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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA
Protesto, ideologia e deboche explicariam ascensão de Heloísa
Especialistas e políticos dizem que senadora atrai votos da esquerda tradicional e de descontentes com a crise política
Crescimento da candidata
no Sul, tradicional reduto
petista, sustentaria tese; ela
também se beneficiaria do
chamado "voto folclórico"
MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL
MARCELA CAMPOS
DA REDAÇÃO
Especialistas e políticos consultados pela Folha consideram que o crescimento da candidata do PSOL à Presidência,
senadora Heloísa Helena, revelado pelo Datafolha, se explica
porque ela simboliza uma "saída" para os seguintes tipos de
voto: o de protesto e descontentamento com a crise política que abalou o governo petista, o ideológico de esquerda, de
quem se recusa a repetir votos
no PT, e o "folclórico debochado", dos descrentes.
Esses aspectos justificariam
o melhor desempenho da senadora nas capitais, entre o eleitorado feminino, de curso superior, na faixa etária entre 16 a
34 anos e com renda de cinco a
10 salários mínimos. Foram
nesses segmentos que Heloísa
Helena mais cresceu, aponta
pesquisa Datafolha.
"Heloísa Helena é vista como
uma espécie de outsider, alguém que vem de fora do "establishment" político", analisa o
cientista político Carlos Melo,
do Ibmec-SP.
Segundo ele, há "parte do
eleitorado que vota nela mais
ou menos como votava no
Enéas [Carneiro, do Prona],
apesar de ambos estarem em
lados opostos do espectro político". "É o voto folclórico", diz.
Marcus Figueiredo, do Iuperj, afirma que, além de Lula
ter a maior rejeição entre as
mulheres, grande parte do voto
branco e nulo é feminino. Segundo ele, as mulheres estariam mais descontentes com o
sistema político e isso pode ter
favorecido a senadora.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sustentam políticos
do PT e PSDB, conseguiu consolidar seus votos no Nordeste
e entre camadas de menor renda, que dependem de programas como o Bolsa Família. Já
na classe média urbana descontentamento e críticas ao
governo são maiores.
O fato de ter tido maior crescimento na região Sul explica-se por ser um tradicional reduto petista à esquerda. Já a alta
rejeição no Nordeste (30%) teria ligação com a quase inabalável popularidade de Lula na região. Carlos Melo observa que
no Nordeste Heloísa é mais conhecida e, portanto, sujeita a
maior desaprovação.
Com o início da campanha, a
exposição na TV levou a senadora a ter maior visibilidade, o
que também justificaria o crescimento de quatro pontos percentuais (de 6% para 10%). Figueiredo salienta em especial a
exposição no Jornal Nacional.
A senadora teria ainda a vantagem de se mostrar simpática
no vídeo, apesar de seu discurso radical. Para o cientista político Bolívar Lamounier é a
imagem de "combativa" e
"aguerrida" que atrai votos.
A dúvida é sobre o limite de
votos da senadora e sua sustentabilidade. "Os 10% dela são
muito fluidos. Em 2002, o Ciro
[Gomes] subiu e desceu, assim
como a Roseana [Sarney]. Não
é um processo delineado ainda.
Só em setembro vamos ter algo
mais concreto", afirma Melo.
Para o professor Yan de Souza Carreirão, doutor em Ciência Política pela USP e professor da Universidade Federal de
Santa Catarina, "o limite de votos de Heloísa Helena não é
claro e nada indica que tal crescimento é duradouro". Segundo ele, o eleitor costuma ser
bastante pragmático na reta final de uma campanha e opta
por candidatos com chance
real de vitória.
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