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"Me envergonho de estar no PT", diz senador
Flávio Arns, cujo mandato acaba em 2011, lidera protestos contra intervenção de Lula em favor de Sarney, contrariando parte da bancada
Líder do partido, Mercadante ameaçou mais uma vez deixar o cargo, mas recuou e culpou presidente do Senado
pela crise instalada na sigla
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A vitória de José Sarney
(PMDB-AP) no Conselho de
Ética do Senado provocou um
racha no PT e deixou em situação difícil o líder da bancada,
Aloizio Mercadante (SP). Apesar de mais de uma vez ter repetido a ameaça de renunciar à liderança, ele terminou o dia no
cargo e jogou para Sarney a culpa pela crise no partido.
"A crise no Senado e, hoje, a
crise na bancada do PT é de responsabilidade do senador José
Sarney. Se ele tivesse tido um
gesto de grandeza, teria preservado a instituição e permitido
uma apuração que, seguramente, ajudaria o Senado a encontrar um outro caminho", disse
Mercadante em entrevista, logo depois de uma reunião da
bancada em que só compareceram 6 dos 11 senadores petistas,
já descontada Marina Silva
(AC), que deixou o partido.
No final do dia, Mercadante
foi criticado por senadores do
PT e um deles -Flávio Arns
(PR)- anunciou que fará uma
consulta à Justiça para ver se
pode sair do partido. "O PT jogou a ética no lixo, vai ter que
achar outra bandeira. O partido
deu as costas à sociedade, ao
povo e às bandeiras tão caras
para tantas pessoas. Posso dizer que tenho vergonha de estar no PT", afirmou.
"Vou pedir para a Justiça que
concorde com meu argumento
de que houve quebra do ideário
partidário", disse o senador,
que é irmão de Zilda Arns, uma
das idealizadoras da Pastoral
da Criança. O mandato dele
termina em 2011.
"Ficamos desamparados pelo nosso líder. Nada do que foi
combinado foi cumprido. Fomos para o sacrifício", disse
Delcídio Amaral (PT-MS).
As críticas de Mercadante a
Sarney foram uma tentativa de
esconder o verdadeiro motivo
do racha: a interferência direta
do presidente Lula, que desde o
início da crise forçava o apoio
dos senadores petistas a Sarney, ao contrário de posição de
parte da bancada.
Com receio do desgaste político de apoiar Sarney e prejudicar sua reeleição no próximo
ano, Mercadante tentou até a
última hora convencer seus colegas a aprovarem o desarquivamento de pelo menos um dos
processos contra o presidente
do Senado, mas fracassou.
Na reunião de ontem, o líder
colocou o cargo à disposição,
mas ouviu pedidos para que
permanecesse. "A minha vontade, hoje, verdadeira, era sair
da liderança do PT. Meu cargo
está totalmente à disposição, só
não quero agravar a crise num
dia como hoje", disse.
Dos três senadores que votaram pelo arquivamento, só
João Pedro (AM) estava presente na reunião do final do dia,
convocada por Mercadante.
Ideli Salvatti (SC) e Delcídio se
recusaram a participar, sem clima após um dia de divergências. Os dois, que sairão candidatos em 2010, queriam ser
substituídos para que não precisassem se expor e votar a favor de Sarney, mas Mercadante
se recusou a endossar o pedido.
Após a reunião com os petistas, Mercadante tentou explicar o motivo de não ter lido a
nota na qual o presidente do
PT, Ricardo Berzoini (SP),
orientava o voto pró-Sarney,
conforme havia sido combinado pela manhã.
"Seria hipocrisia eu ler uma
carta que não concordo. Disse
que não encaminharia essa posição. E que, se fosse para encaminhar posição contrária a
meus valores, eu preferia deixar a liderança." Também afirmou que os senadores votaram
no conselho "por uma decisão
partidária", e não por vontade
própria. "Fizeram constrangidos", disse, descrevendo o dia
como "triste para o PT".
(LETÍCIA SANDER e VALDO CRUZ)
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