São Paulo, quarta-feira, 20 de outubro de 2004

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Comissão quer perícia de imagens

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Mário Heringer (PDT-MG), disse ontem que pedirá uma perícia nas três fotos que mostrariam o jornalista Vladimir Herzog nu sob custódia do Exército em 1975 na sede do DOI-Codi, em São Paulo.
A comissão também levantará outros casos de tortura na ditadura, para investigar o período. "Vamos solicitar perícia, precisamos da perícia das fotos para verificar se são reais ou não. [...] Não faz sentido cuidar só do caso Herzog. Se vamos cuidar de um, que cuidemos de todos", disse Heringer. A comissão ainda não reconhece as fotos como sendo de Herzog.
O deputado sugeriu que tentará identificar os autores da tortura a que o jornalista foi submetido. Ao ser questionado se o objetivo era punir os acusados de tortura na ditadura, Heringer se esquivou. "Não sei. Nossa intenção é contar a história do que ocorreu. Quando a gente fala da Inquisição, isso tem 400 anos. Esse assunto [a repressão política] não vai ser esquecido. É bom que venha a público para vermos o que fizemos de errado e não repetir os erros."
As três fotos inéditas que retratariam Herzog foram divulgadas no fim de semana pelo jornal "Correio Braziliense". As imagens estavam guardadas desde 1997 na Câmara, entregues pelo ex-cabo do Exército José Alves Firmino à Comissão de Direitos Humanos. A viúva do jornalista, Clarice, reconheceu Herzog em uma dos fotos, mas teve dúvidas se era ele mesmo nos outros dois retratos.
Na época, o então presidente da comissão, Pedro Wilson (PT), hoje prefeito de Goiânia, encaminhou cópia do material e pediu explicações à Presidência, Ministério da Justiça, Secretaria de Direitos Humanos e para o extinto Ministério do Exército, que hoje é comando. Não houve resposta.
A Comissão de Direitos Humanos da Câmara recebe milhares de documentos todos os anos -não há controle disso. A maioria é composta de denúncias de violações, como tortura policial. Cabe aos deputados analisar a documentação e solicitar informações aos órgãos competentes.
No caso das fotos que seriam de Herzog, o material é considerado público. Como não houve resposta do governo, a documentação ficou guardada na comissão, à espera de providências. Heringer disse não saber o conteúdo de seu arquivo e pretender catalogá-lo.
Ontem, a ex-guerrilheira do Araguaia Criméia Almeida, 58, identificou as dependências do DOI-Codi em que as fotos atribuídas a Herzog teriam sido tiradas. Ela ficou presa no local em 1972.


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