|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Nossa parte já foi feita", afirma Arruda Sampaio
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
Ao dizer que "se sentiria mal"
caso o governo federal não utilize
seu projeto como base do novo
PNRA (Plano Nacional de Reforma Agrária), o economista e ex-deputado federal petista Plínio de
Arruda Sampaio, 73, afirmou ontem que o assentamento de 1 milhão de famílias até 2006 "é necessário para alterar a estrutura fundiária do país". Ele disse também
que, com a entrega do projeto ao
governo, "nossa parte já foi feita".
Em sua primeira entrevista na
qual deu detalhes sobre o documento que coordenou ao lado de
oito professores e dezenas de técnicos, Arruda Sampaio aproveitou para criticar a política econômica. "Tem de reduzir o superávit
primário [de 4,25% do PIB em
2004], fazer investimento na infra-estrutura, que está sucateada,
e investir mais no social."
Hoje, em conferência organizada por movimentos de sem-terra,
em Brasília, o ex-deputado dará
detalhes do anteprojeto do PNRA
que entregou ao ministro Miguel
Rossetto (Desenvolvimento
Agrário) em 15 de outubro.
A intenção do petista é se desvincular publicamente do plano
oficial do governo federal, com
meta de 355 mil famílias assentadas até 2006. "Não há rompimento, e sim autonomia. O que precisa ficar claro é que a nossa parte já
foi feita. [O projeto] está nas mãos
do governo."
O ministério ainda não informou se o documento de Arruda
Sampaio baseará ou não o plano
oficial de reforma agrária do governo. "É óbvio que me sentiria
mal [se a base não for utilizada].
Entreguei ao ministro um plano
que é contra o latifúndio. E a
Constituição manda combater o
latifúndio", disse o petista.
Arruda Sampaio quer manter
um bom relacionamento com o
governo, pois foi indicado para a
função pelo próprio Lula, e com
os movimentos sociais, com os
quais possui relações históricas.
O anteprojeto, elaborado de julho a outubro a pedido do governo federal, define o assentamento
de 1 milhão de famílias até 2006, a
criação de uma legislação para devolver imediatamente à União todas as áreas griladas do país e a alteração dos critérios de produtividade, entre outros pontos que
priorizam a obtenção de terra por
meio da desapropriação.
Ao contrário do que indicam as
metas do plano ministerial, o anteprojeto do economista descarta
a priorização de programas de
crédito fundiário. Segundo Rossetto, a meta é atender 150 mil famílias dessa forma até 2006.
Num eventual aproveitamento
de seu projeto no PNRA, o ex-deputado disse não temer uma reação negativa dos fazendeiros. "É
uma falácia dizer que vai assustar
o produtor, como se ele fosse deixar de produzir. Vai assustar o
produtor, sim, mas porque ele saberá que terá de produzir mais
para não deixar sua terra ociosa e
sujeita à desapropriação."
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) começa a distribuir hoje em todo o
país cópias do anteprojeto coordenado por Arruda Sampaio. Deputados do núcleo agrário do PT
devem adotar a mesma tática.
(EDUARDO SCOLESE)
Texto Anterior: "Médico não ouviu amputado", diz ruralista Próximo Texto: Planalto troca audiência com Lula por trégua Índice
|