São Paulo, domingo, 20 de outubro de 2002

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ADMINISTRAÇÃO

Secretário-adjunto do Tesouro Nacional afirma acreditar que candidato petista manterá compromissos se eleito

Mercado desconfia de Lula injustamente, diz Sardenberg

Epitacio Pessoa/Agência Estado
O secretário-adjunto do Tesouro Nacional Rubens Sardenberg


JULIANNA SOFIA
LEONARDO SOUSA

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O secretário-adjunto do Tesouro Nacional Rubens Sardenberg avalia que o candidato do PT ao Palácio do Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva, tem sido tratado com desconfiança pelo mercado "injustamente".
Homem de frente do ministro Pedro Malan (Fazenda) na administração da dívida interna em títulos federais, Sardenberg, 59, disse à Folha que Lula já reafirmou o compromisso em manter os principais parâmetros da atual política econômica.
Para ele, caso o novo governo não faça nenhuma "loucura", encontrará espaço para ir ao mercado e continuar renovando a dívida interna -o grande temor do mercado é que o governo não consiga rolar os títulos. O secretário-adjunto enfatizou que a situação da dívida é manejável.
Em entrevista concedida anteontem, ele disse que, se Lula, caso vença a eleição, confirmar os compromissos assumidos, o mercado deve voltar à normalidade.

Folha - O governo vem encontrando dificuldade para rolar a dívida cambial? Qual a sua avaliação sobre isso?
Rubens Sardenberg -
Nós estamos, provavelmente, na pior combinação possível em termos de "timing". Estamos enfrentando toda essa crise externa e praticamente no ápice do processo eleitoral. A gente tem um candidato de oposição que... Eu quero dizer com muito cuidado porque não quero fazer nenhum juízo de valor... O fato é que o candidato de oposição tem 60% das intenções de voto e é um candidato visto com mais desconfiança. Eu acho até, na minha avaliação pessoal, que injustamente, porque ele reafirmou os compromissos [em manter os parâmetros da política econômica". O fato é que há uma espécie de desconfiança com relação ao cumprimento desses compromissos. As pessoas estão esperando para ver se ele de fato vai manter essa linha, que eu acho que é o que vai acontecer. Mas há essa incerteza. Mesmo no meio de todo esse processo a gente [Tesouro" vem conseguindo fazer emissões de títulos públicos.

Folha - Por quanto tempo o senhor acha que essa situação vai permanecer?
Sardenberg -
Eu imagino que passada a eleição, se for o José Serra [PSDB" o vencedor, evidentemente que ele já disse que o Armínio [Fraga, presidente do Banco Central" permanece... Enfim, essa incerteza diminui.
Se o Lula for o vencedor, acho que a partir do momento que ele confirmar esses compromissos, que eu estou acreditando que é o que ele vai fazer, eu tenho a impressão de que tem tudo para que o mercado volte à normalidade. Não no dia seguinte, evidentemente, mas que volte gradualmente a um quadro de relativa normalidade.

Folha - O novo governo pode encontrar um cenário muito desfavorável para rolar a dívida, principalmente, se for um governo Lula, que chega com uma certa desconfiança do mercado?
Sardenberg -
Nesse ambiente que estamos tendo agora, de final de governo, no meio de toda essa incerteza, o Tesouro vem encontrando espaço para fazer essas colocações [vender títulos da dívida no mercado". Partindo do pressuposto que o novo governo não vá fazer nenhuma loucura, reafirme os compromissos, a pergunta que eu faço é: qual a razão para que o novo governo não encontre espaço para fazer as colocações? Honestamente, não vejo razão.

Folha - Como o senhor avalia as posições de alguns analistas sobre a dificuldade do governo em pagar a dívida?
Sardenberg -
No nosso caso, especialmente quando se fala de dívida interna, o fato que vem acontecendo ao longo desses meses mostra que temos um mercado constituído. Os tomadores são locais. São os fundos [de investimentos", os bancos, os investidores, os fundos de pensão. Esses são os detentores da dívida. Eles estão aqui no Brasil. A poupança deles está em reais. De uma maneira ou de outra essas pessoas estão aplicando em títulos. Encurta-se o prazo, muda-se o tipo de produto. Mas estão aqui aplicando seus recursos.
Quem eventualmente faz discussão em torno de dívida do Brasil está, digamos assim, fazendo uma confusão com relação a situação daqui com a de outros países. Não temos dívida em dólar, nossa dívida é dolarizada, mas não é em dólar. O cara não recebe em dólar, recebe em reais. A nossa dívida é detida pelos investidores locais, não são investidores estrangeiros.


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