cem cópias de GTAs na tentativa de comprovar que as transações realmente ocorreram.
O R$ 1,9 milhão de ganho agropecuário é o principal dado usado por Renan para argumentar que tinha recursos suficientes para pagar R$ 12 mil mensais de pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha. Assim, rebateria a acusação de que teve essas despesas pagas por um lobista da empreiteira Mendes Júnior.
A PF afirmou ainda que "em virtude do curto espaço de tempo delimitado, os exames periciais não puderam ser aprofundados a ponto de responder conclusivamente a todos os quesitos". Apesar disso, a perícia afirma que os documentos são, a princípio, verdadeiros, e não falsificações.
"Os peritos, mediante a realização de confronto entre os valores e datas dos recibos de venda de gado (...) não identificaram divergências. Contudo, os extratos bancários não informaram dados individualizados dos cheques, tais como número, agência e banco sacado".
Os peritos responsáveis pela análise técnica teriam dito aos senadores que seria preciso mais uns dez dias de trabalho da PF para averiguação completa, o que incluiria investigação contábil das empresas e pessoas físicas que supostamente compraram gado de Renan Calheiros. Essa avaliação da PF estenderia a investigação no conselho, o que traria dificuldade ao plano do senador de se manter no cargo.
"Além do prazo de dilação, seria necessária a remessa dos documentos, sem prejuízo de outras diligências julgadas pertinentes", diz a perícia da PF.
Já com o laudo da PF em mãos, integrantes da base governista se reuniram na noite de ontem no gabinete da liderança do governo. A avaliação é que não era possível arquivar sumariamente o caso, como era planejado até então.
"Vamos avaliar se há condição de votar [o processo contra Renan]. Não vamos ter açodamento", afirmou o líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), que antes de analisar a perícia defendia o encerramento do caso hoje.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) também defendeu maior prazo para a investigação. "Acho prudente adiar a votação, porque a perícia deixa dúvidas".


Texto Anterior: Cresce pressão no Senado para Renan deixar o cargo
Próximo Texto: Recibos de senador não provam ganho de R$ 1,9 milhão
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.