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Perícia da PF aponta divergências e complica o quadro
Laudo conclui que GTAs não têm relação identificável com as notas fiscais das supostas vendas de gado de Renan Calheiros
Após lerem laudo, de 20 páginas, governistas avaliaram que arquivar o caso hoje é inviável
RANIER BRAGON
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A perícia realizada pela Polícia Federal nos documentos
apresentados pelo presidente
do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), complicou a situação do senador ao apontar
"divergências" entre os papéis
que sustentariam a sua versão
de que obteve R$ 1,9 milhão
com venda de gado desde 2003.
A análise da PF foi entregue
ontem ao Conselho de Ética do
Senado e deve dificultar ainda
mais a tentativa de arquivamento sumário do processo
que era pretendido pelos aliados de Renan. O presidente do
Senado foi o primeiro a receber
o material da PF, das mãos do
presidente do Conselho de Ética, Sibá Machado (PT-AC).
A perícia tem 20 páginas e é
assinada pelo diretor do Instituto Nacional de Criminalística, Clênio Guimarães Belluco.
Uma de suas principais conclusões é a de que as GTAs (Guias
de Transporte Animal) apresentadas por Renan não têm
relação identificável com as notas fiscais das supostas vendas
de gado do senador.
"As informações constantes
das guias examinadas não foram suficientes para que os peritos concluíssem de forma irrefutável que essas eram referentes às notas fiscais apresentadas. Cabe ressaltar que várias
informações preenchidas nas
guias são divergentes daquelas
presentes nas notas fiscais",
conclui a perícia, acrescentando: "As GTAs foram apresentadas de forma desvinculada das
notas fiscais de venda".
As GTAs são documentos
obrigatórios na comercialização de gado e são controladas
pelo Ministério da Agricultura.
Renan apresentou cem cópias
de GTAs na tentativa de comprovar que as transações realmente ocorreram.
O R$ 1,9 milhão de ganho
agropecuário é o principal dado
usado por Renan para argumentar que tinha recursos suficientes para pagar R$ 12 mil
mensais de pensão à jornalista
Mônica Veloso, com quem tem
uma filha. Assim, rebateria a
acusação de que teve essas despesas pagas por um lobista da
empreiteira Mendes Júnior.
A PF afirmou ainda que "em
virtude do curto espaço de tempo delimitado, os exames periciais não puderam ser aprofundados a ponto de responder
conclusivamente a todos os
quesitos". Apesar disso, a perícia afirma que os documentos
são, a princípio, verdadeiros, e
não falsificações.
"Os peritos, mediante a realização de confronto entre os valores e datas dos recibos de venda de gado (...) não identificaram divergências. Contudo, os
extratos bancários não informaram dados individualizados
dos cheques, tais como número, agência e banco sacado".
Os peritos responsáveis pela
análise técnica teriam dito aos
senadores que seria preciso
mais uns dez dias de trabalho
da PF para averiguação completa, o que incluiria investigação contábil das empresas e
pessoas físicas que supostamente compraram gado de Renan Calheiros. Essa avaliação
da PF estenderia a investigação
no conselho, o que traria dificuldade ao plano do senador de
se manter no cargo.
"Além do prazo de dilação,
seria necessária a remessa dos
documentos, sem prejuízo de
outras diligências julgadas pertinentes", diz a perícia da PF.
Já com o laudo da PF em
mãos, integrantes da base governista se reuniram na noite
de ontem no gabinete da liderança do governo. A avaliação é
que não era possível arquivar
sumariamente o caso, como era
planejado até então.
"Vamos avaliar se há condição de votar [o processo contra
Renan]. Não vamos ter açodamento", afirmou o líder do governo, senador Romero Jucá
(PMDB-RR), que antes de analisar a perícia defendia o encerramento do caso hoje.
O senador Eduardo Suplicy
(PT-SP) também defendeu
maior prazo para a investigação. "Acho prudente adiar a votação, porque a perícia deixa
dúvidas".
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