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JANIO DE FREITAS
Duas cabeças
As reuniões sigilosas de ministros desejosos de políticas reais de crescimento -reuniões aqui informadas em dois
artigos há duas semanas- são
a matriz da decretada divisão
da política econômica sob dois
comandos, José Dirceu com a
Câmara de Política de Desenvolvimento Econômico e, com
Antonio Palocci, a já existente e
agora menos poderosa Câmara
de Política Econômica.
A contraposição já está posta
às claras. O inopinado desejo de
Palocci de falar ao inglês "The
Times" serviu para um recado.
Ao informar sobre providências
que tornem o Banco Central autônomo, Palocci responde à Câmara de Dirceu com uma advertência: juros e metas de inflação e de superávit, que condicionam as possibilidades de crescimento econômico, não serão
suscetíveis à influência dos desenvolvimentistas.
A estrutura bifronte do comando econômico mais parece
manobra política, de fins ainda
não explicitados, mas imagináveis, do que a busca de maior
eficácia administrativa. Se Lula
e a parte insatisfeita do governo
confiassem em que a política de
Palocci levaria mesmo ao crescimento, não seria adotada a sugestão de criar a Câmara de Política de Desenvolvimento Econômico entregue a Dirceu.
Além disso, ou a política de
desenvolvimento econômico (a
de Dirceu) é, na formulação e
na condução, a própria política
econômica (a de Palocci), ou
não há política de desenvolvimento. A tentativa de dar a cada uma a sua própria cabeça, e
ainda por cima em divergência
frontal, é uma originalidade da
qual se deve esperar, antes de
tudo, maior divisão do governo
e a provável conseqüência de
um embate afinal decisivo. Como manobra política, o decreto
de Lula reflete uma reconsideração no pleno poder da Fazenda
e na influência sem contraste da
sua equipe.
A presença de Palocci na Câmara de Dirceu nada sugere
contra a oposição de suas comissões. É, parece claro, outra medida política, parte da tola insistência de negar o alto grau de
discordância, no governo e na
cúpula do PT, com a política da
Fazenda, Banco Central incluído. As presenças já citadas na
comissão fazem prever que, levadas as decisões a voto, Palocci
não ganha uma.
A estranha criação das duas
câmaras não atenuou o movimento pela modificação da política econômica. Mais reuniões
sigilosas de ministros, com outros ministros e com pessoas de
fora do governo, têm ocorrido e
estão previstas para os próximos
dias.
Novidade
A lei que autoriza abater
aviões não identificados, em vôo
sobre território brasileiro, tem a
prudência de só permitir a ação
extrema contra aviões que estejam transportando drogas.
Os aviões brasileiros de ataque estarão equipados, portanto, com bolas de cristal.
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