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RAZÃO DE VOTO
Comparações que enganam
MAURO FRANCISCO PAULINO
Tem início hoje a terceira e talvez mais decisiva fase do primeiro turno da eleição presidencial. Ao espaço ocupado pelos
partidos na TV e no rádio continuarão acrescentados os debates
e entrevistas dos veículos. Passam
a se misturar e a interagir, portanto, as aparições oficiais dos
candidatos retocadas por recursos de marketing -característica
da primeira fase- e as exposições em situações inquisitórias,
onde a maquiagem marqueteira
é diluída ao mínimo recurso das
posturas e argumentos ensaiados
-marca da segunda fase.
Foi pauta obrigatória nos últimos dias apurar o comportamento do eleitorado em processos anteriores, comparando as trajetórias das candidaturas após o início do horário eleitoral. Mas o
efeito dessas comparações é mais
ilustrativo do que conclusivo. Os
novos e significativos ingredientes
de marketing, em conjunto com
cenários inéditos no aspecto político e no econômico, sinalizam
que, nessa eleição, conclusões baseadas em comportamentos passados são, no mínimo, arriscadas.
Basta lembrar que no início de
maio era aceitável supor que José
Serra poderia repetir a trajetória
de Fernando Henrique em 94
quando, logo após o início do horário eleitoral, ultrapassou Lula e
venceu no primeiro turno. O argumento era a semelhança das
taxas de ambos no mesmo período: no início de maio de 94 o Datafolha apurava 42% para Lula
contra 16% de Fernando Henrique. Em maio de 2002, Lula contava com 43% contra 17% de Serra. Era só uma coincidência.
A atual disputa pela presidência é a mais imprevisível e dinâmica do período pós-redemocratização. O número reduzido de
candidatos e a disposição da mídia em contribuir com o processo
favorece a promoção quase diária
de entrevistas e debates. Por mais
padronizados que sejam os discursos e os formatos dessas reuniões, é inegável a contribuição
que têm exercido para a formação do eleitor. Isso somado ao
exercício contínuo do voto a cada
dois anos faz crescer a percepção
da importância da ida às urnas, o
que resulta em uma definição
mais tardia e ponderada.
Outro ingrediente que tem se
mostrado influente é a utilização
mais abrangente e especializada
do marketing e das técnicas de
pesquisas qualitativas e quantitativas. São armas essenciais, nunca utilizadas em tão larga escala,
para captar e comunicar ações
que contemplem os anseios do
eleitorado. A exposição das candidaturas no rádio e na TV, em
especial através dos spots ao longo da programação, será feita
com grau inédito de elaboração.
O mais recente levantamento
nacional do Datafolha revela que
cerca de um terço dos eleitores
que optam por algum candidato
a presidente na pergunta estimulada admitem que ainda podem
mudar de opinião, e isto se dá
principalmente entre os menos escolarizados. Entre esses mesmos
eleitores há 36% que apontam
um candidato não por ser o ideal,
mas por falta de melhor opção, o
que ocorre principalmente entre
os mais jovens e os que têm nível
superior de escolaridade. Já 67%
dos indecisos buscam informações sobre os candidatos a presidente e acham que ainda é cedo
para se decidir. São números que
mostram haver espaço para persuasão e mudanças no quadro.
São algumas razões que tornam
o dia de hoje outro marco em
uma eleição que se mostra emblemática mais como parâmetro para eleições futuras do que passível
de balizamentos pelo passado. É
um divisor de águas que está contribuindo de forma definitiva para o aprimoramento do eleitor.
Mauro Francisco Paulino, diretor-geral
do Datafolha, escreve às terças-feiras
nesta coluna
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