São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DE DIRCEU

Decisão do STF não influenciará voto de deputados sobre cassação, afirma Dirceu

Ex-ministro nega surpresa e se declara "sereno e tranqüilo"

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-ministro José Dirceu (PT-SP) demonstrou resignação ontem ao comentar a derrota no Supremo Tribunal Federal e procurou agarrar-se a alguns aspectos positivos que enxergou. Disse que não acredita que o revés interfira no julgamento político dos parlamentares em plenário, o que pode ocorrer na semana que vem.
"Conversei com dezenas de deputados hoje e estou certo de que a decisão do Supremo não interfere na decisão dos deputados. Se dificultasse minha situação, eu não teria feito [o recurso]. Avaliei que podia perder, claro. Não fiquei surpreso", disse Dirceu, após saber da decisão.
Sorridente, dizendo-se "sereno e tranqüilo", o ex-ministro afirmou que respeita a decisão do Supremo e que a a entende como um veredicto sobre a constitucionalidade do processo, não sobre o mérito. "São dois tipos de questão. Uma é a constitucional, se a Câmara pode julgar ou não quem está licenciado. Outra questão é o mérito, se sou culpado ou inocente. Não acredito que haja relação entre as duas", afirmou.

Relatório
Dirceu disse que vai continuar se defendendo na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), no Conselho de Ética e no plenário. Afirmou que deu uma contribuição para esclarecer uma questão que estava em aberto e que preocupava parlamentares.
"Recorri porque considerei que era um direito meu que estava ferido. Tanto a minha questão era relevante que o voto do relator foi favorável", disse Dirceu. Para hoje, ele promete apresentar, durante entrevista coletiva, um "contra-relatório" rebatendo o parecer de anteontem do deputado Júlio Delgado (PSB-MG), que pediu a sua cassação.
O ex-ministro não assistiu à sessão do STF. Ele ficou em seu apartamento, fechado no quarto, durante a discussão preliminar dos ministros. "Não estou acompanhando, estou telefonando para deputados. Depois vão me informar o que acontecer", disse Dirceu à Folha por volta das 16h.
Pouco antes das 17h ele chegou ao plenário da Câmara, onde ficou enquanto os ministros emitiam seus votos. Conversou com deputados governistas e de oposição, dando e recebendo tapinhas nas costas. Quando saiu a decisão, se sentou numa cadeira no meio do plenário e deu vários telefonemas. Sua expressão não demonstrava contrariedade.

Repercussão
O presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), disse que uma decisão favorável a Dirceu no Supremo representaria o "início de uma crise institucional". "O STF foi sábio e teve bom senso. Tenho certeza de que não seria diferente, porque qualquer outra decisão representaria o início de uma crise institucional entre os Poderes", afirmou.
Em declarações anteriores, ele havia dito que uma decisão favorável a Dirceu significaria uma interferência indevida do Judiciário em assuntos do Legislativo.
Aliados do ex-ministro afirmaram que a sua situação fica mais complicada agora. Segundo eles, é muito difícil que seja aprovado na CCJ o relatório favorável ao recurso em que Dirceu pede a suspensão do seu processo (leia na pág. A6). Eles dizem ver falhas no parecer de Darci Coelho (PP-TO), além de considerarem muito difícil que um grande número de deputados assuma publicamente um voto que pode dar sobrevida a Dirceu.O presidente eleito do PT, Ricardo Berzoini (SP), e o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), não quiseram comentar a decisão.


Colaborou RANIER BRAGON, da Sucursal de Brasília

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