|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Lei favorável a dono da Gol será investigada
Procuradoria diz que legislação que valorizou terreno de empresa ligada a Nenê Constantino foi aprovada sem consulta ao Iphan
Promotores afirmam que lei foi aprovada em 2006 por aliados de Joaquim Roriz sem estudo prévio, o que contraria uma lei de 2000
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Ministério Público do Distrito Federal decidiu investigar
a legalidade do projeto de lei
proposto por aliados do ex-senador Joaquim Roriz (PMDB-DF) que resultou em uma valorização milionária de um terreno em Brasília. O terreno foi
comprado pela Antares, empresa que tem Nenê Constantino, presidente do Conselho de
Administração da Gol linhas
Aéreas, entre seus investidores.
Segundo promotores do Distrito Federal, a negociação da
área que teria se valorizado em
R$ 72 milhões em apenas um
ano pode ter motivado Nenê
Constantino a repassar um
cheque de R$ 2,2 milhões a Roriz, que renunciou no dia 4.
Tudo começou em março do
ano passado, quando a empresa
Alphaville Marketing Imobiliário Ltda, do então deputado
distrital Wigberto Tartuce
(PMDB), aliado e ex-secretário
do governo de Joaquim Roriz,
comprou de fundos estatais do
Distrito Federal o terreno de
80 mil m2 por R$ 15,21 milhões.
Após a aprovação da Lei
Complementar 731, em dezembro passado -que alterou o limite de área construída do terreno de 56.000 m2 para
128.000 m2-, Tartuce vendeu a
propriedade para a Aldebaram
(empresa ligada à Antares) por
R$ 45,9 milhões, duas vezes
mais do que ele desembolsara.
Mesmo com tal lucro, o Conselho Regional dos Corretores
de Imóveis de Brasília avalia
que o valor atual do terreno é
ainda maior: R$ 128 milhões,
com base no cálculo da área em
que pode haver construção.
Promotores da Promotoria
de Justiça de Defesa da Ordem
Urbanística suspeitam que a
mudança de destinação e da
área de ocupação do terreno tenham ocorrido sem um estudo
prévio, desrespeitando a legislação local. "Já constatamos
também que pelo menos o
Iphan (Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional)
e o Detran não foram consultados e deveriam ter sido, já que o
terreno está localizado em uma
área tombada e tal mudança
pode afetar o tráfego de veículos no local", diz Paulo José
Leite Farias, um dos promotores que investigam o caso.
A lei nš 294, de 2000, diz que
onde não existe um Plano Diretor Local (caso do Plano Piloto), "a modificação ou extensão
de uso ou tipo de atividade fica
condicionada a estudo prévio
de viabilidade técnica".
Além disso, a lei também
prevê "a cobrança, mediante
pagamento de valor monetário,
pela modificação ou extensão
de uso e ocupação do solo para
a unidade imobiliária ou quaisquer dos seus pavimentos, que
venham a acarretara valorização dessa unidade imobiliária",
e que o valor a ser pago deve
corresponder "ao valor integral
da valorização havida". O Ministério Público afirma, porém,
que a Alphaville pagou pela valorização apenas R$ 4 milhões
ao cofres do Distrito Federal,
enquanto o lucro obtido por
Tartuce, dono da Alphaville, foi
de ao menos R$ 30 milhões.
Segundo Farias, os recursos
recolhidos pelo governo devem
ser revertidos em benefícios
para a população: "Existe, portanto, a presunção de que houve prejuízo para o patrimônio
público, tendo em vista os valores obtidos pela empresa e os
recolhidos a título de outorga".
Procurado, Tartuce não foi
encontrado. A Folha procurou
a Terracap, responsável pelo
cálculo do valor a ser pago, que
não confirmou a informação
até o final desta edição. Já a secretária de Desenvolvimento
Urbano e Habitação do Distrito
Federal à época, Diana Motta
não quis falar da lei que mudou
o limite de área construída.
Texto Anterior: Procurador tenta, de novo, deter obras do São Francisco Próximo Texto: Com recesso, caso Renan fica só nas mãos da PF Índice
|