São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CONEXÃO TUCANA

Mourão assume responsabilidade sozinho pelo esquema do PSDB mineiro de 1998, que era semelhante ao do PT e envolvia Marcos Valério

Caixa 2 tucano pagou Duda, diz ex-tesoureiro

CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Cláudio Mourão, ex-tesoureiro do presidente nacional do PSDB, Eduardo Azeredo (MG), candidato derrotado ao governo de Minas em 1998, confirmou a existência de caixa dois durante a campanha daquele ano. Ele também revelou que o publicitário Duda Mendonça, que trabalhou para Azeredo, recebeu parte dos pagamentos por meio de "recursos não-contabilizados" obtidos por meio de empréstimos de Marcos Valério de Souza. As afirmações foram feitas ontem à CPI dos Correios.
"O serviço do Duda custou R$ 4,5 milhões, mas foram declarados [no Tribunal Regional Eleitoral] somente R$ 700 mil", informou Mourão.
Duda Mendonça não foi localizado. Sua assessoria informou que ele está fazendo campanha na Bolívia. Seu advogado, Tales Oscar Castelo Branco, também foi procurado, mas, até o fechamento desta edição, não foi encontrado.
A exemplo de Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, que assumiu sozinho o ônus da irregularidade e poupou líderes do partido de envolvimento no caixa dois, Mourão afirmou que somente ele tinha conhecimento da prática de "recursos não-contabilizados" para a campanha do tucano.
Segundo Mourão, o pagamento a Duda foi feito em dinheiro, em parcelas que ele não soube especificar. O recurso era entregue à sócia de Duda, Zilmar Fernandes da Silveira, que também recebeu dinheiro de Marcos Valério na campanha do PT de 2002.
O ex-tesoureiro de Azeredo negou, no entanto, que o acerto tenha sido realizado por meio de transferência para contas no exterior. À CPI dos Correios, Duda admitiu que recebeu parte de seu pagamento pela campanha do PT em depósito nas Bahamas.
Mourão disse que era amigo de infância de Azeredo e, entre 1995 e 1998, foi seu secretário de Recursos Humanos e Administração. Em julho de 1998, quando a campanha começou, disse ter tido dificuldade para arrecadar recursos e recorreu a Marcos Valério, que conhecera nos anos 90.
Num primeiro momento, o publicitário obteve cerca de R$ 2 milhões por meio de um empréstimo no Banco Rural, o mesmo que serviria para obter recursos entregues ao PT em 2003. Pouco tempo depois, Marcos Valério fez mais uma transação financeira, no mesmo banco, de aproximadamente R$ 9 milhões, apesar de só ter recebido de Mourão R$ 1 milhão do empréstimo anterior.
O ex-tesoureiro de Azeredo afirmou ainda que adquiriu veículos para a campanha em seu próprio nome e disse que o então candidato não sabia. Ele declarou que tanto os empréstimos de Marcos Valério quanto os carros adquiridos em 1998 não foram pagos e, por causa disso, moveu uma ação contra Azeredo no STF (Supremo Tribunal Federal). A ação foi retirada há três meses, quando veio a público a informação de que Azeredo também tinha utilizado caixa dois na campanha.

PT x PSDB
A sessão foi marcada pela disputa entre PT e PSDB, que tentaram atribuir a culpa pela existência de caixa dois ao adversário.
Os tucanos levaram para a CPI um grupo de sete parlamentares, incluindo líderes, que não costumam aparecer nas sessões normais da comissão.
Na ânsia de defender Azeredo, o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) acabou por complicá-lo. Ele perguntou a Mourão se os empréstimos haviam sido feitos na época da campanha, o que foi confirmado pelo ex-tesoureiro. "O PT está querendo confundir as coisas", disse. "Houve efetivamente caixa dois em 1998 porque não se conseguiu pagar."
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), propôs a criação de uma sub-relatoria para apurar a existência de caixa dois nas campanhas e, para irritação do PT, apresentou um requerimento para que sejam ouvidos tesoureiros do partido nos Estados.
Já o PT tentou mostrar que o PSDB também incorreu em irregularidade ao fazer caixa dois. Irônico, o deputado Carlos Abicalil (PT-MT) disse que Mourão deveria pedir "direito autoral" por ter criado o sistema de empréstimos para financiar campanhas com recursos não-contabilizados.


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