São Paulo, domingo, 20 de outubro de 2002

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SEGUNDO TURNO

Alunos prometem manifestação na terça-feira, em São Paulo, contra o suposto uso eleitoral dos novos cursos

De vitrine, Fatecs podem virar "vidraça"

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

Vedete da campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) ao governo de São Paulo, a ampliação da rede de Fatecs (Faculdades de Tecnologia), que neste ano aumentou o número de vagas no ensino público de terceiro grau, é alvo de críticas de alunos, professores e funcionários da instituição.
A toque de caixa, Alckmin, candidato à reeleição, inaugurou nos últimos meses quatro unidades da Fatec, que, juntas, criaram 320 novas vagas. As faculdades, no entanto, têm problemas de infra-estrutura e falta de pessoal.
Para as entidades que representam alunos, professores e funcionários, da forma como foi conduzida, a ampliação está levando ao sucateamento das instituições, mantidas pelo Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza e vinculadas à Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Com a criação de quatro unidades neste ano e com promessa de pelo menos mais duas para 2003, o Orçamento-03 prevê um aumento de 300% nos investimentos das Fatecs em relação a 2002.
A previsão de despesas com pessoal, porém, apresenta apenas 4,8% de aumento, o que indica que não estão programadas novas contratações para o ano que vem.
"A preocupação do governo parece ser apenas com a construção dos prédios", disse Flávio Roberto Neris de Oliveira, estudante da Fatec Tiradentes e membro do centro acadêmico.
Uma manifestação organizada pelos alunos -com apoio de funcionários e docentes- das Fatecs contra o uso da faculdade na campanha do governador está programada para o vão livre do Masp, na capital, na manhã da próxima terça-feira.
A Folha visitou quatro Fatecs na última semana, três delas na Grande São Paulo e uma em Jundiaí. Em todas existem problemas de infra-estrutura, especialmente nos laboratórios.
Das quatro unidades visitadas, duas foram inauguradas neste ano, a de Mauá, na Grande São Paulo, e a de Jundiaí, no interior. Além delas, o governo entregou recentemente as unidades de Praia Grande e Botucatu. Ao todo, a rede conta com 14 Fatecs.
"É claro que estamos felizes porque entramos na faculdade, mas confesso que a situação está um pouco precária", disse Luiz Souza, 35, estudante do curso de informática da unidade de Mauá.
Os 20 computadores do laboratório de Mauá não têm acesso à internet. Segundo os alunos, apenas metade das máquinas está sendo usada nas aulas.
"Isso porque nós só entramos no laboratório uma vez até agora", disse Souza, que, junto de outros 39 alunos compõe a primeira turma do curso.
A última unidade inaugurada, no mês passado, foi a de Jundiaí, onde apenas duas salas de aula estão disponíveis e a maior parte do prédio ainda está em obras.
"A criação das novas Fatecs é visivelmente eleitoreira, pois o funcionamento das unidades esbarra na baixa remuneração do corpo docente", disse Elaine Skorzenski Gonçalves dos Santos, presidente do sindicato dos professores da instituição. De acordo com a entidade, a hora-aula de um professor auxiliar é R$ 6,14. O último reajuste concedido pelo governo, de 5%, ocorreu em maio.
"Estão faltando professores porque ninguém aceita ganhar tão pouco", disse Elaine. Alunos ouvidos pela Folha disseram que algumas aulas chegaram a ser suspensas por falta de docentes.
De acordo com o sindicato, o corpo docente da Fatec tem cerca de 450 profissionais. O governo do Estado, por meio do secretário de Comunicação, Luiz Salgado Ribeiro, afirma que não há fins eleitorais na ampliação.
Nos programas do horário eleitoral de TV da última semana, Alckmin prometeu a criação de pelo menos duas novas unidades em 2003, uma no ABC, outra na zona sul da capital.
Coincidência ou não, em duas das três cidades que compõem o ABC, Santo André e São Bernardo, José Genoino (PT) venceu Alckmin no primeiro turno.



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