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QUESTÃO AGRÁRIA
Acordo com cúpula do MST visa evitar invasão de prédios públicos durante a marcha dos sem-terra a Brasília
Planalto troca audiência com Lula por trégua
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Palácio do Planalto e a cúpula
do MST fizeram um acordo para
evitar invasões de prédios públicos nesta semana, quando trabalhadores rurais sem-terra chegaram em marcha a Brasília.
Pelo acordo, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva receberá, provavelmente amanhã, um grupo
dos sem-terra, desde que cumprida a promessa de civilidade no
protesto. Se houver invasão ou
avaria a prédio público, Lula avisou que cancelará a audiência.
Há cerca de 2.000 sem-terra
acampados em Brasília desde anteontem, quando chegaram as
primeiras levas de trabalhadores
que vieram protestar na marcha
organizada pelo Fórum Nacional
pela Reforma Agrária e Justiça no
Campo.
Esse fórum, composto por diversas entidades, é liderado pelo
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), Contag
(Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) e CPT
(Comissão Pastoral da Terra).
A Folha apurou que o acordo
para evitar invasão ou dano a prédio público foi negociado diretamente com o MST, movimento
com método de ação tradicionalmente mais radical do que a Contag e a CPT -esta uma entidade
da Igreja Católica.
A negociação foi conduzida pela
Casa Civil, chefiada pelo ministro
José Dirceu, e pelo Gabinete da
Segurança Institucional, comandado pelo general Jorge Armando
Félix. Os dois ministérios, lotados
no Palácio do Planalto, desejam
evitar a imagem de desordem e de
eventual descontrole sobre os
movimentos sociais.
Em troca, foi oferecida a audiência com Lula e um pacote de
atenção política, com encontros
com ministros e dirigentes petistas, para facilitar a negociação da
reforma agrária com o governo.
Lula foi informado da negociação, que obedece à sua estratégia
de manter boas relações com o
MST. O presidente avalia que não
tem como controlar o movimento, hoje muito dividido e com lideranças regionais capazes de organizar invasões sem autorização
da cúpula nacional do MST.
Daí, a estratégia que explica a
atenção que os ministros Miguel
Rossetto (Desenvolvimento
Agrário) e Luiz Dulci (Secretaria
Geral) têm dedicado ao MST,
bem como as missões de paz do
presidente do PT, José Genoino.
Eleições à vista
Os moderados do PT, que somam 70% do partido e que são a
base de Lula para controlar os
próprios radicais petistas, têm reclamado em reuniões internas da
legenda da relação do governo
com os movimentos sociais de
modo geral e com o MST de forma particular.
Para os moderados do PT, uma
boa relação com os movimentos
sociais ajudará o partido a ter melhor desempenho nas eleições
municipais de 2004.
Apesar de a retórica pública ser
dura da parte do MST e de setores
da Igreja Católica, que julgam "ridícula" e decepcionante as metas
do novo Plano Nacional de Reforma Agrária, há margem para entendimento com o governo.
A Folha apurou que o MST, a
Contag e a CPT avaliam que a melhor estratégia é pressionar Lula
sem forte radicalização no campo, apesar de alguns movimentos
mais radicais fugirem ao controle
dessas entidades.
Na opinião de MST, Contag e
CPT, se a reforma agrária está
ruim com Lula, seria pior sem ele.
No governo FHC, por exemplo, a
atitude delas era muito mais dura,
apesar de o ritmo de assentamentos da gestão Lula decepcionar
MST, Contag e CPT. Em maio,
Lula prometeu assentar 60 mil famílias sem terra neste ano. O próprio ministro Miguel Rossetto já
admitiu dificuldade para atingir
30 mil famílias.
Segurança reforçada
Apesar do acordo para tentar
evitar invasões, a segurança dos
ministérios do Desenvolvimento
Agrário e da Fazenda foram reforçadas. O ministro da Fazenda,
Antonio Palocci Filho, por exemplo, passou a maior parte do dia
de anteontem despachando no
Palácio do Planalto.
Quando teve de ir ao prédio da
Fazenda, Palocci usou uma entrada secundária. Motivo: bem em
frente à portaria principal havia
uma aglomeração de trabalhadores rurais, e o ministro achou prudente não correr o risco de ser parado no meio do caminho.
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