São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 2005

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DIPLOMACIA?

Embaixador em NY, Júlio César Gomes dos Santos diz que imigrantes brasileiros nos EUA não devem se "misturar"

Para cônsul, hispânicos são "cucarachos"

LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK

Em uma reunião de despedida do Consulado de Nova York, o embaixador Júlio César Gomes dos Santos conclamou líderes da comunidade brasileira da região a se mobilizarem e "não se misturarem com os cucarachos".
"A maioria dos nossos são ilegais -não para nós, ilegais para eles [americanos]. Se houver uma retaliação, é pior para nós. Deixa os cucarachos lá. Não deixem que essa mistura aconteça. O "West Side Story" é para eles", disse Santos anteontem ao comentar a participação brasileira em um protesto contra a repressão de imigrantes ilegais em Danbury, Connecticut. O diplomata foi nomeado para assumir a Embaixada da Colômbia no mês que vem.
O cônsul insistiu muito na importância de eleger políticos brasileiros para representar a comunidade de cerca de 400 mil brasileiros na região -estima-se em 2,2 milhões os brasileiros legais ou ilegais nos Estados Unidos.
Segundo ele, os políticos hispânicos estão "tirando proveito" e "têm horror a brasileiros".
Procurado pela Folha ontem para explicações sobre sua postura e o uso do termo "cucaracho", o embaixador inicialmente tentou intimidar a reportagem. "Se você reproduzir isso vou dizer que não foi verdade." A reportagem participou da reunião a convite e se identificou ao chegar.
Depois, o diplomata confirmou que usou o termo porque estava "entre amigos" e queria enfatizar que os brasileiros são diferentes dos hispânicos, que são discriminados. "Falei isso de uma maneira gráfica para mostrar que nós não temos porque nos identificar com outras comunidades que não sejam as nossas", disse Santos.
"Eu me referi como se fosse um americano falando. Gosto de fazer uma diferenciação muito importante: nós não somos hispanos", disse o embaixador, que prefere a categoria "latino", devido à ascendência portuguesa.
Sobre a manifestação em Danbury, Santos disse que o prefeito é seu amigo, trata bem a comunidade brasileira, mas, por ser ano eleitoral, precisou coibir abusos da população imigrante.

Passado
Em novembro de 95, quando era chefe do cerimonial do Palácio do Planalto, no governo Fernando Henrique Cardoso, Santos foi acusado de tráfico de influência em favor da empresa norte-americana Raytheon, que disputava contrato de US$ 1,4 bilhão para executar o Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia).
A pedido da Polícia Federal, a Justiça autorizou em 95 a escuta nos telefones da casa de Santos e do seu gabinete no Planalto.
As gravações revelaram conversas do embaixador com o dono da Líder Táxi Aéreo e representante da empresa americana no Brasil, José Afonso Assumpção. Santos sugeria a Assumpção que pagasse propina ao senador Gilberto Miranda (PFL-AM) - relator do empréstimo ao Sivam- para acelerar o andamento do projeto.
A gravação revelou ainda que Santos viajou de carona em aos EUA em 1995 num jato de Assumpção. Por causa dessa viagem, a PF chegou a indiciar o embaixador sob acusação de praticar o crime de exploração de prestígio. A divulgação dos diálogos provocou a queda do ministro da Aeronáutica, Mauro Gandra, responsável pela gerência do Sivam.
Até hoje, o projeto do Sivam não foi totalmente concluído. Ele deve ficar pronto em julho do ano que vem, quando deve ter seu nome alterado.


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