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DIPLOMACIA?
Embaixador em NY, Júlio César Gomes dos Santos diz que imigrantes brasileiros nos EUA não devem se "misturar"
Para cônsul, hispânicos são "cucarachos"
LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK
Em uma reunião de despedida
do Consulado de Nova York, o
embaixador Júlio César Gomes
dos Santos conclamou líderes da
comunidade brasileira da região a
se mobilizarem e "não se misturarem com os cucarachos".
"A maioria dos nossos são ilegais -não para nós, ilegais para
eles [americanos]. Se houver uma
retaliação, é pior para nós. Deixa
os cucarachos lá. Não deixem que
essa mistura aconteça. O "West Side Story" é para eles", disse Santos
anteontem ao comentar a participação brasileira em um protesto
contra a repressão de imigrantes
ilegais em Danbury, Connecticut.
O diplomata foi nomeado para
assumir a Embaixada da Colômbia no mês que vem.
O cônsul insistiu muito na importância de eleger políticos brasileiros para representar a comunidade de cerca de 400 mil brasileiros na região -estima-se em
2,2 milhões os brasileiros legais
ou ilegais nos Estados Unidos.
Segundo ele, os políticos hispânicos estão "tirando proveito" e
"têm horror a brasileiros".
Procurado pela Folha ontem
para explicações sobre sua postura e o uso do termo "cucaracho",
o embaixador inicialmente tentou
intimidar a reportagem. "Se você
reproduzir isso vou dizer que não
foi verdade." A reportagem participou da reunião a convite e se
identificou ao chegar.
Depois, o diplomata confirmou
que usou o termo porque estava
"entre amigos" e queria enfatizar
que os brasileiros são diferentes
dos hispânicos, que são discriminados. "Falei isso de uma maneira
gráfica para mostrar que nós não
temos porque nos identificar com
outras comunidades que não sejam as nossas", disse Santos.
"Eu me referi como se fosse um
americano falando. Gosto de fazer uma diferenciação muito importante: nós não somos hispanos", disse o embaixador, que
prefere a categoria "latino", devido à ascendência portuguesa.
Sobre a manifestação em Danbury, Santos disse que o prefeito é
seu amigo, trata bem a comunidade brasileira, mas, por ser ano
eleitoral, precisou coibir abusos
da população imigrante.
Passado
Em novembro de 95, quando
era chefe do cerimonial do Palácio
do Planalto, no governo Fernando Henrique Cardoso, Santos foi
acusado de tráfico de influência
em favor da empresa norte-americana Raytheon, que disputava
contrato de US$ 1,4 bilhão para
executar o Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia).
A pedido da Polícia Federal, a
Justiça autorizou em 95 a escuta
nos telefones da casa de Santos e
do seu gabinete no Planalto.
As gravações revelaram conversas do embaixador com o dono da
Líder Táxi Aéreo e representante
da empresa americana no Brasil,
José Afonso Assumpção. Santos
sugeria a Assumpção que pagasse
propina ao senador Gilberto Miranda (PFL-AM) - relator do
empréstimo ao Sivam- para
acelerar o andamento do projeto.
A gravação revelou ainda que
Santos viajou de carona em aos
EUA em 1995 num jato de Assumpção. Por causa dessa viagem, a PF chegou a indiciar o embaixador sob acusação de praticar
o crime de exploração de prestígio. A divulgação dos diálogos
provocou a queda do ministro da
Aeronáutica, Mauro Gandra, responsável pela gerência do Sivam.
Até hoje, o projeto do Sivam
não foi totalmente concluído. Ele
deve ficar pronto em julho do ano
que vem, quando deve ter seu nome alterado.
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