São Paulo, domingo, 20 de novembro de 2005

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Indecisão de Lula sobre ministros provoca desconfiança no mercado

LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK

Em meio à turbulência política em período pré-eleitoral, a atitude ambígua do presidente Luiz Inácio Lula da Silva perante as divergências entre os ministros Antonio Palocci (Fazenda) e Dilma Rousseff (Casa Civil) sinaliza a investidores que o país pode não estar comprometido com uma política de austeridade fiscal e pode deixar os mercados nervosos.
Embora analistas financeiros comecem a "despersonificar" a política econômica da figura de Palocci, o que reduz temores com a possibilidade de sua saída do governo, teme-se que o governo não esteja comprometido com uma política de corte de despesas de médio prazo.
O debate interno do governo tem sido acompanhado de perto por investidores estrangeiros, depois que Dilma classificou de rudimentares os esforços para eliminar o déficit orçamentário. Eles esperavam um apoio mais forte a Palocci por parte de Lula. Ao contrário do que ele disse em entrevista na sexta, essa divergência não é considerada saudável.
"O presidente deu apoio a Palocci, mas ficou aquém do requerido pela gravidade dos fatos. O risco dessa divergência no governo é jogar fora a boa maré. A conseqüência da falta de convicção do presidente Lula é um crescimento menor", disse Paulo Leme, do banco Goldman Sachs.
"A mensagem que se capta é que um certo abrandamento da política fiscal poderia ter excelentes resultados, uma receita tentadora para eleições mais fáceis. Mas essa sutil percepção começa a arrancar a armadura de credibilidade do Brasil", completou.
Analistas de agências de risco têm muito mais cautela nesse sentido e consideram que a turbulência é momentânea, ligada ao cenário político. Porém, cobram sinais mais fortes de continuidade na austeridade fiscal, conforme projeto de Palocci para cortes de despesas correntes.

Cautela
Sem descartar reações de mercado, as agências Standard&Poors e Fitch avaliam que a notas de risco do Brasil dependem mais da execução das políticas que as especulações atuais.
"Mudanças no rumo da política econômica, como uma redução do superávit primário não seria um bom sinal. Mas acho que seria o caso de esperar para ver quem entraria se Palocci sair e o que mudaria. Nossa análise não seria muito reativa ou precoce", disse Roger Scher, diretor da Fitch.
Para Lisa Schineller, diretora Standard & Poor's, diferenças de opinião sempre existiram, dentro do PT e da base aliada, mas o compromisso com a prudência fiscal tem sido mantido.
"Não vou descartar um mercado nervoso, mas nossa avaliação desconsidera a volatilidade momentânea, precisamos ver além da turbulência", completou.
Os analistas, defendem, como Palocci, cortar despesas e "aumentar a qualidade" dos gastos como forma reduzir a vulnerabilidade, diminuir os juros e propiciar o crescimento sem inflação. Oponentes de Palocci, como a própria ministra Dilma Rousseff, querem aumento de gastos nas áreas social e de infra-estrutura para elevar o crescimento do país.


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