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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DE DIRCEU
Decisão do STF não influenciará voto de deputados sobre cassação, afirma Dirceu
Ex-ministro nega surpresa e se declara "sereno e tranqüilo"
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ex-ministro José Dirceu (PT-SP) demonstrou resignação ontem ao comentar a derrota no Supremo Tribunal Federal e procurou agarrar-se a alguns aspectos
positivos que enxergou. Disse que
não acredita que o revés interfira
no julgamento político dos parlamentares em plenário, o que pode
ocorrer na semana que vem.
"Conversei com dezenas de deputados hoje e estou certo de que
a decisão do Supremo não interfere na decisão dos deputados. Se
dificultasse minha situação, eu
não teria feito [o recurso]. Avaliei
que podia perder, claro. Não fiquei surpreso", disse Dirceu, após
saber da decisão.
Sorridente, dizendo-se "sereno
e tranqüilo", o ex-ministro afirmou que respeita a decisão do Supremo e que a a entende como
um veredicto sobre a constitucionalidade do processo, não sobre o
mérito. "São dois tipos de questão. Uma é a constitucional, se a
Câmara pode julgar ou não quem
está licenciado. Outra questão é o
mérito, se sou culpado ou inocente. Não acredito que haja relação
entre as duas", afirmou.
Relatório
Dirceu disse que vai continuar
se defendendo na CCJ (Comissão
de Constituição e Justiça), no
Conselho de Ética e no plenário.
Afirmou que deu uma contribuição para esclarecer uma questão
que estava em aberto e que preocupava parlamentares.
"Recorri porque considerei que
era um direito meu que estava ferido. Tanto a minha questão era
relevante que o voto do relator foi
favorável", disse Dirceu. Para hoje, ele promete apresentar, durante entrevista coletiva, um "contra-relatório" rebatendo o parecer de
anteontem do deputado Júlio
Delgado (PSB-MG), que pediu a
sua cassação.
O ex-ministro não assistiu à sessão do STF. Ele ficou em seu apartamento, fechado no quarto, durante a discussão preliminar dos
ministros. "Não estou acompanhando, estou telefonando para
deputados. Depois vão me informar o que acontecer", disse Dirceu à Folha por volta das 16h.
Pouco antes das 17h ele chegou
ao plenário da Câmara, onde ficou enquanto os ministros emitiam seus votos. Conversou com
deputados governistas e de oposição, dando e recebendo tapinhas
nas costas. Quando saiu a decisão,
se sentou numa cadeira no meio
do plenário e deu vários telefonemas. Sua expressão não demonstrava contrariedade.
Repercussão
O presidente do Conselho de
Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), disse que uma decisão favorável a
Dirceu no Supremo representaria
o "início de uma crise institucional". "O STF foi sábio e teve bom
senso. Tenho certeza de que não
seria diferente, porque qualquer
outra decisão representaria o início de uma crise institucional entre os Poderes", afirmou.
Em declarações anteriores, ele
havia dito que uma decisão favorável a Dirceu significaria uma interferência indevida do Judiciário
em assuntos do Legislativo.
Aliados do ex-ministro afirmaram que a sua situação fica mais
complicada agora. Segundo eles, é
muito difícil que seja aprovado na
CCJ o relatório favorável ao recurso em que Dirceu pede a suspensão do seu processo (leia na pág.
A6). Eles dizem ver falhas no parecer de Darci Coelho (PP-TO),
além de considerarem muito difícil que um grande número de deputados assuma publicamente
um voto que pode dar sobrevida a
Dirceu.O presidente eleito do PT,
Ricardo Berzoini (SP), e o presidente da Câmara, Aldo Rebelo
(PC do B-SP), não quiseram comentar a decisão.
Colaborou RANIER BRAGON, da Sucursal de Brasília
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