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FHC diz que Lula corre o risco de "jogar no lixo sua história"
BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES
O ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso (PSDB) afirmou ontem que "falta grandeza" ao presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) e repetiu
Leonel Brizola (1922-2004) para dizer que, nesta campanha
eleitoral, o petista deixou o estilo "Lulinha paz e amor" e voltou a ser "um sapo barbudo".
"Ele [Lula] ganhou as eleições com o slogan "Lulinha paz
e amor". Um pouco hippie, né?
Tem um lado dele que é assim.
Mas agora voltou a ser, como
dizia Brizola, um sapo barbudo.
Tomara que seja somente na
campanha", declarou FHC,
considerando a hipótese de que
o presidente seja reeleito.
Em 1989, quando apoiou Lula no segundo turno contra
Fernando Collor, Brizola disse
que, em razão das circunstâncias, teria de "engolir o sapo
barbudo".
Ontem, o ex-presidente tucano disse que "Lula ficou muito
eleitoreiro" e, com isso, corre o
risco de "jogar no lixo sua história". "Lamento que (...) Lula
que sempre foi um símbolo,
que veio do Nordeste, pobre,
operário e chegou à Presidência, tenha se tornado um político qualquer", disse.
"Acho uma pena que ele [Lula] não tenha entendido o papel
dele na história", complementou. "Politicamente, perdeu altura. [Isso] não é mau para ele,
é mau para o país. O país precisa não de um, mas de vários líderes que se contraponham,
mas a partir de uma certa visão
de grandeza. Falta grandeza."
Segundo FHC, na obsessão
de ganhar, Lula está "destroçando seu simbolismo". "Um líder tem sempre de pensar a
longo prazo. Tem de tratar de
não ser somente um ganhador
de eleições."
O tucano também respondeu
às declarações do presidente
durante a sabatina da Folha anteontem. Lula afirmou que
FHC "falou demais como ex-presidente" e que a relação entre os dois, que "sempre foi
muito boa", "ficou truncada".
"Não é que eu falei demais, eu
critiquei demais. Se eu falasse a
favor, estava como o presidente
[José] Sarney, que ele [Lula]
acha que é o xodó dele", disse.
Acrescentou ainda que nunca trocou ofensas pessoais com
Lula, que não o vê "como a encarnação do mal" e que "sempre criticou a política". "Eu não
estou truncando nada. (...)Ele
não gosta do que eu falo, mas
tenho obrigação de dizer o que
penso. Não vou abdicar de ter
opinião", disse. "Tenho obrigação de dizer o que eu penso e
não tenho obrigação de agradar
o presidente Lula."
De acordo com FHC, em vez
de dialogar, o governo petista
transformou o PSDB em "inimigo, não em adversário" e que,
Lula se aliou "aos setores mais
atrasados". Antes, havia dito
que, no Brasil, "setores que se
chamam de esquerda são conservadores e não sabem". Questionado se acreditava que era
mais de esquerda do que Lula,
disse que, "em algumas questões", as posições do petista são
mais conservadoras que as
suas.
No caso de vitória de Lula,
FHC disse não acreditar em
reações extremadas para tirá-lo do poder. "Nós [do PSDB]
não somos golpistas", afirmou.
"Sou um democrata. Se ganha
Lula, Lula será o presidente. Se
ele cometeu erros, a Justiça julgará."
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