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Pinaud vê novo serviço
feito por Herzog ao país
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente da Comissão de
Mortos e Desaparecidos Políticos,
João Luiz Pinaud, disse ontem
que a publicação de fotos que seriam do jornalista Vladimir Herzog, ainda vivo em dependências
do Exército, prestou um serviço
ao país ao reabrir o debate sobre a
política de direitos humanos.
"Eu entendo que a comissão
não é um órgão do governo, é um
órgão de Estado. Estou trabalhando para a nação brasileira", disse
Pinaud à Folha.
O criminalista poupa o ministro
Nilmário Miranda (Secretaria de
Direitos Humanos), ao qual a comissão é subordinada, mas não os
assessores. Na Costa Rica, Nilmário disse que respeita a posição de
Pinaud, mas disse considerar suas
críticas "sem fundamento".
Folha - Há um conflito entre o senhor e o ministro Nilmário?
João Luiz Pinaud - Não tenho nenhum problema funcional, pessoal com o ministro Nilmário. Eu
o aprecio muito. O que há é uma
discordância de enfoque. O problema da comissão é muito complicado, porque trata de 30, 40
anos atrás. O que estou propondo
-e isso não exclui o que já foi feito- é fazer, por meio do Judiciário, prova indiciária dos fatos [relacionados a desaparecidos políticos]. Os familiares, em sua angústia, consideram a comissão inerte.
Folha - Então, é uma diferença de
metodologia?
Pinaud - Não é em relação ao
ministro. É a política executada
até pelos assessores dele, que eu
acho que não são pessoas de direitos humanos. O ministro é. Então,
a minha comissão é uma pequena
comissão que fica isolada dentro
do ministério. Só que ela trabalha
com valores maiores, de resgate
do passado. No fundo, essas fotos
do Herzog tiveram um valor extraordinário para enfatizar, dar
valor a esse caminho, que é maior
do que receber indenizações.
Folha - E por que esse resgate não
está sendo feito?
Pinaud - Não sei. Tenho a impressão de que, como é uma lei
nova, minha comissão é de 2000...
No governo Lula, houve uma melhoria, com o alargamento dos
prazos para requerer [indenização]. A comissão hoje está tateando. Minha luta é institucional, pelo direito à sinceridade das informações [prestadas] à sociedade.
Folha - O que o senhor chama de
sinceridade soou como revanchismo para o Exército.
Pinaud - Esse debate está mal colocado. Não é revanchismo. São
as pessoas querendo tomar consciência do que aconteceu. O Herzog, pela segunda vez, prestou esse serviço com o sofrimento dele.
Folha - O sr. trabalha com a possibilidade de ser afastado?
Pinaud - Trabalho, inclusive
com essa [possibilidade]. Vejo dificuldade de uma luta de direitos
humanos no interior de um governo, qualquer governo.
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