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JUSTIÇA
Ex-prefeito também foi denunciado por crime de evasão de divisas
Promotoria quer que Maluf e mais 36 devolvam R$ 5 bi a SP
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O ex-prefeito Paulo Maluf (PP),
investigado há três anos e quatro
meses por remessas milionárias
para o exterior, foi denunciado na
Justiça por crime de evasão de divisas e, em outra ação, foi instado
a devolver, com mais 36 pessoas,
R$ 5 bilhões aos cofres paulistanos -o que equivale a um terço
do Orçamento da Prefeitura de
São Paulo para 2005.
As medidas inauguram uma
nova fase do caso. Agora o ex-prefeito é réu em duas ações, uma cível e outra criminal, e terá de explicar na Justiça o suposto desvio
de verba pública e a movimentação não declarada de aproximadamente US$ 440 milhões (R$ 1,2
bilhão) em paraísos fiscais -valor calculado pelo Ministério Público de São Paulo.
Maluf, que sempre negou possuir contas no exterior, mas se
manteve em silêncio quando ouvido pela Polícia Federal e pelo
Ministério Público, reafirmou ontem não ter bens fora do Brasil e
atribuiu as ações a perseguição
política.
Na esfera criminal, a denúncia
(acusação formal) contra Maluf é
mais uma "medida de cautela",
como afirmou o procurador Pedro Barbosa Neto, que prepara
uma ação maior contra a família
Maluf por supostos crimes de lavagem de dinheiro, formação de
quadrilha e peculato (apropriação
de dinheiro público).
Caso não denunciasse Maluf
por evasão, o crime iria prescrever no próximo dia 22, quando a
última movimentação financeira
internacional em nome do ex-prefeito completará seis anos
-prazo legal para a extinção da
punibilidade de quem tem mais
de 70 anos (ele tem 73).
Na esfera cível, os promotores
Sílvio Marques e Sérgio Turra Sobrane pediram na Justiça a restituição de R$ 5 bilhões aos cofres
públicos. Além de Maluf, são réus
outras 36 pessoas (inclusive a mulher do ex-prefeito, quatro filhos,
uma nora e um genro), empresas
internacionais e construtoras.
Para garantir o pagamento dos
aproximadamente R$ 5 bilhões
-maior ação do Ministério Público de São Paulo-, a Promotoria pediu à Justiça a indisponibilidade de bens dos réus, o que inclui as cotas dos Maluf na empresa Eucatex.
Foram excluídos do pedido de
indisponibilidade de bens dois filhos de Maluf, Lina e Otávio, os
únicos que não fizeram movimentações diretas no exterior.
Eles são citados em documentos
bancários suíços como beneficiários indiretos ou herdeiros de valores depositados por Maluf.
A Promotoria pediu ainda a
condenação das quatro construtoras responsáveis pelas obras
(Mendes Júnior, OAS, CBPO e
Constran) e a impossibilidade de
as mesmas contratarem com o
poder público.
A Justiça deverá se manifestar
até sexta-feira sobre o pedido.
Caminho
De acordo com os promotores,
o caminho do desvio do dinheiro
está descrito nas 130 mil páginas
do processo enviado ontem à Justiça -parte desses documentos
foi encaminhado pela Suíça. O esquema, segundo a Promotoria,
começou na gestão de Maluf na
prefeitura (1993-1996) e continuou na do sucessor dele, o ex-prefeito Celso Pitta (1997-2000).
Na ação cível (mais completa
que a penal), a Promotoria detalha o suposto desvio de verba na
construção da avenida Água Espraiada (hoje Jornalista Roberto
Marinho) e do túnel Ayrton Senna e o uso de "laranjas" e de doleiros para remeter dinheiro para o
exterior. Foram localizadas centenas de notas frias por serviços que
nunca foram prestados.
"O dinheiro do ex-prefeito saiu
do Brasil, via Banestado, foi mandado principalmente para o Paraguai, depois para os Estados Unidos até chegar à Suíça", afirmou
Marques.
Extratos bancários enviados pela Suíça revelam uma movimentação milionária entre 1985 e 1997
-um mês após Maluf deixar o
cargo. Assinatura similar à do ex-prefeito consta de uma ficha de
abertura de conta. Parte dos depósitos foi enviado em 1997 para o
paraíso fiscal da ilha de Jersey, e
outra, para Londres.
Em 2001, a Folha revelou a existência de depósitos em nome de
Maluf em Jersey. No início deste
ano, autoridades de Luxemburgo
informaram a existência de uma
conta em nome da mulher de Maluf, Sylvia. O Brasil ainda aguarda
a colaboração de outros países
com documentos bancários.
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